Assista à entrevista :

IstoE_Wahba_255.jpg

 

 

01.jpg
SEM ROTINA
Wahba: horas de câmera em punho na
mesma posição, à espera dos animais

Foi o francês Jacques Yves-Cousteau quem, na década de 1940, ajudou a criar o aqualung, equipamento que tornou possível o mergulho autônomo. O invento contribuiu para transformá-lo em celebridade mundial por conta das dezenas de documentários sobre a vida submarina que produziu. Cousteau morreu em 1997 e deixou um legado importante para as novas gerações. “Quando criança, eu sabia de cor duas coisas: a escalação do meu time de futebol e a da equipe do Cousteau”, conta o documentarista brasileiro Lawrence Wahba, que decidiu seguir a trilha do “grande mestre”, como se refere ao francês. Em 2012, Wahba comemora 20 anos de carreira com o lançamento, em 15 de setembro, de uma série inédita no canal a cabo NatGeo, “Reino Animal: Diários de Lawrence Wahba”. O que marcou o início da sua carreira, segundo ele, foi uma expedição pelas três Américas com amigos, na qual produziu imagens e as cedeu para emissoras de televisão para divulgação dos patrocinadores. “Para mim, não passava de uma viagem sem custos”, diverte-se Wahba.

A brincadeira ficou séria em 1995, quando ele vendeu o carro e pegou empréstimos para uma volta ao mundo com o objetivo de documentar tubarões em todos os oceanos. Viajou por cinco meses sozinho e voltou com imagens de mais de 40 espécies. “Uma semana depois da chegada, o documentário estava vendido e todas as despesas que tive foram cobertas. Foi quando percebi que poderia viver daquilo”, diz. Desde então, Wahba dedicou a vida a registrar imagens do mundo selvagem em todos os continentes. Já filmou animais raros, como os cães selvagens africanos, e ganhou prêmios em importantes festivais, como o Antibes, mais reconhecida premiação de imagens subaquáticas do mundo.

Wahba dedicou quase nove dos últimos 20 anos a viagens. Um trabalho dos sonhos para muita gente. “Mas a maioria não aguentaria nem um dia da minha vida”, acredita o documentarista, que já passou dez dias em alto-mar em busca da baleia-franca, sem acesso a nenhum meio de comunicação, com constante cheiro de peixe podre, vestido o tempo todo com roupa de mergulho, à espera do animal sob o calor extremo. “Nas viagens, acordo às 4 horas para começar a arrumar os equipamentos e trabalho até tarde da noite. Às vezes são horas na mesma posição, em silêncio, aguardando um animal”, conta. Isso, claro, sem contar as adversidades do clima, os mosquitos, os perigos da vida selvagem. Motivação para continuar, contudo, não lhe falta. “Quero despertar nas pessoas o desejo de proteger esses lugares e esses animais extraordinários”, resume.

02.jpg

Fotos: Cristian Dimitrius e Marcelo Skaf