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CORAGEM
A ex-modelo Carla Bruni foi elogiada no mundo ocidental
e “apedrejada” no Irã por defender condenada à morte

Carla Bruni, 43 anos, é a primeira-dama francesa e uma das mulheres mais admiradas do planeta. Antes de se casar com o presidente Nicolas Sarkozy, fazia sucesso internacional como cantora e modelo de rara beleza.

Sakineh Mohammadi Ashitiani, 43 anos, é uma iraniana e também conhecida mundialmente – por uma única fotografia. Presa há cinco anos no presídio de Tabriz, no Irã, ela espera a execução da sentença de morte a que foi condenada. O que une histórias tão distintas? Ambas foram vítimas de barbaridades perpetradas pelo presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad. Sakineh recebeu a pena do apedrejamento público por supostamente ter mantido uma relação amorosa fora do casamento. Carla recebeu um rosário de xingamentos de um jornal estatal do Irã simplesmente porque saiu em defesa de Sakineh – num certo sentido, Ahmadinejad, o homem por trás das ofensas, arremessou pedras verbais contra a primeira-dama da França.

Na edição de 28 de agosto, o jornal “Kayan” reproduziu em suas páginas o pedido de Carla para que a execução da iraniana fosse cancelada. Em um dos trechos de sua carta, a primeira-dama escreveu que o Irã não poderia “lavar suas mãos do crime” e acrescentou que seu marido iria “defender o caso com afinco e que a França não vai abandoná-la”. A iniciativa repercutiu positivamente no mundo ocidental, mas revoltou os líderes iranianos. Detalhe sórdido da história: o diário “Kayan” publicou o apelo da primeira-dama sob o título “Prostitutas francesas entram no tema dos direitos humanos.” Na terça-feira 31, o jornal, cujo editor-chefe é nomeado pelo líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, reiterou suas críticas e pesou ainda mais a mão. “Analisando o histórico de Carla Bruni, vemos claramente os motivos pelos quais uma mulher imoral estaria defendendo uma iraniana condenada à morte por adultério e por ser cúmplice do assassinato de seu marido e, de fato, ela mesma merece morrer”, sentenciou a publicação.

Sakineh, a vítima iraniana, é mãe de dois filhos e recebeu 99 chicotadas por ter mantido relações “ilícitas” com dois homens há cinco anos. Todos os anos, dezenas de mulheres iranianas são condenadas e punidas com chibatadas, apedrejamento e outras penas desumanas. Há três semanas, com o corpo coberto por andrajos (inclusive o rosto), segurando um papel entre as mãos e com uma voz assustadoramente vacilante, Sakineh apareceu em uma tevê estatal iraniana para dizer que tinha, sim, conspirado para matar seu marido. Seu advogado, Mohammad Mostafaie, afirmou que o programa era uma farsa e que ela teria sido coagida a confessar. Temendo retaliações após a declaração, ele fugiu para a Noruega.

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A opinião pública internacional, comovida pelo horror da situação, espera a revisão do bárbaro veredicto. Entidades de defesa dos direitos humanos se manifestaram, o que de certa forma deu resultado. O apedrejamento já foi cancelado três vezes. Até o governo brasileiro, que mantém boas relações com Ahmadinejad, ofereceu asilo à iraniana, mas a oferta foi recusada. A França é o país europeu de melhor relação diplomática com o Irã. Em 1964, os franceses concederam asilo político ao aiatolá Ruhollah Komeini, que mais tarde retornaria ao seu país para se tornar o primeiro líder supremo da República Islâmica do Irã. A repercussão glo­bal do caso de Sakineh aparece como uma chance para que as autoridades do Irã revejam suas leis. Infelizmente, ofensas como as disparadas contra Carla Bruni indicam que isso está muito longe de acontecer.


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