Dos municípios fluminenses onde vai haver segundo turno, Campos dos Goytacazes (RJ) é a cidade onde a temperatura está mais quente. Não só por causa do patrimônio eleitoral de 300 mil eleitores ou do polpudo orçamento da prefeitura, que beira R$ 1 bilhão. O calor eleitoral provoca uma sucessão de denúncias que estão sacudindo a disputa entre Geraldo Pudim (PMDB) – apoiado pela governadora Rosinha Matheus e por Anthony Garotinho – e Carlos Campista (PDT) – apoiado pelo atual prefeito, Arnaldo Vianna. As denúncias têm como alvo o candidato pedetista, que atuou como advogado de trabalhadores rurais que cobravam uma diferença em dinheiro devida pelo INSS. Segundo vários aposentados, depois de ganhar a causa, Campista não teria repassado o dinheiro pago pela Previdência aos idosos que eram os verdadeiros beneficiários.

Não se sabe exatamente o número de aposentados cujo dinheiro teria sido
desviado por Campista. “Ele deu um golpe em milhares de aposentados e pensionistas. Tem mais de 30 mil ludibriados”, acusa o ex-governador Garotinho. Na época, Campista chegou a enviar a vários idosos uma carta informando que tinham ganho a causa, mas muitos deles sustentam que nunca receberam um centavo. O aposentado Thiers Cruz, 77 anos, é um dos que deram a procuração e não viram a cor do dinheiro. “Fui várias vezes cobrar e ele nunca pagou. Já perdi as esperanças de receber.” Alguns morreram sem receber nada. “Meu pai ficou esperando mais de um ano, depois que veio a notícia de que a causa estava ganha. Morreu há nove anos sem receber nada”, reclama Décio de Souza, filho do agricultor Valdemiro de Souza, que faleceu aos 88 anos. “Existem muitos na mesma situação. Alguns receberam uma parte, R$ 300, R$ 500, R$ 1.400, outros dinheiro nenhum.” Francisca Moreira de Souza, 81 anos, também reclama: “Minha irmã pagou R$ 50 ao Campista e nunca recebeu a indenização. Na época, ela ficou muito triste, mas agora até já esqueceu.” Francisca diz que Ladi é viúva, está doente e mora sozinha. Em alguns casos, vários integrantes de uma mesma família continuam esperando em vão a liberação do dinheiro. Foi assim com Joel Barbosa, 86 anos, que não recebeu seu benefício. Sua sogra e seu cunhado, também não. “Campista disse que ia resolver e eu estou esperando até hoje. Aqui onde moro, no distrito de São Sebastião, vários não receberam. Trabalhei 69 anos para receber meu benefício e não consigo, isso é brincar com os velhos.” O candidato do PDT à prefeitura se defende: “Isso tudo é mentira, tanto assim que não houve nenhuma reclamação na Justiça.”

O prefeito Arnaldo Vianna também está às voltas com denúncias contra sua administração. Um processo iniciado há um ano e meio, em que a prefeitura é acusada de superfaturamento na contratação de artistas que se apresentaram na cidade, motivou a cassação de Vianna do cargo. O julgamento da liminar acabou suspenso pelo advogado do prefeito, William Fagundes, o que reverteu o afastamento do prefeito. “Não cometi irregularidade nenhuma”, afirmou. O processo revela que artistas receberam por seus shows menos do que o declarado pela prefeitura. A cantora baiana Gil, por exemplo, diz ter recebido cachê de R$ 90 mil e o governo municipal informa que o pagamento pela apresentação chegou a R$ 161 mil. Além disso, Vianna sofreu um revés na Justiça por conta de uma ação movida pelo Ministério Público, que denuncia superfaturamento nas obras realizadas em quatro praças da cidade, orçadas em R$ 46 milhões. Por decisão do juiz da 4ª Vara Cível, Geraldo da Silva Batista Júnior, o pagamento deverá ser feito em juízo.

O prefeito Arnaldo Vianna também foi condenado pelo Tribunal de Contas do Estado a devolver R$ 3 milhões referentes a obras que não foram realizadas. Por outra condenação terá que devolver R$ 1,8 milhão que investiu no desfile da escola de samba Imperatriz Leopoldinense, que, no Carnaval de 2002, exaltou a cidade de Campos. Além disso, ainda não enviou ao TCE a prestação de contas de 2003. “Será que está todo mundo errado e só ele é que está certo?”, questionou Garotinho, que foi prefeito da cidade.

Falsificação – As encrencas do prefeito continuam. O delegado titular da Delegacia de Defraudações, Pedro Paulo Abreu, responsável pelo inquérito aberto a pedido do Ministério Público de Campos, que apura a autoria e participações no caso da falsificação das autenticações bancárias em Guias de Recolhimento de Impostos Municipais (GREDs), indiciou o prefeito Arnaldo Vianna e o ex-secretário de Fazenda Nilo Machado Graciosa. Segundo o delegado, a perícia comprovou inúmeras falsificações em documentos de arrecadação de impostos municipais.

O prefeito e seu candidato também atacam. Pediram à Justiça Eleitoral a cassação do registro de Geraldo Pudim, alegando que sua candidatura foi objeto de propaganda ilegal no programa de rádio que Garotinho e Rosinha apresentam na Rádio Tupi. Também criticam a distribuição de Cheques Cidadão (um programa do governo estadual que distribui benefício pecuniário a famílias carentes), o recadastramento de candidatos ao programa Morar Feliz, que oferece moradias populares pelo aluguel de R$ 1 e a distribuição de kits escolares. “São todos programas sociais do governo do Estado. É como se eu pedisse a cassação do prefeito Arnaldo Vianna por causa dos 30 mil vales-compra que ele distribuiu às vésperas do primeiro turno,” rebate Geraldo Pudim. Para compensar o apoio que Garotinho e Rosinha dão a Pudim, Campista conta com a ajuda da ex-ministra Benedita da Silva, que foi à cidade fazer campanha na quarta-feira 20.

O clima na cidade está tão intenso que em alguns comícios, realizados no primeiro turno, os ânimos se acirraram a ponto de cabos eleitorais chegaram a trocar socos. No segundo tempo da campanha, até agora não houve registros de incidentes. De qualquer forma, fiscais eleitorais das duas coligações estão a postos e dedicam atenção especial à propaganda eleitoral dos candidatos.  Tudo indica que nestes últimos dias de campanha em Campos dos Goytacazes os fiscais terão muito trabalho.