O deputado Luiz Antônio Medeiros (PL-SP) está no centro de uma troca de denúncias com o chinês Law Kin Chong, apontado pela Polícia Federal como o maior contrabandista do país. Medeiros, que presidiu a CPI da Pirataria, acusa Law de chantageá-lo e Law rebate denunciando Medeiros por extorsão. A troca de tiros nesta fita de faroeste, sob investigação da Polícia Federal, pode ganhar componentes explosivos. Na última semana, estacionou nos mais ilustres gabinetes de Brasília uma acusação que promete aditivar a polêmica em torno de Medeiros em outro ramo, o de combustíveis. Um atravessador de solvente de Paulínia (SP) resolveu entregar velhos amigos da quadrilha de fraudadores de gasolina. Sua denúncia diz que o ex-líder sindical pode estar impuro como a gasolina de muitos tanques. Glauco Lepiane de Oliveira atuava no baixo clero da máfia, comprando e revendendo solventes e querosene para adulteração de gasolina. Segundo ele, um calote de R$ 400 mil dado por um fabricante de combustível batizado da região acabou quebrando seu negócio ilegal. Depois do tombo, em fevereiro de 2004, Glauco de Oliveira foi ao Departamento de Investigações contra o Crime Organizado (Deic/SP) para denunciar a quadrilha da região de Paulínia. De acordo com o relato de Glauco, ele conversou com o policial Carlos Eduardo, conhecido como Sami. “Ele me disse que não poderia fazer nada porque dois delegados do Deic tinham postos de combustíveis.” Glauco relata que Sami contatou o policial rodoviário Antônio Fernando de Miranda, à época, assessor do presidente da CPI da Pirataria, Luiz Antônio Medeiros. A intenção era investigar os piratas da bomba e levá-los à CPI. “Na primeira reunião, lá no Deic, o Fernando, sem saber que eu não era policial, disse que o deputado Medeiros teria tomado R$ 3 milhões para aliviar o ‘Major’ na CPI e que ele não tinha levado porra nenhuma.” Major é o apelido de Dirceu Antônio de Oliveira, dono da Golfo Distribuidora. “O Fernando montava dossiês, grampeava, filmava e fotografava para extorquir empresários em nome de Medeiros para eles não irem para o relatório da CPI”, afirma Glauco. A acusação consta de um depoimento do ex-vendedor de solvente ao Deic em junho deste ano. “Eu pedi para constar no depoimento que o Sami também ouviu sobre os R$ 3 milhões, mas eles não colocaram”, diz. “Até hoje nenhuma providência foi tomada”, cobra o advogado de Glauco, Cezar Rodrigues.

Glauco e seu advogado montaram um detalhado dossiê que foi enviado ao Ministério Público Federal. O documento conta ainda que o assessor de Medeiros, Antônio Fernando, lhe entregou US$ 100 para que ele comprasse lacres de bombas de combustível no mercado negro para substituir os originais, controlados pelo Inmetro. Os lacres falsos serviriam para maquiar a adulteração nos medidores das bombas. O atravessador contou ainda que foi chamado novamente ao Deic e viu o dossiê entregue ao MP nas mãos de agentes da delegacia paulista. Glauco, que diz estar ameaçado de morte, contou sua história à juíza corregedora Ivana David Boriero, que abriu uma investigação para apurar o envolvimento de policiais. O deputado Luiz Antônio Medeiros rebate: “Não conheço esse Glauco nem sei quem é Major. Isso é uma armação do Law. O advogado é o mesmo do Law e do Lobão (Eleutério da Silva, contrabandista de cigarros).” Cezar Rodrigues contra-ataca: “Nunca fui advogado de nenhum dos dois. Ele meteu a mão na grana e não tem moral para falar de ninguém.” Glauco também: “O deputado está mentindo. Estive muitas vezes no escritório dele.” O pivô do negócio, Antônio Fernando, confirmou que conhece Glauco, mas desmentiu a versão sobre os R$ 3 milhões: “Isso é um absurdo. Quem acusa tem o ônus da prova. Quando for chamado para depor vou mostrar como ele é mal-intencionado.”

Grampo federal – Não é a primeira vez que um parlamentar é relacionado à máfia dos combustíveis. O deputado André Luiz (PMDB-RJ), denunciado por tentar extorquir R$ 4 milhões do bicheiro Carlinhos Cachoeira – aquele que pagou propinas para Waldomiro Diniz e campanhas do PT –, caiu nos grampos da Polícia Federal na Operação Ouro Negro, que investiga a maior fraude fiscal do País no ramo petrolífero. O deputado foi flagrado em uma conversa com o empresário carioca Amadeu Carvalho, representante de várias distribuidoras de combustíveis. No grampo, registrado dias antes do depoimento de um diretor da BR Distribuidora na CPI dos Combustíveis, Amadeu manda o deputado fazer sete perguntas ao executivo. Curiosamente, logo no início dos trabalhos da comissão, André Luiz apresentou um requerimento para convocar Amadeu. Dias depois, retirou-o sem maiores explicações e ainda ficou irritado quando pedido idêntico foi feito pelo deputado Luciano Zica (PT-SP).

Sorteio – A CPI se encerrou com um relatório pífio e bombardeada por denúncias de extorsão. Mencionando condutas suspeitas, Zica sugeriu que integrantes de CPIs passassem a ser definidos por sorteio em vez de indicados pelas lideranças. No último dia de funcionamento da CPI, o deputado Paulo Lima (PMDB-SP), que chegou a ter duas sociedades com o Major Dirceu no ramo de combustíveis, anunciou ter provas de que dez parlamentares haviam achacado empresas para livrá-las da citação no relatório final. Os dois foram interrogados pelo corregedor-geral da Câmara, Luiz Piauhylino (PSDB-PE). Zica disse que foi mal interpretado e Lima, que não queria retomar o assunto, já que a CPI não teria se interessado em apurar suas revelações. Sem mostrar desconforto, a corregedoria acolheu as evasivas e o presidente da Câmara, João Paulo Cunha, mandou arquivar o assunto. Na última semana os dois voltaram à tecla, o que deixou João Paulo furioso. Agora, além do caso de André Luiz, ele quer uma apuração exemplar das denúncias de Zica e Lima. Se roerem a corda, poderão ser punidos. Outras denúncias de achaque se perderam nos corredores do Congresso. O governador do Paraná, Roberto Requião, denunciou ter ouvido um relato nesse sentido da boca de um empresário paulista, que teria sido chantageado por deputados paranaenses integrantes da mesma CPI.


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