O pior não são os autores (Espaço Cultural Instituto Cervantes, São Paulo) – Feitas desde os anos 1960, as 80 fotos do argentino Mario Muchnik focalizam, em sua maior parte, escritores de língua espanhola. Editor radicado na Espanha, Muchnik foi amigo de muitos dos retratados, caso do conterrâneo Julio Cortázar, que surge numa foto bem de acordo com seu estilo fantástico. Também portenho, Jorge Luis Borges foi clicado diante de uma parede de livros. Outros retratados são os também argentinos Ernesto Sábato, Adolfo Bioy Casares e Tomás Eloy Martinez, o mexicano Carlos Fuentes, o colombiano Gabriel García Márquez, o peruano Mario Vargas Llosa e o italiano de origem cubana Italo Calvino. Munido apenas de sua Leica, sem nenhuma iluminação ou artificialismo Muchnik capta um pouco do autor, que, pelos livros, apenas se entrevê. (Ivan Claudio).

DVD

Dona Flor e seus dois maridos (Coleção Brasil/Paramount) – Recordista de público do cinema brasileiro, com 12 milhões de espectadores, a comédia de Bruno Barreto, de 1976, testa a sua longevidade em formato digital, aos olhos de uma geração que nem sequer era nascida quando Sonia Braga encantou o País na pele morena de Dona Flor. Professora de culinária, a baiana casa-se com o farmacêutico Teodoro (Mauro Mendonça), depois de ficar viúva do mulherengo Vadinho (José Wilker), morto de bebedeira numa manhã de Carnaval. Com o upgrade tecnológico pós-retomada, a dublagem e os diálogos soam pouco naturais. Mas Bruno Barreto, na época com apenas 21 anos, consegue ser fiel ao espírito de Jorge Amado, que vê em Vadinho, filho de Exu, a força do desregramento e da liberdade. (Ivan Claudio).

Discos

Delivery man, com Elvis Costello (Universal) – Roqueiro eclético, tendo se aventurado pelo crossover pop-erudito em parceria com a mezzo soprano Anne Sophie von Otter, e pela canção sofisticada ao lado do pianista Burt Bacharah, Costello faz de seu 21º trabalho o seu melhor disco de rock em anos. A volta às origens, contudo, se dá pelo viés do blues e do country, em companhia de vozes célebres do gênero, como Lucinda Williams em There is a story in your voice e Emmylou Harris em Nothing clings like Ivy e Heart shaped bruise. Concebido como um disco conceitual, voltado para o som do sul dos Estados Unidos, Delivery man traz na faixa-título um country blues sobre um cara que matou o melhor amigo e abre espaço para o som dos derrotados em Country darkness, uma balada caipira de arrepiar. (Ivan Claudio).

Cinema

Sob o domínio do mal (em cartaz nacional na sexta-feira 12) – As tenebrosas ligações entre política e dinheiro foram exacerbadas no thriller de Jonathan  Demme, que mostra uma empresa patrocinadora da colocação de chips no  cérebro de todo um pelotão de soldados americanos em luta no deserto do Kuwait. O objetivo é fazer um deles herói de guerra e, ato contínuo, presidente dos Estados Unidos. Demme centra fogo no comprometimento de políticos com forças corporativistas e constrói um assustador painel do que pode ser o futuro. Na versão de 1962, Frank Sinatra fazia o major Benett Marco, que na nova produção coube a Denzel Washington. O elenco conta também com Meryl Streep, Liev Schreiber e um rechonchudo Jon Voight. (Eliane Lobato)