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PESQUISA
Rehen estuda as células no Brasil

Depois de 12 anos sendo estudadas em laboratório, onde tiveram comprovada sua capacidade de gerar qualquer tipo de tecido do corpo, as células-tronco retiradas de embriões começam finalmente a ser testadas em seres humanos. O primeiro sinal verde foi dado pela agência americana Food and Drug Administration, o FDA. O órgão liberou a realização, nos Estados Unidos, de um experimento envolvendo dez pacientes portadores de lesão medular. O objetivo é avaliar a segurança e a eficácia de uma terapia desenvolvida a partir deste tipo de célula-tronco na recuperação de movimentos e de sensibilidade. O estudo, que será coordenado pela empresa Geron Corporation e pela Universidade da Califórnia, deve começar em um mês (leia mais detalhes no quadro).

A aprovação do primeiro ensaio clínico do mundo usando células-tronco embrionárias foi comemorada pela comunidade científica como um divisor de águas. Até agora, o que havia em teste eram somente os tratamentos feitos a partir das células-tronco adultas, retiradas de alguns locais do corpo, como a medula óssea e o cordão umbilical. Essas células também dão origem a outras, mas sua versatilidade é limitada, ao contrário da apresentada pelas extraídas de embriões. Por essa razão, é sobre as embrionárias que repousa boa parte das esperanças depositadas no poder das células-tronco. Em princípio, elas podem ser a matéria-prima ideal para a criação de uma gama enorme de outras células – de neurônios às células do músculo cardíaco, por exemplo – a ser usadas para repor as que foram lesadas por alguma enfermidade.

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O problema é que até recentemente até mesmo os trabalhos in vitro e em cobaias envolvendo as embrionárias eram alvo de polêmica, o que acabou atrasando as pesquisas. O ponto principal da discussão é o fato de as células serem extraídas de embriões descartados por clínicas de reprodução assistida. Muita gente é contrária a isso, principalmente por questões religiosas. Por causa da resistência, os cientistas estão inclusive buscando outras formas de obtenção de células com as mesmas características das embrionárias. “É possível fazer a reprogramação de outras células, como as tiradas da pele, para que se comportem como as extraídas de embriões”, explica Ricardo dos Santos, da Fiocruz, de Salvador. Mas esses estudos, especificamente, ainda se encontram em estágios preliminares.

Daqui para a frente, porém, a tendência é multiplicarem-se as pesquisas em humanos. A Advanced Cell Technology, por exemplo, anunciou que acabou de enviar ao FDA um pedido de autorização para realizar outro estudo clínico. A empresa quer testar em pacientes um tratamento com embrionárias para restaurar a visão em portadores da distrofia macular de Stargardt, doença que leva à cegueira. “Estamos confiantes. Os testes em animais deram bons resultados”, disse à ISTOÉ William Caldwell, presidente da empresa. Outra que se prepara para a etapa de avaliação em humanos é a ViaCyte (EUA). A companhia está desenvolvendo um tratamento para diabetes e planeja começar os ensaios clínicos em três anos.

No Brasil, esta fase encontra-se mais distante. Por enquanto, parte dos pesquisadores estuda aspectos mais básicos, como as características das embrionárias. Voltados efetivamente para a criação de linhagens a ser utilizadas em testes clínicos estão apenas os cientistas do Laboratório Nacional de Células-Tronco Embrionárias – uma parceria entre a Universidade Federal do Rio de Janeiro e a Universidade de São Paulo. “Essas células precisam ter um nível de qualidade diferente das que são usadas nos estudos em laboratório”, explica Stevens Rehen, da UFRJ. “Criamos duas linhagens e seguimos trabalhando para desenvolver outras”, diz Lygia da Veiga, da USP.

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