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Discretamente, se é que isso é possível, os zepelins estão voltando aos céus do mundo. Depois de décadas na obscuridade, esses fabulosos aparelhos estão alçando vôo, ancorados em novos projetos, com características dos modelos originais, mas possuindo avanços tecnológicos decisivos para garantir sua redenção. A era dos dirigíveis foi interrompida abruptamente quando eles viviam seu auge, em 1937, após o acidente com o luxuoso Hindenburg, que caiu em chamas nos Estados Unidos, matou 36 pessoas e sepultou a vida útil desses míticos aparelhos. Há menos de dez anos empresas do setor lançaram projetos de máquinas cuja primeira providência foi a substituição do explosivo gás hidrogênio pelo hélio. As novas versões também têm incorporadas várias características das mais modernas aeronaves, como instrumentos computadorizados de orientação de vôo.
Os dirigíveis já voam nos céus dos Estados Unidos e da Europa, ganhando espaço em coberturas jornalísticas, vôos panorâmicos ou atividades militares. Até em Tóquio, Japão, um modelo Zeppelin NT, o maior do mundo, com 75 metros de comprimento, fez vôo de exibição no ano passado. Desde 2001, quatro modelos iguais a esse da empresa Zeppelin, com sede em Friedrichshafen (Alemanha), foram construídos – e comercializados para Japão, Alemanha, África e Estados Unidos. Estudos feitos pela companhia indicaram que há uma demanda no mundo para cerca de 40 dirigíveis. O turismo é uma das vertentes exploradas pela empresa. Quando o primeiro vôo foi inaugurado, em 2001, quatro mil pessoas colocaram seus nomes numa lista para poder voar na imensa aeronave. Até agora, 80 mil turistas fizeram o passeio de uma hora, ao custo de US$ 442.
O Brasil também está na rota dos fabricantes dessas enormes estruturas voadoras. Os executivos alemães da Zeppelin, por exemplo, enxergam possibilidades de parcerias de investimentos para turismo, controle de redes elétricas e monitoramento de gasodutos. E a Petrobras confirma que está conversando com empresas americanas do segmento para o uso de dirigíveis em transporte de cargas e inspeção.

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Os defensores dos dirigíveis no espaço nacional dizem que o mercado brasileiro possui condições ideais para explorar a construção e operação desses aparelhos, sobretudo pelas condições climáticas favoráveis, que permitem uma operação praticamente ininterrupta durante o ano todo. Até hangar o País já possui. Ele fica na Base Aérea de Santa Cruz, no Rio, e foi construído em 1933, para receber as gigantescas máquinas que começavam a fazer a rota Alemanha- Brasil. Os zepelins faziam parte do imaginário do brasileiro desde 21 de maio de 1930, quando o Graf Zeppelin atracou na cidade pernambucana do Recife e atraiu uma multidão de curiosos. Atualmente, no País, aparelhos à base de gás hélio são utilizados para fins publicitários e transmissões de tevê em eventos esportivos.

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Sonho em chamas

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O desenvolvimento dos dirigíveis está intimamente associado à Europa. Na Alemanha, o conde Ferdinand von Zeppelin voou com o modelo LZ-1 em 1900, formando a companhia Zeppelin e criando a primeira linha aérea comercial do mundo, antes mesmo dos aviões. O conde construiu mais de 100 aparelhos, vários deles utilizados na Primeira Guerra (1914-1918). Por muito tempo os aparelhos sobrevoaram só o Velho Continente. Em 1928, o modelo LZ 127 Graf Zeppelin fez seu vôo inaugural de Frankfurt a Nova York, em 112 horas. Foi a primeira aeronave a dar a volta ao mundo pelo ar em sete etapas, em 1929, percorrendo 33 mil quilômetros. De 1931 a 1937 fez a rota Alemanha-Brasil, ligando Frankfurt ao Recife – depois Frankfurt-Recife-Rio. Em 1936, o LZ 129 Hindenburg entrou em serviço. Ele era o orgulho da engenharia alemã, o mais espetacular e monumental modelo de zepelim. Possuía 245 metros de comprimento, 41,5 de diâmetro, voava a 135 km/h com autonomia de 14 mil quilômetros e tinha capacidade para conduzir 50 passageiros e 61 tripulantes. Na noite chuvosa de 6 de maio de 1937, quando se aproximava do solo em Lakehurst, Nova York, ele explodiu em chamas e se tornou uma bola de fogo nos céus. Dos 97 passageiros a bordo, 35 morreram. Uma pessoa que auxiliava a atracação da aeronave no solo também morreu. Dessas, 27 pularam do dirigível em chamas e oito foram queimadas pelo óleo diesel proveniente dos tanques do dirigível. A comissão que investigou o acidente concluiu que o hidrogênio havia vazado de algum dos tanques e uma faísca deu a ignição. Depois dessa tragédia, os dirigíveis foram definitivamente banidos da aviação e cederam espaço aos aviões.

 


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