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Acompanhe em vídeo a visita da nossa reportagem à feira de aviação de Farnborough

 

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Poltronas feitas de fibras de plantas capazes de mudar de formato para melhor acomodar o passageiro, fuselagens transparentes que oferecem visão de 360 graus, motores que aproveitam até o calor dos passageiros para economizar combustível. Sem compromissos com a viabilidade, essas são algumas ideias que vêm voando pela cabeça de futuristas e inventores. Pesquisadores mais sérios vão atrás de projetos que respondam a um desafio que a Nasa lança em uma área do seu site dedicada a crianças: desenvolva uma aeronave que seja capaz de voar, carregue determinada quantidade de passageiros, tenha um custo compatível, possua autonomia para percorrer o trajeto planejado, tenha um tamanho compatível com a sua função e colabore para a diminuição do tráfego terrestre. Tudo isso, claro, sem colocar nem uma vida humana em risco. Com algumas adaptações, esse desafio repousa sobre as mesas das maiores empresas de aviação e tecnologia do mundo.

EVOLUÇÃO
Os motores de hoje consomem 75%
menos que os similares de 40 anos atrás

Além do problema de transportar cada vez mais gente com um mínimo de conforto, o avião do futuro tem de satisfazer demandas econômicas e ambientais típicas do século XXI. Ou seja, deve consumir o mínimo possível, ser silencioso e aproximar de zero a sua pegada de carbono. Não é tarefa das mais fáceis, até porque lida com questões como os princípios físicos da propulsão e decolagem, que, para azar dos projetistas, são imutáveis. Assim, a estratégia média tem sido desenvolver protótipos que ataquem um problema de cada vez.

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Para combater a ditadura do design formado por um cilindro com asas nas laterais, pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) desenvolveram dois conceitos: o D e o H. Mas a maior inovação ficou por conta da transferência dos motores de debaixo das asas para o fundo da aeronave, em um sistema de propulsão batizado de BLI (Ingestão na Camada Limite, em português). Com ele, espera-se reduzir o consumo em até 70%. E como se dá o milagre? Os aviões atuais duelam contra correntes de vento velozes na direção contrária. Motores montados na popa recebem correntes com velocidade atenuada pelo atrito contra a própria fuselagem, o que exige um esforço menor para gerar o impulso de ir adiante. “O único senão é que o nosso protótipo é 10% mais lento que um Boeing-737, o que é compensado com sobras pela queda de consumo”, diz Mark Drela, professor do MIT e um dos responsáveis pelo projeto.

Apesar de ainda não ser o ideal, o consumo é o aspecto que mais evoluiu na história da aviação. As aeronaves atuais bebem apenas 25% do querosene que os seus similares consumiam há 40 anos. Mas a possibilidade de estender ainda mais o aproveitamento da cadeia desse combustível está no limite. Por conta disso, os criadores do avião do futuro pesquisam novos compostos.

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Como acontece nos carros, o Brasil está uma curva adiante no uso de biocombustíveis na aviação. Desde 2008, o Ipanema da Embraer mantém-se no ar com a sua barriga abastecida de etanol. “O problema é que esse combustível queima rápido e ainda não possibilita voar por muitas horas. Por isso, o Ipanema é bastante usado em fazendas. O sujeito levanta voo, dedetiza e volta”, diz Frederico Curado, presidente da Embraer. Experiência parecida vem sendo desenvolvida pela EADS, conglomerado que controla a Airbus. Seus pesquisadores estão usando biodiesel de algas para fazer voar aviões austríacos Diamond DA42.

Outro projeto inspirado pelos automóveis é o Sugar Volt (Projeto de Aeronave Subsônica Ultraverde, em português). Como o Toyota Prius, o sistema de propulsão alterna motores a combustão e elétricos. O problema: as baterias são pesadas. A aposta da autora do protótipo, a Boeing, é de que será criado um sistema capaz de guardar o máximo de energia numa superfície menor e mais leve de lítio. Em termos de combustíveis alternativos, o avião SolarImpulse não tem de esperar pelo futuro. Criado pela fábrica de relógios Omega, provou que é possível armazenar energia solar e voar até a noite.

Enquanto esses combustíveis revolucionários seguem em teste e as ideias do primeiro parágrafo deste texto são um sonho, a aeronave que mais atende a uma parte considerável das demandas do futuro é o Airbus A380. Com seus dois andares, leva até 853 passageiros de uma vez, o que faz dele a única aeronave que queima menos de três litros de querosene por passageiro a cada 100 quilômetros. Em 1985, a média era de oito litros. Talvez, no lugar dos modelos de desenho arrojado, os céus do futuro possam ficar repletos de beliches voadores.


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