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BRASIL, IL, IL
Orlando Silva, Romário, Bebeto, Teixeira, Lula, Cafu, Parreira,
Blatter e Carlos Alberto no lançamento do logo da Copa 2014

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Quinta-feira 8, Sandton Convention Center, Johannesburgo, África do Sul. O escrete brasileiro sobe ao palco e, por pouco mais de meia hora, volta à Copa. Sai Dunga, entra o presidente Lula no comando de uma seleção de veteranos engravatados – um timão, formado por Carlos Alberto Torres, Cafu, Romário, Bebeto. Cenário verde-amarelo, com direito até a Gisele Bündchen na tela para a apresentação do logotipo do Mundial de 2014. Do lado de fora, a Copa de 2010 ainda não tinha terminado, mas nos bastidores a do Brasil já corria solta, com um jogo em que, assim como no futebol, temos longa tradição. Políticos, lobistas e cartolas brasileiros invadiram o território africano e deram mostras de que, pelos próximos anos, uma batalha feroz será travada para definir qual cidade-sede terá os melhores jogos, as seleções mais importantes ou mesmo terá o direito de sediar a Copa das Confederações, que ocorre em 2013, também no Brasil. Nos últimos dias, pelo menos três governadores vieram à África do Sul beijar a mão do presidente da CBF, Ricardo Teixeira, assim como prefeitos de cidades que sediarão o próximo Mundial e um sem-número de assessores e “observadores” especiais. Os interesses, em geral, não são comuns. Enquanto o governador paranaense, Orlando Pessuti (PMDB), busca convencer a CBF a não desistir de Curitiba como cidade-sede, o governador baiano, Jaques Wagner (PT), quer aproveitar o vácuo deixado pelas indefinições paulistas para tentar levar a abertura da Copa para a Bahia.

“Eu só vim aqui para isso. Quem não aparece não é lembrado”, afirmou Wagner durante o evento. Contava, para isso, com um apoio de peso: o próprio Lula. “O presidente está nos apoiando, não só a Bahia, mas o Nordeste todo, para ter um papel importante na Copa”, afirmou o petista, de olho num atrativo ativo para as eleições de outubro e na ajuda de um cabo eleitoral de última hora: o presidente da CBF, Ricardo Teixeira. O objetivo de todos os políticos presentes é convencer Teixeira de suas propostas. É ele, que também acumula o comando do Comitê Organizador da Copa de 2014, quem pode, em última instância, facilitar ou dificultar os sonhos de cada uma das cidades-sede. Teixeira, por sua parte, vem sendo pressionado pela Fifa por conta dos atrasos nas obras dos estádios brasileiros. Também na quinta-feira 8, deu sinais claros de que não pretende se indispor com a entidade máxima do futebol, a qual ele sonha presidir. “Estamos chegando na data-limite para algumas cidades; se não houver solução, teremos que mudar os planos.”

Nessa epopeia africana com vistas à Copa do Brasil, uma das missões mais difíceis foi a do prefeito paulistano, Gilberto Kassab (DEM). Apesar de afirmar que está na África do Sul de férias, Kassab tentou convencer Teixeira a interceder para que a Fifa reveja sua decisão de desistir do Morumbi como palco da abertura do Mundial. Na quarta-feira 7 Kassab jantou com Teixeira e pediu que o presidente da CBF se reúna com o governador Alberto Goldman (PSDB) para tentar aparar as arestas com o São Paulo Futebol Clube. Teixeira aceitou o encontro, que vai ocorrer ou no dia 19 ou no dia 20, no Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo, com a presença do ministro do Esporte, Orlando Silva (PCdoB). “Estou frustrado com a situação, mas não há plano B. Ou temos o Morumbi ou não teremos a abertura da Copa”, afirmou o prefeito.

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ELES ESTÃO EM CAMPO
Jaques Wagner (no alto),
Kassab (com Lula, no centro) e
Pessuti em Johannesburgo: em ação no jogo do lobby

O governador paranaense, Orlando Pessuti, segue na mesma toada. Por conta de problemas de garantias financeiras a respeito das obras de ampliação da Arena da Baixada, a CBF ameaça excluir Curitiba como cidade-sede. “Estamos aqui para provar ao presidente Ricardo Teixeira que o nosso projeto é viável. Vamos fazer com que a Copel (estatal paranaense de energia) seja a patrocinadora do estádio e vamos resolver as questões financeiras até o fim do mês”, afirmou Pessuti, acompanhado do prefeito de Curitiba, Luciano Ducci. Já o cearense Cid Gomes veio para a África do Sul como um dos observadores convidados pela Fifa. Passou seis dias visitando estádios e, claro, fazendo contatos políticos. Assim como Wagner, quer aproveitar a provável exclusão de São Paulo para levar o primeiro jogo do Mundial a Fortaleza. “Isso será quase impossível, mas o objetivo dele é conseguir um jogo de semi-final em Fortaleza”, diz um interlocutor do governador do Ceará.

Bombardeado pelos interesses dos políticos brasileiros, Ricardo Teixeira tem tentado encontrar tempo para fazer sua própria política. A maior parte do seu tempo tem sido dedicada a apagar incêndios relacionados a 2014 e costurar apoios para o seu maior sonho: tornar-se presidente da Fifa. Pouco antes de embarcar para a África do Sul, Teixeira confidenciou a amigos que a partir de 2015, quando completará 25 anos de uma presidência, não estará mais à frente da CBF. Teixeira entende que para conseguir conquistar a vaga hoje ocupada pelo suíço Joseph Blatter – que substituiu seu ex-sogro, João Havelange, em 1988 – o Brasil terá que organizar um mundial de forma exemplar. “O grande trunfo que ele acredita ter é o Mundial do Brasil e mais um título da Seleção”, diz um dirigente brasileiro que acompanhou de perto a Copa e toda a movimentação do chefão da CBF. Em 2015, Teixeira terá concorrentes de peso. O principal deles é o secretário-geral da Fifa, Jerome Valcke. Ele tem sido o crítico mais feroz aos atrasos brasileiros, e os aliados de Teixeira veem os ataques como uma forma de enfraquecer o presidente da CBF. Outra ameaça aos planos de Teixeira é o sul-coreano Chung Mong-Joon, vice-presidente da Fifa e maior acionista do Grupo Hyundai. Joon é ex-presidente da Federação Sul-Coreana de Futebol e presidente de Honra da Federação Asiática de Futebol. “Sejamos sinceros, dinheiro conta muito, principalmente junto a pequenas federações, que precisam desesperadamente de recursos e também votam”, diz um integrante sul-americano da Fifa. Tanto no Brasil quanto na Suíça, uma coisa é certa: os próximos quatro anos serão agitados, muito agitados.

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