O tempo é o escultor da demolição. A frase do cirurgião plástico Ivo Pitanguy corta como um bisturi na carne, e sem anestesia. Mas, graças a médicos como ele, a cientistas e à indústria de cosméticos, deixar a beleza ser demolida, hoje, é uma opção. Nesta época do ano – perto das festas de Natal, réveillon e férias escolares – este tema vira preocupação nacional. Calcula-se um aumento de até 40% no movimento de consultórios especializados. São pessoas em busca de métodos de rejuvenescimento rápido que dispensam o bisturi. Especialmente na face. Para atender a essa demanda, a nova ordem na medicina estética é conjugar vários procedimentos para atenuar rugas e amenizar marcas de pele como cicatrizes de acne e manchas. Com várias armas, obviamente, os resultados são melhores. “As técnicas associadas estão atraindo muita gente”, assegura o cirurgião plástico Paulo Matsudo, de São Paulo.

A aplicação da toxina botulínica figura entre os métodos mais usados. A substância relaxa os músculos, amenizando, dessa maneira, rugas mais finas e linhas de expressão. Originalmente, era usada no tratamento de doenças neurológicas e oftalmológicas caracterizadas por contrações incontroladas da musculatura. Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), foram importadas este ano 25.631.600 unidades do produto. No entanto, calcula-se que só 20% do total tenha sido usado para fins terapêuticos – o resto foi aplicado na testa, no nariz, nas bochechas. “Coloquei no nariz. Quando eu sorria, a ponta era pressionada para baixo. Gostei do resultado e continuarei a fazer isso”, diz o estudante carioca Mauro César Coelho, 24 anos.

Estagiário em um escritório de advocacia, Coelho tem o perfil do jovem moderno, grande consumidor do produto. O dermatologista Walter Guerra Peixe, referência em toxina botulínica no Rio de Janeiro, diz que não passa um dia sem fazer pelo menos duas aplicações. “Fui um dos primeiros a usar. Antes, precisava explicar que não era veneno. Hoje, explico que não é festa, é tratamento e precisa de indicação médica”, afirma. A atriz e modelo paulistana Neusa Teixeira, 40 anos, foi uma espécie de cobaia. Há 12 anos, ofereceu-se para experimentar a substância. “Começava a ter pés-de-galinha. Faço aplicações de seis em seis meses e sumiu tudo”, conta.

Além da toxina botulínica, há um imenso arsenal à disposição de quem deseja ficar bonito até o final do ano sem recorrer ao bisturi. E ele não pára de crescer. Na semana passada, por exemplo, dois médicos ingleses anunciaram mais uma promessa: um equipamento que emite raios infra-vermelhos teria reduzido significativamente rugas ao redor dos olhos de 40 voluntários. O aparelho foi batizado de Restorelite. Os pesquisadores afirmam que os raios estimularam a produção de elastina, a fibra que dá elasticidade à pele.

Enquanto a novidade não chega, há outras – e eficazes – alternativas. Entre elas estão os preenchedores (injeção de substâncias para preencher sulcos), os peelings (procedimentos que promovem uma descamação da pele), e o uso de equipamentos como o Therma Cool, arma poderosa contra a flacidez. A assessora parlamentar mineira Heloísa Valadão Queiroz, 58 anos, por exemplo, faz uso dos preenchedores. “Aquelas ruguinhas em volta dos lábios me incomodavam. Em três dias percebi a diferença”, conta, satisfeita. De modo geral, recomenda-se muita cautela com tudo o que é ingerido ou injetado no corpo para obter melhorias estéticas. “As substâncias usadas nos preenchimentos, como metacrilato ou enxerto de gordura, são seguras, desde que usadas com critério”, afirma Everardo Abramo, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, regional Rio de Janeiro.

Um dos tratamentos mais polêmicos é o peeling a laser, conhecido como Resurfacing. Ele é feito com o paciente anestesiado e, por provocar uma renovação celular profunda, traz riscos de ocorrência de manchas e infecções, entre outros problemas. Mas, neste caso – como, aliás, em todos –, o mais importante é escolher um profissional habilitado. O dermatologista Ricardo Fenelon, presidente da Sociedade Brasileira de Laser em Medicina e Cirurgia, regional Centro-Oeste, sustenta que o procedimento é seguro, desde que bem administrado. A paulista Marina Felício, 21 anos, comemora o sucesso de seu tratamento.  “Fiz há dois anos e renasci. Meu rosto estava de um jeito que não dava mais, repleto de marcas de acne. Sofri muito, dói bastante, mas vale. Farei de novo, se precisar”, garante

Para os que não admitem sentir nenhuma dor ao cuidar do visual, existem os cremes. E, nesse quesito, a indústria da beleza não se cansa de apresentar novidades. Uma das linhas mais fortes de produtos são os chamados botox like (cremes que teriam efeito semelhante ao da toxina botulínica). Um dos mais novos no mercado é o BDERM, da brasileira Adcos Cosmética Medicinal. Outra prateleira cada vez mais farta é a dos artigos com DMAE, substância indicada contra a flacidez. A atriz Fernanda Montenegro, 75 anos, considerada um exemplo de harmonia física, é adepta do uso de cosméticos. “Não tenho beleza, mas sempre fui conformada com o que Deus me deu. Se pudesse me refazer, acho que faria um queixo mais definido, os olhos menos ressaltados. Não podendo, me cuido. Uso cremes, me alimento bem, sou uma pessoa ativa”, conta. “O pescoço cai todo dia mais um pouco, o que fazer? Fico com ele mesmo, pelo menos esse eu conheço”, diz, espirituosa. A segunda parte da frase de Pitanguy que abre este texto é sob medida para pessoas como Fernanda. “O tempo é o escultor da demolição para uns e o da grandeza para outros.”