A cerveja Cerpa dominou, na semana passada, as mesas de discussão em Belém do Pará – dos botecos mais simples da capital às cadeiras mais ilustres da Assembléia Legislativa do Estado. Não pela qualidade, sempre louvada, da loura esculpida pela tradicional Cervejaria Paraense S.A. – Cerpasa, mas pela promiscuidade, sempre condenada, da empresa com as campanhas políticas locais. Na edição 1833, ISTOÉ denunciou a existência de um caixa 2 polpudo entornando sobre a campanha de 2002 do candidato tucano Simão Jatene, que foi eleito governador, doações não registradas da Cerpa que totalizam R$ 16,5 milhões.

Uma blitz trabalhista do INSS na sede da empresa, em agosto, acabou botando na rede da Justiça peixes mais graúdos do que simples contratos de empregados sem carteira assinada: documentos e arquivos de quatro computadores da sede da Cerpa revelaram uma promíscua troca de favores entre a cervejaria e o candidato. A Cerpa encharcou a campanha e o início do governo Jatene com doações em dinheiro, camufladas em despesas como “brindes de fim de ano”, em troca do perdão de uma dívida com o Fisco estadual de R$ 47 milhões e a redução do ICMS em 95%, segundo denúncia formalizada pelo Ministério Público do Pará. Remetida no final de outubro ao procurador-geral da República em Brasília, Cláudio Fontelles, a denúncia foi assumida no dia 17 de novembro pela subprocuradora Célia Regina Souza Delgado, que promete dar seu parecer antes do recesso do Judiciário – que inicia em 15 de dezembro.

Guerra de assinaturas – Na terça-feira 23, com a ISTOÉ esgotada nas bancas  de Belém, a líder do PT na Assembléia do Pará, Araceli Lemos, pediu uma CPI  para investigar as líquidas relações entre o governador Jatene e a Cerpa. Conseguiu as cinco assinaturas do PT e uma do PCdoB, mas faltavam ainda três para garantir a instalação da comissão parlamentar, enquanto o governo trabalhava forte no sentido contrário. Na quinta-feira 25, 32 dos 41 deputados da Assembléia publicavam nos jornais manifesto de apoio ao governo – incluindo Luiz Eduardo Anaíce (PMDB), que aparece na papelada apreendida como beneficiário de uma “doação mensal” de R$ 1 mil dada pela Cerpa. A força dessa pressão é que irá determinar, nos próximos dias, se o chope da Cerpa vai servir ou não para brindar a moralidade na política paraense.


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