Papai Noel às avessas (estréia sexta-feira, dia 17, no Rio, em Brasília, Belo Horizonte e cidades do Norte e Nordeste) – Imaginar Billy Bob Thornton como Papai Noel já é de assustar criancinhas, mas o diretor americano Terry Zwigoff resolveu ir ainda mais longe. Mostrou o bom velhinho, ou melhor, Willie T. Stokes (Thornton), o arrombador de cofres alcoólatra e sexômano que veste a fantasia, como assaltante de shopping centers tendo como comparsa um especialista em desmonte de alarmes. Na verdade, o “duende” Marcus, vivido pelo ator-anão Tony Cox. Saudado pelos irmãos Ethan e Joel Cohen e pela Miramax, o filme traz ainda um chefe de  segurança corrupto, um gordinho bonzinho e uma, digamos, “Mamãe Noel” das mais apetecíveis. Zwigoff, que toca no conjunto do desenhista Robert  Crumb, a quem dedicou um documentário, capricha no tom politicamente  incorreto da história. (Luiz Chagas).

Livros

Vestindo os nus: o figurino em cena, de Rosane Muniz (Senac Rio, 328 págs., R$ 45) – Antes mesmo de entender o foco central da peça, o espectador recebe pistas sobre a dramaturgia através do figurino.
As roupas falam se a cena é moderna, tensa,
histriônica, etc. e dá dicas sobre os personagens. Através de uma delicada costura de depoimentos, Vestindo os nus revela o processo do que se chama “fazer teatro” no Brasil. “Fico capenga e canastrona se estou com figurino inadequado”, desabafa Marília Pêra. Durante os ensaios de A dona da história, Emília Duncan ouviu Marieta Severo suplicar: “Chega, Emília! Você não precisa dizer tudo no figurino.” Entre histórias, croquis, fotos, entrevistas – com Marco Nanini, Gianni Ratto, Sábato Magaldi, entre outros – a autora desnuda bastidores das artes cênicas a que o público raramente tem acesso. (Eliane Lobato)

A dália azul (Conrad), de Raymond Chandler e Filippo Scózzari – O único roteiro de Chandler para Hollywood, foi escrito às pressas em 1946. O autor, então abstêmio, decidiu que só cumpriria o prazo com o auxílio de bebida, obrigando a Paramount a cercá-lo de ambulâncias. E garrafas. O italiano Scózzari recria a história em quadrinhos deixando claras as interferências – o final precisou ser mudado. Nas telas, estrelado por Alan Ladd e Veronica Lake, tornou-se o arquétipo do film noir, batizando anos depois um dos maiores mistérios da cidade do cinema: “a dália negra”, recriado por James Ellroy. (Luiz Chagas)

 

Discos

Freak to meet you – The very best of… – The ultimate compilation (Recohead) com Jumbo Elektro
– Uma grande piada que deu certo com casas lotadas e o disco de estréia esgotado. O septeto paulistano formado por figurinhas carimbadas da noite como Dusu Tsuda e Tatá Aeroplano – ocultos sob pseudônimos à altura, no caso Dimas Turbo e Frito Sampler – toca rock copiado com letras embromadas. “Embromês”, no jargão do JE. Afinal, as pessoas gostam de requebrar para não pensar, justificam os componentes, todos bons músicos. A seu favor lembram a letra de Smells like teen spirit, do Nirvana, incompreensível até nos Estados Unidos, e Noite do prazer, de Cláudio Zoli, em que o verso “tocando B.B. King” desde sempre foi cantado “trocando de biquíni”. Uma festa divertida. O único problema é que não dá para se contar a mesma piada duas vezes. (Luiz Chagas)