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CONFRONTO
Eliza queria que Bruno assumisse o filho e pagasse
uma pensão. Ele queria distância dela e da criança

Poucos meses depois de nascida, Eliza Samudio já era levada dentro de uma cestinha às peladas de futebol que seu pai disputava, em Foz do Iguaçu (PR), sua cidade natal. “Eu jogava e minha filha ficava ao lado do gramado com meus familiares”, recorda o arquiteto Luiz Carlos Samudio, 46 anos. Ele era obrigado a carregá-la para onde ia, uma vez que a mãe, Sonia, abandonara a menina com cinco meses. A “bebê do papi”, como ele a tratava, continuou atraída pelo esporte e chegou a jogar bola na adolescência. Seu time do coração era o mesmo do pai, o São Paulo. “Um dia vou conhecer esses jogadores”, costumava repetir. Aos 20 anos, mudou-se para a capital paulista decidida a se aproximar de seus ídolos e a ser modelo. Nas passarelas, não teve sucesso. Mas o outro objetivo foi facilmente alcançado.

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BEBÊ
Dayanne Souza, mulher de
Bruno, ficou alguns dias com a criança

Sensual e adepta de decotes e roupas provocantes, ela se destacava nos eventos nos quais trabalhava como recepcionista e nas festas que também eram frequentadas por jogadores, no Rio de Janeiro e em São Paulo. Teve relacionamento íntimo com alguns desses atletas, e o último foi com o goleiro Bruno, do Flamengo. Mas a história entre eles progrediu mal: Eliza acusara Bruno de agressões violentas devido a uma gravidez que, segundo ela, o goleiro queria interromper. Ela está desaparecida há mais de três semanas e ele, segundo a polícia, é o principal suspeito de seu sumiço. Os policiais trabalham com a hipótese de que ela esteja morta e de que Bruno tenha participação no crime. Se isso se confirmar, a atração que Eliza sentia por jogadores de futebol pode ter selado de forma trágica o seu destino.

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Eliza e Bruno, ambos de 25 anos, se conheceram durante um churrasco na casa do jogador Adriano, então no Flamengo, no dia 20 de maio do ano passado. A atração foi imediata. Ao som do conjunto de pagode Pique Novo e em clima de festa, os dois se aproximaram e se beijaram. Naquela mesma noite fizeram sexo pela primeira vez. Mesmo casado há seis anos com a mineira Dayanne Souza, 23 anos, mãe de suas duas filhas – de 1 e de 4 anos –, ele saiu com Eliza outras vezes. O triângulo amoroso perdurou até entrar uma quarta pessoa em cena, a dentista Ingrid Calheiros, 24 anos, em julho. Irritada ao saber desse novo romance, Eliza decidiu vir a público revelar que esperava um filho do goleiro. E o inferno começou.

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Bruno teria passado a ameaçá-la. Em outubro, ela denunciou à polícia carioca que fora sequestrada e agredida por ele e que, com uma arma apontada para sua cabeça, disse ter sido ameaçada de morte e obrigada a tomar uma bebida abortiva. Eliza fez exames no Instituto Médico Legal e comprovou imediatamente a agressão física, mas a presença de remédio que provocaria aborto em sua urina só foi confirmada na quinta-feira 1º, mais de oito meses depois. O Departamento Geral de Polícia Técnico-Científica da Polícia Civil do Rio de Janeiro (DGPTC) informou, em nota, “que foi encontrado um grupamento de substâncias consideradas abortivas na urina de Eliza Samudio”. Segundo os peritos, a conclusão será revista no laboratório da Universidade Federal do Rio de Janeiro porque a mistura de álcool e fumo pode induzir ao mesmo resultado. O laudo final ficará pronto na segunda-feira 5.

Após as agressões, Eliza voltou para São Paulo e hospedou-se na casa da mãe de uma amiga, em Cangaíba, na zona leste. “Eu acompanhei a gravidez e estava junto na hora do parto, que foi a fórceps”, diz a enfermeira A., 52 anos. “Quando ela disse que ia ao Rio para negociar um acordo com o pai do menino, aconselhei a não ir, fiquei preocupada”, recorda. As duas conversaram pelo telefone pela última vez no dia 7 de junho. “Ela disse que o Bruno tinha levado o menino para mostrar aos avós. Eu e minha filha falamos para tomar cuidado, mas ela respondeu que não havia risco.” Desde que Bruninho nasceu, há quatro meses, Eliza e Bruno vinham se enfrentando através de advogados. Ela queria que ele assumisse a paternidade e pagasse uma pensão. Ele queria distância dela e da criança. Por fim, Eliza disse às amigas que iria até a cidade mineira de Contagem, na Grande Belo Horizonte, onde o jogador tem um sítio em um condomínio, para acertar os detalhes de registro da criança. As últimas ligações feitas por ela ocorreram no dia 9 de junho. Foram quatro telefonemas, o último às 17h57 para uma amiga.

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Bruno enfrentou privações (a exemplo de tantos jogadores brasileiros) até atingir o estrelato, virar capitão do Flamengo e ser dono de um salário de R$ 200 mil. Órfão de pai e abandonado pela mãe aos dois anos, foi criado pela avó em um bairro humilde de Ribeirão das Neves, na região metropolitana de Belo Horizonte. Aos 12 anos, foi levado para o Venda Nova Futebol Clube, time da Segunda Divisão de Minas. “Fomos à casa dele num dia de chuva para fazer o convite. A rua era de terra, tinha uma valeta enorme”, lembra o treinador Valmir de Menezes. A diretoria do Venda Nova bancava as conduções e, eventualmente, fornecia até cestas básicas para a família do garoto. Em 2004, Bruno se casou com Dayanne, sua namorada de adolescência, e foram morar no andar de cima da casa da avó paterna. A carreira começou a decolar de fato com a transferência para o Atlético Mineiro, em 2005, onde se sagrou um dos melhores goleiros do Campeonato Brasileiro daquele ano. Na mesma época, começou a virar notícia por se envolver em polêmicas e brigas (leia quadro ao lado). Teve uma breve passagem pelo Corinthians e no final de 2006 chegou ao Flamengo.

PARTE 2