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Durante a década de 1970, após abandonar a fase neoconstrutivista, Hélio Oiticica reelaborou sua produção artística, de modo que ela se tornasse uma interferência política na separação entre alta cultura e cultura popular. Para isso, criou projetos que fazem a interseção entre arte, cotidiano e a realidade urbana brasileira. Além dos trabalhos artísticos, Oiticica realizou uma série de registros em cartas, anotações e artigos que esquematizavam suas ideias em torno desta nova arte. Inspirada na produção textual deste artista, a mostra “Para Ser Construidos”, em Castilla y León, na Espanha, apresenta os trabalhos de cinco artistas latino-americanos residentes em São Paulo. Se para Oiticica o importante era a criação de uma experiência conjunta entre obra e público, Marcelo Cidade, Marcius Galán, André Komatsu, Nicolás Robbio e Carla Zaccagnini criam trabalhos que expandem essa ideia tanto para a esfera das relações urbanas quanto para a construção de identidades na contemporaneidade.

Um exemplo são os trabalhos dos brasileiros Marcelo Cidade e André Komatsu. Ambos os artistas têm como fonte materiais de construção, resíduos de concreto, sucata e a relação entre as estruturas arquitetônicas e os espaços da cidade. Em “Suspensão”, Komatsu transforma o martelo em um objeto artístico ao estilo dos ready-mades. Já “Metaesquema Punk” (foto), de Marcelo Cidade, é uma releitura de uma das séries mais conhecidas de Oiticica. A novidade está na substituição dos materiais usados nos “Metaesquemas” originais. Em um gesto irônico, o artista troca os papelões e cartolinas coloridas, por cobertores de feltro, de uso comum por moradores de rua. Muito mais que a construção de identidades urbanas, a mostra “Para Ser Construidos” também nos lembra do principal objetivo da arte de Oiticica: a construção de novas realidades.
Nina Gazire


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