Seal Best – 1991-2004, com Seal (Warner) – Todo fim  de ano é a mesma avalanche de best of. Mas, ao contrário  das coletâneas em que o artista nem sequer bate o martelo sobre as músicas escolhidas, esta do cantor inglês Seal fulgura nas prateleiras. É que, além de alinhar seus melhores hits – como as dançantes Crazy, Killer, Bring it on e Get it together e as baladas Kiss from a rose e Prayer for the dying –, Seal fez todo um CD só com versões acústicas de seus sucessos. À exceção de Walk on by, de Burt Bacharach, Fly like an eagle, de Steve Miller, e Lips like sugar, do Echo and the Bunnymen, todas as canções são de sua autoria. Tanto nos arranjos rebuscados do CD preto quanto nos mais simples do CD branco, no qual empunha um violão límpido, o que conta mesmo é seu vozeirão curtido na melhor tradição da soul music. (Ivan Claudio)

Cinema

Nossa música (Em cartaz em São Paulo na sexta-feira 24) – Dividido em três partes, ou reinos – Inferno, Purgatório e Paraíso –, o novo filme do cineasta suíço Jean-Luc Godard tem inspiração em Dante Alighieri. Mas sua estrutura à deriva, costurada por reflexões filosóficas a respeito do cinema, da literatura e da Europa atual, não poderia ser mais godardiana. Na introdução, ele monta imagens de arquivo e cenas de filmes clássicos para mostrar a violência da guerra. A ação salta em seguida para Sarajevo, quando o próprio Godard aparece como um conferencista num encontro literário para discutir a relação entre a imagem e o texto. No Paraíso, personagens como Olga (Nade Dieu) aparecem numa praia protegida pela Marinha americana. Enquanto se assiste, o filme parece nos escapar. Mas, quando termina, faz todo o sentido. (Ivan Claudio)

DVD

Coleção Alfred Hitchcock (Warner) – Considerada a grande fase do diretor inglês, a década de 1950 reúne suas maiores obras-primas. Quatro títulos desta caixa são do período Warner, quando o mestre do suspense começa a se aventurar como produtor de seus próprios trabalhos. Em A tortura do silêncio (1952) e O homem errado (1957), Hitch trata com maestria o tema cristão do homem acusado por um crime que não cometeu. A manipulação do espectador é mais eficiente, contudo, em Pavor nos bastidores (1950), Disque M para matar (1954) – trazendo a arrepiante cena do telefone – e Suspeita (1941), do período RKO, com a antológica sequência do copo de leite. Nada que se compare, é claro, ao espetacular Pacto sinistro (1951), que também está sendo lançado em edição especial dupla, reunindo nos extras comentários de Peter Bogdanovich e M. Night Shyamalan. (Ivan Claudio)

Livros

Blues, de Robert Crumb (Conrad, 108 págs. R$ 45) – Chamado de “Brueghel do século XX” pela revista

Time

, o ilustrador americano é também músico. Como tocador canhoto de banjo, líder do Cheap-suit Serenaders, ele não esconde o entusiasmo diante da música crua, pré-industrial, produzida nos Estados Unidos pelos negros escravos e pelos brancos desdentados da virada do século XX. A reunião inédita de seus quadrinhos “musicais”, e dos cartazes, das filipetas de shows e das capas dos discos que criou para selos minúsculos, completada pelo posfácio trazendo comentários do desenhista sobre o assunto, torna a edição imprescindível. Entre outras histórias, Crumb ilustrou as biografias de Charley Patton e Jelly Roll Morton, além da letra de

Purple haze

, de Jimi Hendrix, em que destila todo o seu desprezo pela cultura hippie. (Luiz Chagas)