"Se a nossa primeira vitória foi a repulsa ao invasor, a segunda foi a frustração dos atos de terror e de tortura contra o nosso povo em sua própria casa.” A frase poderia ter sido pronunciada pelo primeiro-ministro britânico, Tony Blair, em repúdio aos recentes atentados terroristas em Londres. Mas ela foi proferida 64 anos atrás pelo maior líder britânico de todos os tempos, sir Winston Churchill. Naquele discurso de 9 de fevereiro de 1941, ele se referia aos impiedosos bombardeios alemães que castigavam a capital britânica na Segunda Guerra Mundial. O fim do conflito cessou a destruição, mas não trouxe a tranqüilidade; durante quatro décadas, o medo dos britânicos – e dos outros europeus – foi a hecatombe nuclear. Mas hoje, depois do fim da ameaça soviética, os britânicos voltam a sentir insegurança e vulnerabilidade. Com uma diferença fundamental: na Segunda Guerra e na guerra fria, havia um inimigo declarado, mas agora ele é um desconhecido, que anda impunemente com uma mochila pelo sistema de transporte público inglês. Depois dos atentados terroristas de 7 de julho, que mataram 56 pessoas e feriram outras 700, tinha-se a impressão de que esses homens-bomba não atacariam novamente. Ao menos tão cedo. Ledo engano. Exatamente 15 dias depois, a cidade voltou a viver cenas de pânico e paralisia, com quatro explosões que atingiram três estações de metrô – Oval, Warren Street e Shepahard’s Bush – e o ônibus 26, em Hackney. O mesmo número macabro de explosões do atentado anterior, só que desta vez apenas uma mulher ficou ferida. Com as estações fechadas, os londrinos caminhavam novamente a pé para casa, sob o olhar de bronze do velho Churchill, no centro londrino.

“Com esse atentado, os nervos da população ficaram ainda mais à flor da pele. Nesta pequena ilha, todos se gabavam da segurança. Estavam acostumados aos atentados seletivos do Exército Republicano Irlandês (IRA). Mas agora, como a população lida com isso? Não há como parar um cara com uma mochila no metrô. Não há como parar um homem-bomba. Eu não ando mais de metrô”, afirmou a ISTOÉ o brasileiro Pedro Sardenberg, 28 anos, há quatro em Londres. O designer gráfico trabalha próximo de onde ocorreu a explosão do ônibus 26. Para ele, a conseqüência imediata da onda de terror é os britânicos culparem o premiê Tony Blair por seu alinhamento incondicional ao presidente americano George W. Bush na guerra contra o Iraque. “As pessoas estão começando a questionar a ligação direta entre os atentados e o Iraque. E o governo continua a negar isso”, disse o brasileiro.

Quem atirou publicamente a primeira pedra contra o governo britânico e outros países ocidentais foi o polêmico prefeito de Londres, Ken Livingstone. “Se no fim da Primeira Guerra Mundial nós tivéssemos feito o que prometíamos aos árabes, suspeito que o terrorismo não teria surgido. Deveríamos tê-los deixado serem livres e terem seus próprios governos, deveríamos ter nos mantido fora dos assuntos deles, sem tentar controlar o petróleo árabe”, afirmou Livingstone.

A polícia metropolitana prendeu alguns suspeitos, cidadãos britânicos com origem paquistanesa, mas outros conseguiram escapar. Na sexta-feira 22, policiais – que normalmente não andam armados – mataram um suspeito, asiático, na estação de metrô Stockwell, aumentando o clima de insegurança na cidade.

É bem provável que, nos próximos dias, os londrinos retornem à sua rotina de um chope em pub no final da tarde. Mas no fim, uma dúvida cruel não poderá ser evitada: como voltar para casa, se uma bomba pode explodir na estação de metrô? Como disse o prefeito Livingstone, a única tecnologia capaz de detectar armas e bombas é a usada em aeroportos. E como usá-la num transporte público em que circulam três milhões de usuários por dia? Sem saber a resposta, Churchill talvez se resignasse a dizer que “nunca tantos tiveram tanto medo de tão poucos”.