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DISFARCE
De gorro, ao lado de Marcelo Cabo, Taffarel espiona a Coreia

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Às 15h20 do domingo 6, o gaúcho Cláudio André Taffarel sentou-se em uma modesta cadeira colocada sobre o cimento da área vip do Makhulong Stadium, em Tembisa, na periferia de Johannesburgo. De gorro para não ser reconhecido – a indumentária servia também para esconder a calvície e os poucos cabelos grisalhos –, calça jeans ajustada com um cinto da marca Emporio Armani, camiseta de manga comprida, sapatos e jaqueta sobre o colo, estava ali para observar o desempenho da seleção da Coreia do Norte no amistoso contra a Nigéria. Primeiro adversário do Brasil na Copa, os asiáticos deveriam ser esmiuçados pelo ex-goleiro a pedido de Dunga (leia quadro). Desde maio, Taffarel é observador técnico da Seleção, definição mais requintada para espião. Nesse dia, ele fez a lição de casa à moda do chefe. A reportagem de ISTOÉ sentou-se ao lado dele e obteve, com exclusividade, as impressões do nosso agente quase secreto sobre o misterioso adversário. Primeiramente, Taffarel observou o aquecimento do time norte-coreano, com especial atenção para o goleiro RI Myong-Guk. “Ele dá passadas curtas na hora de fazer a defesa”, disse Taffarel a Marcelo Cabo, treinador carioca que desempenha a mesma função na delegação do Brasil. Na sequência, estendeu sobre as pernas cruzadas algumas folhas com campos de futebol desenhados e espalhou nelas os números dos jogadores e as disposições táticas deles. “No gol da Nigéria, os defensores deixaram se envolver pelo toque de bola rápido dos atacantes. Defesa lenta”, escreveu ele, durante a partida (leia outras anotações no quadro).

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Entre um serviço e outro de espião, o tetracampeão agarra qualquer tarefa. Um dia antes de encarar aproximadamente 100 quilômetros de carro entre a luxuosa concentração da Seleção, em Johannesburgo, até o paupérrimo distrito de Tembisa, o ex-goleiro pôde ser visto atuando como gandula e psicólogo, recolhendo bolas e trocando impressões com os comandados de Dunga, durante uma sessão de treinos do time brasileiro na Randburg High School. Na terça-feira 8, foi Taffarel quem assou picanha, frango e linguiça na brasa para os jogadores, dentro da concentração. Com a experiência de três mundiais no currículo, tinha como objetivo amenizar o tédio da convivência fechada imposta pela comissão técnica.

Aos 44 anos, este misto de churrasqueiro, conselheiro e espião nascido em Santa Rosa, no Rio Grande do Sul, tem mostrado que não está na África do Sul a passeio ou porque é velho companheiro de Dunga. Sem luvas, dessa vez, Taffarel tem defendido seu emprego valendo-se da ausência de vaidade e com simplicidade. “Ele é o meu maior ídolo. Não o conhecia direito, e é impressionante como é simples”, atesta o goleiro Júlio César, considerado o melhor do mundo na posição.

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Dunga convocou o ex-goleiro para azeitar o ambiente da Seleção porque sabia quanto sua entrega ao grupo poderia melhorar o que já vinha dando certo. Na quinta-feira 10, dia em que as atenções estavam voltadas para o titular Júlio César, que retornava aos trabalhos pesados depois de ser afastado por uma contusão nas costas, Taffarel novamente arregaçou as mangas e ajudou a transportar uma trave para o meio do campo. Na sequência, fez as vezes de treinador de goleiro, bombardeando o número 1 do Brasil com chutes quicados e no alto. Pronto. O arqueiro brasileiro estava aprovado para a estreia. Com bermuda e chuteira e a sensação de dever cumprido, Taffarel partiria dali para a concentração. Lá, jantaria e iria se recolher dentro da programação estabelecida como qualquer um. “É uma alegria estar convivendo mais uma vez com companheiros de Seleção”, diz Taffarel.