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VAIDADE
“Quero mostrar que é possível ser feminina e lutar”, diz ela

Como grande parte das jovens de 25 anos, a carioca Kyra é vaidosa. Mais do que muitas de suas contemporâneas, ela é charmosa e sensual. Em momentos decisivos, veste-se de cor-de-rosa, gasta um bom tempo se maquiando e cuidando dos cabelos longos. Mas está longe de ser uma patricinha. As unhas pintadas também de rosa são usadas para cravar no quimono de alguma adversária de tatame. E o make-up, tão cuidadosamente escolhido, vira uma pasta de suor quando ela está em ação. Kyra Gracie é lutadora de jiu-jítsu e campeã internacional do esporte. Ela faz jus ao sobrenome que tem: pertence à família Gracie, clã que popularizou a modalidade esportiva no Brasil e produziu os lutadores mais respeitados do mundo. Nessa galeria internacional, a moça com ar brejeiro é a mais nova estrela. Em luta realizada no domingo 6, nos Estados Unidos, Kyra conquistou pela quarta vez o título de campeã mundial, e muitos já a consideram a melhor lutadora da história do esporte. “Acho precoce esse rótulo, mas estou treinando para isso”, comenta, tão candidamente que nem parece ser a fortaleza que abate sem dó as rivais.

Antes da última decisão, Kyra cumpriu mais uma vez seu ritual de vaidade. “Quero desmistificar essa história de que as lutadoras têm de ser feias, mostrar que é possível ser feminina e lutar”, diz ela. Além da beleza, a campeã destila uma sensualidade que a tornou musa dessa luta, normalmente praticada por brutamontes desengonçados. O estilo sensual foi reforçado quando Kyra posou para fotos ousadas, nas quais a cintura baixa do quimono permite uma visão mais generosa de suas formas. A novidade não foi bem recebida pela família. “Meus tios reclamaram”, recorda ela. “Expliquei que era para mudar a imagem das lutadoras, mas eles não aceitam muito bem. São muito machistas.”

Este não foi o único tabu que ela quebrou no clã. Até pouco tempo, as mulheres com o sobrenome Gracie não chegavam até a faixa-preta e não participavam dos campeonatos oficiais. Isso era prerrogativa exclusiva dos homens. A família queria que ela fizesse balé. “Não era a minha, as meninas giravam para um lado, e eu girava para outro”, conta. “Hoje, meus tios me apoiam e nós achamos graça quando assistimos ao vídeo no qual apareço dançando quando era criança.” A insistência de Kyra abriu caminho para as novas gerações, e suas primas mais jovens dizem que vão tentar repetir sua trajetória. O currículo da campeã é invejável: em seis anos de faixa-preta, só perdeu três lutas.

Kyra é ousada. Só treina contra homens e ainda reclama que eles são “muito frescos”. Como assim? “Por qualquer pancada, eles param a luta. As mulheres aguentam mais a dor.” E não é só no tatame que ela enfrenta os marmanjos. Nas boates cariocas, onde o assédio masculino muitas vezes acontece de forma agressiva, Kyra usa suas técnicas de defesa pessoal. “É um golpe simples, basta girar o punho, e eles desistem logo da gracinha”, diz. O sobrenome que identifica os reis do jiu-jítsu, porém, já afastou pretendentes que ficaram intimidados. Atualmente, ela namora o lutador da seleção brasileira de judô Leonardo Leite.

A jovem segue os mesmos passos dos tios que viraram ídolos nos Estados Unidos. Suas lutas são transmitidas pela tevê americana, sua fama faz lotar os diversos workshops que dá ao redor do mundo e todo ano ela promove o Kyra Camp, ao qual traz admiradoras americanas para acompanhar seus treinamentos no Rio de Janeiro. Mas conserva um saudável lado mulherzinha: lançou uma grife de roupas e jamais enfrenta uma luta sem make-up. “Na última decisão que entrei sem esmalte rosa, perdi. Virou superstição”, diverte-se.

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