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OBAMA O jovem senador por Illinois, de origem queniana, promete aprender espanhol

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HILLARY A senadora por Nova York caiu um pouco nas pesquisas, mas ainda é a favorita

Contrariando uma das mais sólidas tradições políticas dos Estados Unidos, a chamada “Superterça” – quando os partidos escolhem seus candidatos a presidente em mais de 20 Estados – desta vez não consagrou um favorito num dos partidos, o Democrata. A senadora por Nova York e ex-primeira-dama Hillary Clinton ganhou em oito Estados, entre eles os mais populosos – Califórnia, Nova York, Nova Jersey, Massachusetts. E o senador negro por Illinois Barack Obama venceu em outros 13 Estados, entre eles Geórgia, Missouri e Alabama. Até agora, dos 2.025 delegados necessários para ser indicado candidato do partido, Hillary conquistou 818 e Obama, 730. Nacionalmente, eles estão tecnicamente empatados, segundo as pesquisas de intenção de voto: 45% de Hillary contra 43% de Obama.

Como os democratas são eleitos em voto proporcional, mesmo perdendo em Estados populosos, como Califórnia e Nova York, Obama soma muitos delegados. A perspectiva agora é que até a convenção democrata, no final de agosto, não se saiba quem será o candidato, fato que não ocorria há 40 anos. Entre uma candidata que leva a maioria dos votos femininos e outro que leva a maioria dos votos negros, o eleitorado latino passou a ser decisivo.

No Partido Republicano, um antigo azarão, o senador pelo Arizona John McCain, vai consolidando seu favoritismo. Ele obteve 680 dos 1.191 delegados necessários à indicação. Seu mais forte concorrente, o ex-governador de Massachusetts Mitt Romney, que tinha conquistado 270 delegados, jogou a toalha na quinta-feira 7 se dizendo decepcionado com os resultados da Superterça. Visto com desconfiança pela direita republicana por ser contra a expulsão de imigrantes ilegais e a favor das pesquisas com células-tronco, McCain – um ex-combatente do Vietnã que discursa como se estivesse marchando – disse na Conferência Política Conservadora que se equivocara algumas vezes, mas sempre manteve “o histórico de um conservador”. Recebeu aplausos e algumas vaias.

Desde 1968, quando a agitação estudantil e os protestos contra a Guerra do Vietnã agitaram os EUA, não se via tanto frenesi. A campanha deste ano vem empolgando o eleitorado mais jovem, as mulheres e as minorias, principalmente os negros e os latinos. Estes últimos têm forte presença na Califórnia, em Nova York, Nova Jersey e Massachusetts e são o eleitorado que mais cresceu desde a última eleição presidencial, em 2004: cerca de 20%. Esses Estados receberam várias levas de imigrantes e grande parte ainda permanece ilegal, sem visto de trabalho e muito menos direito de residência. Há cerca de 44,3 milhões de latinos morando nos Estados Unidos – algo como 15% da população americana. Ao todo, quase 18 milhões têm direito a voto nas eleições presidenciais. Na Califórnia, o maior colégio eleitoral do país, a vitória da senadora Hillary Clinton foi conquistada graças ao voto dos latinos: ela teve mais de 60% dos votos. É lá que se concentra a maior população hispânica dos EUA: cerca de 13 milhões, equivalentes a 30% de todo o país.

A votação dos latinos também garantiu a vitória de Hillary Clinton nos Estados do Arizona e do Novo México. Mas a disputa por essa fatia do eleitorado, no entanto, não se esgotou na Superterça. Barack Obama vai continuar defendendo enfaticamente os direitos dos imigrantes – ele mesmo é filho de pai imigrante nascido no Quênia. Obama defende uma anistia e a reforma da lei para permitir a legalização da maioria dos cerca de 14 milhões de imigrantes ilegais que estão nos EUA. O senador também garantiu que vai aprender espanhol.

“Não é exagero dizer que os hispânicos podem ter nas mãos o resultado das eleições de 2008”, disse Simon Rosenberg, diretor da ONG latina NDN. Ou seja, pela primeira vez na história dos Estados Unidos, uma eleição presidencial pode ser decidida pela forma como pensam os que nascem abaixo do rio Grande.

Apesar de toda essa importância do eleitorado latino para as eleições americanas, até agora somente Hillary Clinton teve algo a dizer publicamente aos países da América Latina. Num artigo publicado na terça-feira 5 no jornal El Universal, do México, ela afirmou que os principais inimigos dos países latino-americanos são “o populismo e a demagogia” e que para combatê-los é necessário promover na América Latina “transparência, sistemas judiciários independentes e medidas contra a corrupção”. Ela quer que os EUA trabalhem com os países latino-americanos para encorajar “uma gestão pública mais eficaz que fortaleça o Estado de Direito e garanta a segurança”. Para Hillary, a política do presidente George W. Bush em relação ao subcontinente “foi de distração e de promessas fracassadas”, focalizada quase exclusivamente “na expansão do comércio internacional e na luta contra o narcotráfico”. Por isso, a senadora afirmou que a credibilidade e a liderança dos EUA na região “se encontram em um de seus pontos mais baixos da história”. A ex-primeira-dama também disse saber da importância das contribuições dos imigrantes para os EUA e que “não faz sentido deportar todos os que se encontram aqui de maneira ilegal”.

O eleitorado que mais cresceu nos eua desde a eleição de 2004 foi O latino: cerca de 20%

Além do fator hispânico, a participação dos jovens despontou como a grande novidade destas eleições. Segundo a Kennedy School of Government, de Harvard, o interesse dos eleitores com menos de 30 anos em 2008 atingiu 74% – um salto considerável do ridículo patamar de 13% em 2000, quando George W. Bush disputou com Al Gore, e de 42%, quando a disputa foi entre Bush e John Kerry. A chamada Geração do Milênio – os que tiveram seu batismo de fogo político no século XXI, principalmente com o 11 de setembro de 2001 – vem se mobilizando em torno do senador Barack Obama. Num discurso de apoio a Obama, o veterano senador Edward Kennedy chegou a compará-lo a seu irmão presidente, John Kennedy, que tinha 43 anos quando foi eleito em 1960. Obama tem 46.

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MCCAIN O antigo azarão já pode ser considerado o candidato republicano

“Houve um outro tempo quando um outro jovem candidato estava concorrendo à Presidência e desafiando os EUA a cruzar a Nova Fronteira”, disse Kennedy. “Mas um outro presidente democrata, Harry Truman, disse que ele devia ter paciência e que lhe faltava experiência. Ao que John Kennedy replicou: ‘O mundo está mudando. Os velhos costumes não servem mais!’” Apesar disso, Hillary venceu em Massachusetts, reduto dos Kennedys, e os jovens não foram tão animados na hora de votar: só 16% dos eleitores entre 18 e 29 anos votaram e destes 51% ficaram com Hillary e 47% com Obama.

Feitas as contas da Superterça, a vantagem de Hillary é muito pequena, num universo de mais de 3.200 delegados. Isso fortalece a posição dos chamados “superdelegados”, figurões do partido que na convenção nacional não têm obrigação de votar nos candidatos consagrados nas primárias (leia quadro ao lado). Eles foram criados para evitar “azarões” e hoje representam quase 800 votos. Assim, a cúpula democrata, não os eleitores, pode ter a palavra final sobre a escolha do candidato. Mau presságio para uma eleição tão vibrante.

 

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