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Marina Silva define o seu perfil como candidata do Partido Verde à Presidência da República

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Ex-ministra fala sobre reforma na segurança pública e estratégias contra a dependência química


 

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MARINA E O VICE
A equipe que entrevistou a candidata do PV, da esquerda para a direita: Carlos José Marques, diretor editorial; Luiz Fernando Sá, diretor editorial-adjunto; Marcelo Tas, colunista de ISTOÉ; Paulo Lima, colunista de ISTOÉ; Delmo Moreira, editor executivo de ISTOÉ; Ricardo Boechat, colunista de ISTOÉ; Ricardo Amorim, colunista de ISTOÉ; Mário Simas Filho, diretor de redação de ISTOÉ, Yan Boechat, editor de política; Octávio Costa, diretor da sucursal de Brasília; Gisele Vitória, diretora
de redação da revista GENTE; Hélio Gomes, editor executivo de ISTOÉ ONLINE; Leonardo Attuch, redator-chefe da revista DINHEIRO; Joaquim Castanheira, diretor de redação da revista DINHEIRO; e Caco Alzugaray, presidente executivo da Editora Três

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Marina Silva gosta de conceitos. Muitas vezes, parece uma professora aplicada, disposta a entrar em minúcias para se fazer entender pelos alunos. É sempre firme, mas também sempre simpática. A campanha eleitoral não mudou seu jeito. Ela retocou a pintura, não ajeita mais os cabelos num coque muito alto e ainda gosta dos vestidões que chamavam a atenção mesmo quando frequentava o colégio de freiras. Magérrima e bem-humorada, ela conta que algumas fãs a abordam de um modo surpreendente: “Sabe o que mais invejamos na senhora? São suas saboneteiras.” Marina diz que jamais pensou em ser elogiada pelas clavículas salientes.

Junto com o candidato a vice, o empresário Guilherme Leal, Marina explicitou seus planos para o Brasil numa entrevista exclusiva à equipe de editores e articulistas de ISTOÉ. A seguir, publicamos os principais trechos da entrevista:

Istoé – A candidata Dilma Rousseff se apresenta ao eleitor como a extensão do governo Lula. Serra como uma espécie de pós-Lula. E a sra., como se define?
Marina – Eu acho que pós-Lula todos somos. O Brasil está fechando um ciclo de 16 anos em que conseguimos estabilidade econômica e quebramos o paradigma de que primeiro tinha que crescer para depois dividir o bolo. Neste período, se distribuiu e cresceu ao mesmo tempo. Mas o que a gente faz com isso? Considera o fim da história ou, em cima desse acúmulo positivo, se transita para o futuro? Temos dito que não estaremos nem à esquerda nem à direita, estaremos à frente. Porque é disso que o Brasil e o mundo precisam: integrar as conquistas do século XX para transitar para o que chamamos de economia do século XXI.

Istoé – A sra. acha que temos condições de fazer isto?
Marina – O Brasil é o país que reúne as melhores condições. Já somos um país industrializado, com uma base de conhecimento e um avanço tecnológico razoáveis, e temos a imensa vantagem de nossos recursos naturais. O Brasil pode ser neste século XXI aquilo que foram os EUA no século passado. Mas para isso precisamos, além de ter essa visão generosa de um país capaz de integrar desenvolvimento e preservação dos recursos naturais, criar o processo e as estruturas adequadas para encaminhar esta visão.

Istoé – A sra. se considera a candidata ideal para implementar este futuro?
Marina – Seria muito pretensioso eu dizer que sou a candidata que antecipa o futuro. Mas participo deste movimento que acha que é preciso antecipar o futuro. É o futuro das energias limpas.

Istoé – Ao final de quatro anos a sra. acredita que poderá se orgulhar de ter feito o quê?
Marina – Já estou orgulhosa por termos feito o Brasil se posicionar de acordo com as exigências deste século, que já sabe que os recursos naturais são finitos. E já sabe que o nosso grande diferencial é contarmos com 11% da água doce do planeta e 22% das espécies vivas. Temos a maior área terrestre isolada do planeta e uma grande parte agricultável. Eu me sentirei orgulhosa se o Brasil for capaz de se colocar no lugar de potência ambiental.

Istoé – E como se caminha para isto?
Marina – Precisamos criar uma nova narrativa para os nossos produtos. Basta fazer o dever de casa, passando no teste e não mudando o teste como tentaram fazer aqui. Quando as pessoas falavam que o governador Blairo Maggi tinha se convertido ao ambientalismo, eu passava por cética. É que eu sabia o que estava acontecendo em Mato Grosso. Saí do governo porque o governador de Mato Grosso queria contrapor os dados do Inpe, que acompanha desmatamento com altíssima tecnologia, reconhecida no mundo inteiro, aos de uma Secretaria de Meio Ambiente que tinha acabado de ser criada. O secretário, por sinal, foi agora preso numa operação. Eles estavam fazendo apenas fraude política com a questão ambiental e prejudicando o agronegócio do Brasil. Mas saí vitoriosa e quem fez a opção pelo que dizia o Mangabeira, pelo que dizia o Blairo e pelo que dizia o ministro da Agricultura, se não está politicamente derrotado, eticamente está.

Istoé – A sra. ficou chocada com o que enfrentou no governo?
Marina – Não consigo me vitimizar nessa relação. Não quero fazer isso. Nunca vou fazer isso. Eu tinha grandes aliados: os ministros Ciro Gomes, Luiz Dulci, Tarso Genro, Márcio Thomaz Bastos. O ministro da Defesa sempre foi meu aliado também. Seria impossível prender 725 pessoas, fazer 25 operações da Polícia Federal, acabar com 1.500 empresas criminosas, inibir 35 mil propriedades de grilagem na Amazônia se não contasse com uma base de apoio.

Istoé – Seu maior enfrentamento não foi com a ministra Dilma, então?
Marina – Não posso reduzir a questão à Dilma. Eu discutia as questões de mérito com os ministros dos Transportes, de Minas e Energia, da Agricultura, do Desenvolvimento Agrário e da Ciência e Tecnologia.

Istoé – Nestes momentos a sra. já pensava em sair candidata à Presidência da República?
Marina – Não. Para mim isso se colocou como uma equação a ser resolvida quando o PV me fez oficialmente o convite.


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Istoé – A sra. guarda alguma mágoa do presidente Lula?
Marina – De jeito nenhum. Aliás, de ninguém, graças a Deus. Tenho carinho, respeito e gratidão por ele. Eu tenho um investimento de 30 anos no presidente Lula, defendendo-o das piores injustiças. Hoje, quando eu vejo minha fé ser atacada como se eu fosse uma pessoa fundamentalista, enxergo a época em que atacavam o Lula.

Istoé – Muitos empresários entendem ser incompatível manter a taxa atual de crescimento com essas suas propostas de investir mais em energias limpas, abrindo mão de investimentos como Belo Monte. Como a sra. vê isso?
Marina – É perfeitamente possível. Quem disse que as energias limpas são incompatíveis com a geração de energia?

Istoé – Na quantidade necessária?
Marina – Sim, a nossa maior fonte de geração, 64%, é hidroeletricidade.

Istoé – E por que não Belo Monte?
Marina – A pergunta é: foram resolvidos os problemas de Belo Monte? Há 20 anos que a índia Tuíra botou o facão no pescoço do diretor da Eletrobras e os mesmos problemas seguem ali presentes. Não ouviram as comunidades indígenas, não resolveram os problemas de impacto ambiental em relação ao rio Xingu. Vai um contingente de 100 mil pessoas só para fazer a obra. E agora ainda apareceu a questão da viabilidade econômica do empreendimento. Ele é praticamente subsidiado pelo governo. Não adianta a gente fazer vista grossa para os problemas reais que Belo Monte tem.

Istoé – Há alguma hidrelétrica que a sra. aceita como modelo?
Marina –Todas têm impacto ambiental. O problema é a capacidade de suporte dos ecossistemas em relação a esses impactos. Há um empreendimento pequeno, São Salvador, para 400 megawatts, que levou seis meses para a gente licenciar. Os estudos de impacto ambiental eram exemplares, foram benfeitos.

Istoé – Mas há algum exemplo de maior porte?
Marina – Vários empreendimentos que foram viabilizados na minha gestão. O mais complexo foi a usina do Madeira. Quando cheguei tinha 45 obras na Justiça e resolvemos todos. Depois da minha saída, o presidente do Ibama estava com 17 processos.
Guilherme Leal – Eu queria qualificar essa questão do crescimento. Acho que não se advoga crescimento igual ao da China. O Brasil não está preparado para crescer a taxas de 7% a 10%. Nós não temos poupança de investimento para sustentar crescimento a esses níveis. Quem disser que é capaz de virar esta equação é populista.

Istoé – O Partido Verde tem quadros suficientes para dar resposta a esses desafios?
Marina – A sociedade brasileira tem e isso é uma das coisas que estamos inovando. Se formos pensar só no nosso partido, obviamente não temos. Mesmo o PT, que possui 1,6 milhão de filiados, precisou buscar quadros como Meirelles, Furlan, Roberto Rodrigues…

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Istoé – A sra. quer PT e PSDB no seu governo?
Marina – Eu diria que há excelentes quadros em ambos e que ninguém poderia abrir mão deles.

Parte 2


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