img.jpg
INTIMIDADE
Nada de acessórios ou estripulias. O maior prazer do casal
Dennis e Adriana é manter o clima de namoro

Sexo
1.
Orgasmo não é meta e sexo não tem data nem hora marcadas. O simples pensar em sexo – sem medo ou culpa – já faz dele um prazer
2. Explore os cinco sentidos: abuse de cheiros, texturas, luzes, sabores e sons
3. Busque o diferente, varie cenários, roupas e acessórios
4. Sexo bom é sexo sem cartilha: cada um deve descobrir o que é melhor para si

Você está passando pela rua e vê aquela bomba de chocolate na vitrine de uma confeitaria. O coração dispara, a pupila dilata e, de imediato, você começa a salivar. O corpo reage ao desejo. Ato contínuo, você entra na loja e pede o doce. Experimenta e, voilà, se apaixona por ele. Sai caminhando satisfeito e com uma certeza: bomba de chocolate lhe dá prazer. Com essa lembrança em mente, certamente vai querer repetir a dose e voltar à confeitaria quantas vezes forem necessárias para atender a essa vontade. A bomba de chocolate em questão pode ser substituída por muitas outras coisas – um encontro romântico, uma tarde com amigos, uma corrida no parque, uma música… Mas o caminho do prazer pelo cérebro é sempre o mesmo, explica o neurocientista dinamarquês Morten Kringelbach, da inglesa Universidade de Oxford (leia quadro à pág. 92), autor de uma alentada pesquisa sobre o tema.

Ter prazer é algo natural na vida das pessoas. Ele simplesmente acontece e traz uma deliciosa sensação de bem-estar. Principalmente os prazeres que Kringelbach chama de fundamentais – comer, fazer sexo e se relacionar socialmente. E eles são primordiais por razões elementares. “Sem eles, a humanidade não se perpetuaria”, diz o pesquisador. Mas o prazer do ser humano vai muito além de um prato de comida, uma roda de amigos e uma bela noitada de sexo. Há outras fontes que garantem nível de satisfação semelhante, ou até superior, dependendo da pessoa ou do momento de vida que ela atravessa. O convívio com a natureza, a realização profissional e o banho de endorfinas propiciado pelos exercícios físicos também colocam largos sorrisos no rosto de quem os experimenta. A boa notícia é que podemos aprender a ter mais prazer. Ao longo dessa reportagem, você vai ver como fazer o exercício diário de injetar bem-estar justamente nessas áreas que provocam mais satisfação pessoal.

img1.jpg
VERDE
André aumenta seu percurso em cinco quilômetros para
relaxar no parque antes de ir para o trabalho

Natureza
1. A natureza não é só o verde: deixe o ar entrar, a luz bater e ouça o barulho da chuva
2. Ainda que você more em uma cidade grande, um jardim pequeno dentro de casa já muda o ambiente
3. Quando construir ou reformar, dê prioridade aos elementos naturais, como madeira, pedra, tinta à base de cal e bambu
4. Ande a pé nem que seja até a padaria e descubra o que existe pelo caminho: praças, árvores, jardins, pessoas caminhando com cachorros, pôr do sol, ninhos de passarinhos

Apesar de os pesquisadores se debruçarem em análises para desvendar essa sensação, e já conhecerem seu trajeto no cérebro humano, o prazer ainda é um mistério para a ciência. E as áreas que estudam o tema, da filosofia à neurociência, ainda não conseguiram chegar a uma definição comum. “Trata-se de um conceito psicológico complexo e que consiste em pelo menos três componentes: gostar, querer e aprender”, diz Kringelbach, que começou a estudar os caminhos da satisfação na mente humana para ajudar a resolver problemas clássicos ligados à ausência dela, como a depressão. Enquanto não chega lá, de uma coisa já tem certeza: o prazer diz muito sobre nós mesmos. “Nosso desejo é o que guia nossos interesses, recompensa nossos esforços e nos coloca em contato com nosso íntimo. Se confiarmos nesse instinto, seremos capazes de tomar decisões mais acertadas”, ensina. Em outras palavras, o respeitado professor dinamarquês nos aconselha a confiar na intuição e nunca abandonar o prazer. Parece frase de autoajuda, mas é pesquisa da secular Universidade de Oxford.

Outro estudo, feito pela Escola de Saúde Pública da Universidade de Harvard (EUA), mostrou que crianças que foram educadas para se concentrar em suas tarefas se tornaram adultos emocionalmente mais saudáveis, resilientes e sociáveis. Essa concentração e essa entrega ao que se faz são a chave para degustar cada segundo do prazer e torná-lo mais frequente no dia a dia. “Estar presente de coração traz prazer efetivo”, acredita a filósofa Dulce Critelli. É exatamente isso que faz com que o casal Adriana e Dennis Mauro mantenha o sexo com qualidade, após 11 anos juntos. “A química ainda é 100%, mas acho que nosso segredo está mesmo na profunda intimidade que temos”, diz o marido. “Às vezes nem transamos, só ficamos horas a fio conversando e namorando muito. E isso é tão prazeroso quanto o sexo em si.”

img5.jpg
LEMBRANÇA
Comer, para Letícia, é cultivar a memória afetiva

Comida
1. Coma com calma. Não devore um prato como se o mundo fosse acabar em seguida
2. Sinta os cheiros e observe as cores dos alimentos
3. Cerque-se de boas companhias durante as refeições
4. Não conte calorias o tempo todo: isso é um redutor de prazer
5. Opte pela comida caseira, sempre que possível
6. Acredite na frase “coma o que o seu corpo está pedindo”

O ato de comer, que, ao lado do sexo, encabeça a lista dos prazeres essenciais, tem sido negligenciado por muita gente. Para a socióloga Carla Cristina Garcia, autora de “O Banquete das Palavras” (Ed. Limiar), entre outras obras, a felicidade de saborear uma comida está virando uma raridade. A pressa generalizada, a carga horária exaustiva no trabalho e o stress fazem com que um almoço se torne um tormento. “Fiz um estudo no centro de São Paulo e descobri que comer em restaurantes por quilo torna as pessoas mais infelizes”, diz. Se depender dessa premissa, a felicidade da advogada Letícia Massula está, em parte, garantida. Não comer em quilo é uma regra. Quando almoça, sua vida se enche de significado. O mais trivial dos hábitos para qualquer pessoa é, para ela, um momento de extremo prazer. Remete às memórias de infância, como a tradição goiana de preparar galinhas furtadas do vizinho. “As pessoas chegavam com a galinha roubada de madrugada e minha mãe acordava para prepará-la. Sempre reuníamos as pessoas em volta da mesa”, afirma Letícia, que mantém o hábito das refeições amorosas e compartilhadas.

img6.jpg
ENDORFINA
“Eu vivia carregada de problemas. Hoje sou mais leve”, afirma Renata, que corre, pedala e nada

Exercícios físicos
1. Ponha o cérebro para funcionar com o corpo: repare nos detalhes de cada movimento
2. Busque resultados objetivos (emagrecer tantos quilos, correr tantos quilômetros, etc.)
3. Escolha uma atividade física da qual você goste
4. Resista bravamente à fase de adaptação. Depois dela, tudo fica bem melhor
5. Faça algo em grupo. Unir atividade física com relacionamento é prazer em dobro

Conviver, trocar, se relacionar. Mas, de preferência, ao vivo. Ter uma extensa comunidade virtual de 800 amigos não garante o prazer das relações. Felipe Simões, tradutor de 29 anos, sempre soube, desde os tempos de colégio, que os amigos formavam sua segunda família. “Passar pelas partes pesadas da vida sem eles seria mais difícil”, atesta. Mesmo durante os quatro anos em que viveu em Brasília, Simões manteve intenso contato com sua turma de colégio, em São Paulo. Toda oportunidade de reencontro é vista como uma grande farra – até mesmo para fazer a foto desta reportagem. “Todo mundo tem dificuldade de achar tempo na agenda para as reuniões, mas eu sei, por experiência própria, que é possível cultivar as amizades, mesmo nos momentos mais corridos”, conta. Mais que possível, é prazeroso.

PARTE 2