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Na ponta do lápis. Confira simulação de financiamento de imóvel com o superintendente regional da Caixa Econômica Federal, Válter Nunes

 

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MULTIPLICAÇÃO
Este ano cerca de 400 mil novas residências serão
construídas ou reformadas no Brasil

Poucas vezes na história recente do Brasil venderam-se tantos imóveis quanto nesses primeiros meses de 2010. Não importa o índice que se analise, não importa a região que se pesquise, pouco importa até o período de comparação. Em todos os casos os números são recorde. Resultado da combinação de juros baixos, programas de incentivo federal, crédito farto e longo e uma confiança rara no futuro econômico, o boom imobiliário de agora está espalhado por todo o País. Da ultra-urbanizada São Paulo à amazônica Manaus, das áreas mais nobres da zona sul carioca até os bairros mais simples de Salvador. Na esteira da demanda reprimida, os preços têm subido em uma velocidade tão impressionante quanto a rapidez com que se vende um prédio inteiro, ainda na planta. Mas, apesar disso, especialistas do setor – tanto os privados quantos os públicos – garantem que por enquanto não há razão para preocupar-se com uma bolha imobiliária como a que por pouco não levou os Estados Unidos – e boa parte das potências econômicas mundiais – à lona na mais profunda crise financeira global desde a quebra da bolsa de Nova York, em 1929.

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DISPUTA
Denise e Juan (abaixo) chegaram às
5 horas da manhã para ser um dos primeiros
da fila e conseguir fechar um bom negócio no Feirão da Caixa
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Independentemente de haver riscos de um crescimento descontrolado ou não, os números do mercado imobiliário brasileiro impressionam. Só no primeiro trimestre deste ano a Caixa Econômica Federal liberou quase R$ 10 bilhões em financiamento para a compra ou construção de casas e apartamentos. Esse montante é quase 100% maior do que o do mesmo período do ano passado. Na comparação com 2004, quando a indústria da construção civil começava a sair de um período de quase duas décadas de absoluta letargia, o aumento chega perto dos 2.000%.

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Esses são números do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo, o SBPE, gerido pela Caixa, e, com o FGTS, responsável por quase 80% dos financiamentos imobiliários no País. Parte desses recursos também é utilizada pela rede bancária privada, que capta o dinheiro a um custo mais baixo no sistema. No ano passado, só o SBPE financiou mais de 300 mil moradias – tanto para compra quanto construção e reforma –, o que representou um volume financeiro de R$ 34 bilhões, dez vezes superior à quantidade de dinheiro emprestada em 2004. Apesar de todo esse crescimento registrado nos últimos seis anos, a expectativa é de que os recordes sejam quebrados com folga. A Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) estima que o número de residências financiadas com recursos do SBPE ultrapasse a casa das 400 mil e que o volume financeiro chegue aos R$ 50 bilhões.

Muito desse crescimento é de responsabilidade do programa Minha Casa, Minha Vida, do governo federal, que oferece subsídios para famílias que ganham até dez salários mínimos. Desde que o programa teve início, em maio do ano passado, a Caixa já aprovou 400 mil contratos de financiamento no programa e tem outros 400 mil esperando para passar por seu crivo. Antes mesmo de chegar ao número prometido do um milhão de casas, o governo já trabalha para lançar o Minha Casa, Minha Vida 2, com um volume total de dois milhões de residências. É indiscutível o impacto do programa habitacional federal, mas ele não é o único responsável pela explosão de vendas. O crescimento ocorre em todas as camadas sociais. “É uma coisa maluca que está acontecendo no Brasil, a demanda é muito forte”, diz Paulo Saffady, da Câmara Brasileira da Construção Civil, que congrega as empresas que atuam no setor.

No fim da ensolarada tarde do feriado de Tiradentes, o técnico em radiologia Vinícius Pires e Silva passou a fazer parte dessa numeralha que tanto tem encantado a extensa cadeia da indústria imobiliária. Depois de titubear um pouco, aceitou o conselho da mãe e foi visitar o estande de vendas de um edifício que ainda nem saiu da planta, na periferia de Osasco, na Grande São Paulo. De concreto no sonho de ter um lar para ele, sua mulher e a filha de dois anos, havia apenas promessas, uma maquete e um terreno descampado, como tantos nas fronteiras urbanas das grandes metrópoles. Foi o suficiente. Em poucos minutos de conversa, o corretor de plantão o convenceu a assinar um contrato de compra de um diminuto apartamento de 44 metros quadrados e dois quartos, por R$ 119 mil, financiado em 25 anos. As prestações, mesmo com os subsídios do Minha Casa, Minha Vida, vão consumir quase 30% do orçamento familiar. “Vai ser apertado, financiei quase o valor integral, mas vale a pena. Quem casa quer casa, né?”, diz ele, de apenas 22 anos, que levou a mãe a tiracolo na hora de assinar o contrato. Hoje Vinícius vive em uma pequena casa no terreno da sogra, mas garante que não foi influenciado pelas músicas do sambista carioca Dicró, o inimigo das sogras, na hora de tomar a decisão.

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SONHO
Vinícius contou com subsídio para comprar
o primeiro imóvel para sua família

Há seis anos seria quase impossível para Vinícius comprar um apartamento como o que acaba de adquirir. Em 2004 o Brasil ainda vivia a ciranda financeira dos juros estratosféricos e eram raros os bancos – incluindo os oficiais – dispostos a oferecer crédito farto e longo quando podiam obter rendimento sem risco de mais de 16% ao ano apenas rolando títulos do governo. A redução gradual da taxa de juros e mudanças legais no sistema de financiamento passaram a incentivar os bancos a emprestar dinheiro para os interessados em comprar imóveis. Até então, pessoas como Vinícius precisavam dar de entrada quase a metade do valor do imóvel e financiar o restante com as construtoras, a taxas de juros escorchantes. Era inviável para a maior parte dos brasileiros, e o ditado se tornou realidade: casa própria era, de fato, um sonho.

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RECORDE
A empresa em que Rogério Martins trabalha
vai construir 25 mil imóveis este ano

A partir de 2007, quando pela primeira vez em décadas os empréstimos começaram a chegar à casa dos 30 anos, as principais construtoras do País, que também não conseguiam crédito para financiar suas obras, foram à bolsa de valores. Lançaram ações no mercado financeiro e captaram mais de R$ 10 bilhões. Ali começavam a se formar as condições para o crescimento que está sendo visto agora: juros mais baixos, crédito de longo prazo, segurança jurídica e uma iniciativa privada pronta para atender a uma demanda imensa. Hoje a estimativa é de que o déficit habitacional brasileiro chegue perto dos seis milhões de residências.

PARTE 2