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Um anúncio tem atiçado a curiosidade dos britânicos. Trata-se de um retrato sorridente do primeiro- ministro inglês acompanhado do seguinte texto: “Procura- se desesperadamente um sósia de Gordon Brown”. Assinado: Alison Jackson, fotógrafa e cineasta. Recentemente, esse tipo de propaganda tornouse recorrente na carreira dessa artista inglesa de 37 anos – ela se especializou em retratar sósias de celebridades do cinema, da música, da política e do meio empresarial em situações constrangedoras, engraçadas, irônicas e até ridículas. Além de se valer de sósias, Alison fotografa com equipamentos precários para que seu trabalho saia intencionalmente com uma qualidade inferior, reforçando a impressão de que a foto foi “roubada”, feita às pressas, bem ao estilo dos paparazzi. Já imaginou a cantora Madonna em traje de gala passando roupa? Mick Jagger comprando sapatos numa liquidação? A rainha da Inglaterra de tailleur e colar de pérolas, sentada no vaso sanitário e lendo uma revista de moda? Uma série dessas imagens (que passam por reais) já havia sido reunida no livro Private. Outra séria, ainda mais instigante, vem agora a público na obra Confidential. Elogiada e criticada em igual medida, Alison diz que seu trabalho vai além da piada: “Toco na fixação que temos pelas celebridades e como as imaginaríamos se as conhecêssemos intimamente.”

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Alison chama os seus retratos de “imagens mentais”. Ou seja: elas representariam o que as pessoas desejam saber sobre gente famosa que tem suas vidas estampadas diariamente nos noticiários. Exemplo disso são os retratos mostrando as bizarrices do cantor Michael Jackson. Existem rumores de que ele pinta seus filhos de batom e de que andou dando álcool para as crianças que visitavam o rancho Neverland. Pois bem: Alison arranjou um sósia de Michael Jackson e montou cenas absurdas, como a do cantor colocando bebida na mamadeira do bebê. Outras vezes, o comentário é mais cortante, como na imagem do sósia de Bill Gates dançando de short ao som de um iPod, invenção do concorrente Steve Jobs. Melhor síntese não poderia haver do que a expressão de “George W. Bush” manuseando o difícil quebra-cabeça chamado cubo mágico. Alison conta que esse sósia de Bush era perfeito, mas tinha os lábios superiores mais carnudos: “Ele teve de trabalhar com a boca para ficar idêntico ao presidente americano.”

A fotógrafa recorre a agências de “look-alikes” em todo o mundo e costuma fazer muitos testes de seleção para suas esmeradas produções. “Eu também abordo pessoas nas ruas”, diz ela. E, muitas vezes, envolve-se em confusão. Numa viagem à Ilha de Capri, na Itália, ao topar com uma pessoa parecidíssima com o ator Nicholas Cage, ela dirigiu-se a ele e recebeu em troca uma resposta ríspida. Motivo: o homem não era o sósia, era o próprio Nicholas Cage. No Japão, ao fazer uma sessão de fotos com um clone do jogador de futebol David Beckhmam, o efeito foi oposto. Todo mundo pensou tratar-se do Beckhmam verdadeiro. O anônimo adorou os seus 15 minutos de fama. O que as celebridades reais acham de tudo isso? Odeiam o trabalho de Alison, é claro. “Certa vez um famoso parodiado foi a uma das minhas exposições e começou a socar a foto, quebrando até o seu vidro de proteção”, diz ela.

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Para chegar a tal perfeição nas fisionomias, a artista conta com um “genial diretor de elenco” e com ótimos visagistas – são eles que lançam mão de perucas, próteses nasais e todo tipo de maquiagem para tornar os modelos cada vez mais parecidos com as celebrities. A cereja no bolo vem da técnica utilizada.Para que as fotos pareçam imagens reais feitas por paparazzi, ela usa ângulos e situações voyeuristas, flagradas através de frestas de janelas ou focadas a longa distância. Reforça também o tom granulado de foto mal feita. Alison utiliza uma velha câmera Olympus com uma “velha lente Sigma”, câmeras descartáveis de estações e aeroportos e, claro, o seu velho celular. O seu primeiro trabalho do gênero, quando ainda estudava em Londres no Royal College of Art, já dava a medida de sua ousadia. Enquanto o país ainda chorava a morte de Lady Di, Alison simulou uma foto da princesa acompanhada do amante Dodi al-Fayed – o material foi vetado pela escola e até hoje causa revolta em exposições. O milionário Mohamed al- Fayed, pai de Dodi, foi seco e direto, rotulando o retrato como “de mau gosto”. Outra série de Alison, igualmente polêmica, inclui o ex-primeiro-ministro Tony Blair servindo de escada para Bush subir em um cavalo e mostra Marilyn Monroe com o ex-presidente dos EUA John Kennedy. Apaixonada por sósias, Alison abre o coração e diz qual é o seu grande desejo: “fotografar Brad Pitt. O real”.

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