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AFINAÇÃO
Olga Curado, assessora de Lula, com João
Santana (de costas) e Marco Aurélio Garcia

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Fama de durona, ideológica por formação e técnica por profissão, a ex-ministra Dilma Rousseff tem pacientemente escutado frases deste tipo: “O que interessa é a maneira como as coisas são ditas, não o conteúdo do que é dito.” Com atenção de aluna aplicada, ouve recomendações sobre como se vestir, como se portar e até sobre o que precisa fazer para perder um certo ar de sofredora que estaria passando aos eleitores, conforme algumas pesquisas. A porta-voz dos conselhos é a consultora de imagem Olga Curado, que já havia assessorado Lula em um dos momentos mais difíceis de seu governo, a crise do Mensalão. Rígida e experiente no trato com candidatos, Olga, hoje integrante da equipe do marqueteiro João Santana, entrou de sola na vida de Dilma desde a última semana.

Enquanto a disputa pela Presidência da República não chega à reta final, o comando da campanha de Dilma aproveita para fazer um ajuste fino na estratégia, com o objetivo de reduzir a vantagem do candidato do PSDB, José Serra, nas intenções de voto. O desafio imediato é aprimorar o desempenho da candidata do PT no corpo a corpo com os eleitores, nas entrevistas e em suas aparições diante das câmeras de tevê. Alinhado com essa nova estratégia, o staff do PT, reunido na última semana no QG da comunicação em Brasília, decidiu reduzir o ritmo de viagens de Dilma. O tempo livre será utilizado para ampliar as sessões de media training, com o intuito de aperfeiçoar a maneira de a candidata se expressar em público. “Estamos nos fortalecendo na largada. O momento é oportuno, pois a batalha eleitoral só começa oficialmente em julho”, explica o deputado Rui Falcão, líder do PT na Assembleia Legislativa de São Paulo e membro do conselho político da campanha. “Até lá, a ex-ministra estará afiada”, acredita o ex-prefeito Fernando Pimentel, um dos coordenadores.

ALUNA APLICADA
Dilma Rousseff segue à risca os conselhos dos consultores para
falar de um jeito mais simples e amigável

Acostumada a utilizar uma linguagem técnica, a ex-ministra de Minas e Energia tem sido orientada a lançar mão de um discurso mais simples e acessível ao interlocutor, com frases curtas e diretas. Já de saída, a consultora Olga recomendou à candidata petista uma fonoaudióloga, cobrou obediência a seus conselhos (leia quadro) e começou um intensivo treinamento, principalmente para as aparições na televisão. O objetivo é um só: Dilma precisa ser pragmática e medir gestos e palavras, se quiser ganhar as eleições. As recomendações para que Dilma “treine mais” partiram do próprio presidente. No início da semana, circulou uma versão de que Lula teria feito as observações sobre os rumos da campanha em reunião reservada com a candidata na manhã da sexta-feira 23, no Palácio da Alvorada. Mas, segundo disse à ISTOÉ um integrante do núcleo duro da campanha, esse encontro não ocorreu. O recado de Lula, de acordo com o PT, foi dado durante encontro em seu gabinete no CCBB, em Brasília, com o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB-PE), na tarde da mesma sexta-feira, enquanto Dilma conversava em outra sala com a primeira-dama, Marisa Letícia.

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Para quem já escolheu uma música em espanhol – “El Dia Que Me Quieras” – para cantarolar num programa de tevê, se indispôs com ex- exilados políticos e com aliados mineiros, Dilma demonstra disposição de seguir as novas orientações. Foi assim na terça-feira 27 quando, no Encontro Nacional dos Transportadores Autônomos de Cargas, no Senado, caprichou no sotaque mineiro, usando “cê” em vez de você. A ex-ministra fez ainda um discurso afirmativo, dizendo aos caminhoneiros que não podiam permitir o retorno da política da “roda presa”. Durante gravações do programa de tevê do PT, que ela estrelará no próximo dia 13, em um assentamento de trabalhadores rurais, chamado Pastorinhas, em Brumadinho, na Grande Belo Horizonte, e no parque eólico de Osório (a 95 quilômetros de Porto Alegre), a candidata entoou um discurso mais popular e voltado para o futuro. Na quinta-feira 29, durante visita à Agrishow, feira de equipamentos agrícolas em Ribeirão Preto (SP), distribuiu abraços, beijos e, usando tailleur e chapéu, subiu num dos tratores expostos no local. Defendeu com uma linguagem direta o remédio amargo da elevação da taxa de juros pelo Banco Central. “Diante do momento eleitoral, é preciso agir com coragem e transparência. Ninguém vai fazer malabarismo para ganhar eleição. O Brasil está maduro”, disse.

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VENCEDORA
Dilma faz discurso afirmativo e direto para passar
a imagem de sucessora ideal para o presidente Lula

Nas entrevistas intensificadas nas últimas semanas, Dilma procura passar segurança. Assim mostra que está preparada para ocupar o lugar de Lula. Agora ela faz questão de chamar os entrevistadores pelo nome, sobretudo na televisão e no rádio. Confrontada com uma pergunta eventualmente mais dura, tem procurado manter a tranquilidade, ponto considerado fundamental nos treinamentos de Olga. A consultora mistura as técnicas do marketing eleitoral aos ensinamentos da arte marcial do aikidô e da terapia da Constelação – uma abordagem terapêutica que acredita que parte dos problemas enfrentados pelas pessoas deve-se a fatos que aconteceram no passado. Olga trata o corpo como um veículo de comunicação. Ensina que para ser vencedora Dilma precisa se aproveitar da força do oponente, sem entrar em guerra pessoal. Baseada ainda nos princípios do aikidô, aconselha a candidata a mover-se de um jeito natural, a impor limites ao adversário e até a bater de forma precisa, se necessário.

As lições marciais de Olga também já se transformaram em clássicos do marketing político. Na campanha eleitoral para prefeitos em 2008, a consultora foi contratada por um parlamentar da região Norte para trabalhar sua imagem. As pesquisas mostravam que ele tinha a aparência de bruto, arrogante e grosseiro, características nada atraentes ao eleitor. Trancados por dois dias em um hotel, ao custo de R$ 20 mil, Olga obrigou-o a desenhar, a ver filmes e a ser confrontado com imagens do dia a dia da campanha. Por fim, pediu ao político que lhe desse um soco. Surpreso, ele sorriu sem-graça e não bateu. Olga foi, então, mais enfática: “Estou mandando você me bater.” O candidato socou levemente o ombro da consultora. “Bata forte”, insistiu ela. O parlamentar tentou uma pancada certeira que Olga defendeu com um contragolpe que o deixou imobilizado e sem fôlego. “Isso é para você aprender que não adianta bater, tem que saber bater”, disse ela e emendou: “Você acha que é simples sair por aí só batendo na oposição?” O político, ao que parece, não levou a sério as orientações, pois perdeu a disputa eleitoral.

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Olga se vale de diversas sessões de cinema para aprimorar a capacidade de o candidato resolver conflitos e driblar adversidades. Integram a cinemateca de Olga, por exemplo, filmes como “O Júri”, dirigido por Gary Fleder e estrelado por John Cusack e Dustin Hoffman, uma trama que envolve manipulação de pessoas, corrupção e muita estratégia. “Perfume de Mulher” e até “Os Simpsons” são outros títulos utilizados pela consultora para preparar a imagem, os gestos e o discurso dos alunos.

As últimas entrevistas de Dilma, depois de algumas aulas com os consultores de imagem, foram acompanhadas por grupos de eleitores reunidos numa sala, as chamadas pesquisas qualitativas. As análises iniciais revelaram boa aceitação. Mas concluiu-se que a candidata do PT precisa se aproximar ainda mais do público. Dentro dessa nova estratégia, foi criado o “Fala, Dilma”, em que ela responde, pela internet, a uma entrevista feita por alguém de sua equipe. A gravação, de cinco minutos, é oferecida posteriormente a emissoras de rádio. No programa de estreia, na terça-feira 27, Dilma falou sobre o Bolsa Família. “O programa ajudou a tirar milhões de pessoas da miséria. O Bolsa Família deve continuar até que as pessoas não precisem mais”, defendeu. “Quem é contra é quem não precisa. Quem precisa sabe o quanto é importante ter um dinheiro para dar às crianças uma refeição, duas ou três, todo dia”, concluiu.

Outra orientação partiu do Conselhão de Dilma, com o qual ela se reúne normalmente às segundas ou terças-feiras em Brasília. Concluiu- se que ela deveria evitar ir a Estados onde há conflitos entre partidos da base aliada. Na última semana, por exemplo, foram canceladas viagens da petista ao Paraná e a Goiás, onde os aliados ainda não se acertaram. Com isso, a agenda de viagens de Dilma passou a privilegiar reuniões com artistas, empresários, agricultores e sindicalistas. Em visita ao Rio, há duas semanas, ela participou de encontro com artistas promovido pelo músico Wagner Tiso. Na sequência, foi a um evento do PT-RJ na quadra da escola de samba Portela. “Dilma tem surpreendido. E está crescendo muito na preferência dos eleitores do Rio, segundo nossas pesquisas”, elogiou o vice-governador Luiz Fernando Pezão (PMDB-RJ). Neste sábado 1º, Dilma participará das festas do Dia do Trabalhador promovidas pela Força Sindical e pela CUT. Estará ao lado do presidente Lula, de quem o PT espera uma maior participação na campanha no segundo semestre. “Esperamos que ele faça como o Corinthians: se preserve no Paulistão, para ir com tudo na Libertadores”, disse à ISTOÉ o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha. O Paulistão seria o atual momento. A Libertadores, a reta final da campanha, quando o jogo será para valer.

Enquanto Lula não entra em campo, empenho não tem faltado à campanha do PT. Valendo-se dos conselhos de Olga e de sua equipe de comunicação, Dilma está empenhada, mais do que nunca, em vencer a eleição de outubro. E tem rebatido com firmeza os ataques da oposição. Para crescer no conceito do eleitorado, a candidata do PT sabe que tem de se aperfeiçoar ao longo da campanha. Não se incomoda de treinar mais, como recomendou o presidente Lula. A ex-ministra segue ao pé da letra o poema do espanhol Antonio Machado, usualmente citado pela esquerda brasileira: “Caminhante, não existe caminho. O caminho se faz ao caminhar.”

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