chamada.jpg

selo.jpg

O paulista Antônio Aparecido Cardilli, 48 anos, é barrageiro, um tipo de profissional que rompe fronteiras do Brasil e do mundo construindo usinas hidrelétricas. São armadores, carpinteiros, engenheiros, pedreiros e até economistas, caso de Cardilli. Como ciganos, e aos milhares, eles fincam moradia por um período médio de cinco anos em uma região – calcula-se que 70% dos operários de uma usina são migrantes, portanto, barrageiros. Depois, eles partem para outros desafios, deixando nas cidades, antes ocupadas, um rastro de abandono.

Essa lógica mudou em Porto Velho (RO) onde um consórcio de empresas ergue, sobre o rio Madeira, a Usina Hidrelétrica Santo Antônio, a maior barragem em construção no mundo. Lá, Cardilli, funcionário da construtora Norberto Odebrecht, uma das integrantes do consórcio, criou em 2008 o Programa Acreditar, projeto de qualificação profissional continuada que tem levado aos bancos escolares milhares de rondonenses. Em dois anos, o programa formou 46 mil pessoas, das quais mais de nove mil foram contratadas pela própria Odebrecht, que investiu R$ 15 milhões na iniciativa. O excedente qualificado tem buscado colocações entre as mais de oito mil empresas que se instalaram em Rondônia depois do início das obras da usina.

img1.jpg
VIDA NOVA
Sheila Machado e o pai, Pedro. Os dois se inscreveram no programa.
Ela será mecânica e ele já deixou de ser caminhoneiro

É um projeto que pode ajudar a mudar a realidade do Estado encravado no meio da Amazônia, onde até recentemente a população trabalhava com extrativismo de minérios e da floresta. Afastada do desenvolvimento, Rondônia contabilizava no último censo (2000) 1,5 milhão de habitantes, quase 60% deles analfabetos funcionais. Em 2006, só em Porto Velho, os desocupados somavam mais de 30 mil. Foi nesse cenário que, há quatro anos, o engenheiro Cardilli desembarcou com a missão de contratar a equipe para construir a usina. Depois de mapear a região e identificar os problemas sociais locais, ele resolveu apostar em uma ideia arrojada para admitir os dez mil operários. Em vez de importar a mão de obra em massa, resolveu recrutá-la no próprio Estado.

img3.jpg
VIDA NOVA
Marcilena dos Santos faz curso de aprendiz de pedreiro porque
quer deixar de ser empregada doméstica.

“O objetivo era mitigar a migração de trabalhadores de outras regiões do País”, conta Cardilli. A proposta de montar uma equipe local, porém, quase foi abandonada por causa da baixa qualificação dos profissionais. “Tornaria inviável tocar uma obra tão sofisticada”, relata o engenheiro. A dura realidade local, no entanto, não desanimou Cardilli. Sonhador, ele acreditou que era possível unir desenvolvimento sustentável e bons negócios. E foi em frente. “A ideia era reverter o impacto social negativo, depois de nossa saída da região”, conta. Hoje, o programa, que é gratuito, mantém em sala de aula mais de 750 alunos diariamente. A depender do ofício escolhido – pedreiro, carpinteiro, mecânico, eletricista ou técnico em meio ambiente –, a carga horária das turmas pode variar de 32 a 200 horas de estudos.

A empregada doméstica Marcilena Marquesa dos Santos, 25 anos, foi uma das 14.054 mulheres que se matricularam no programa. Casada, mãe de quatro filhos, ela recebe meio salário mínimo fazendo faxina e, há um mês, resolveu mudar radicalmente de profissão inscrevendo-se para ser aprendiz de pedreiro, de olho no salário de R$ 700 da usina, fora horas extras. “Quero subir na vida”, diz. Benedito Carlos, 47 anos, é outro beneficiário do Acreditar. Ele trocou a vida de garimpeiro pela de operador marítimo fluvial de máquinas. É ele quem pilota a balsa que transporta, de um lado para o outro do rio Madeira, caminhões, tratores e carros. “Já comprei minha casa e tenho até uma poupança, depois que aprendi essa nova profissão”, comemora.

img2.jpg
MONUMENTAL
A hidrelétrica do rio Madeira e Antônio Cardilli, criador do projeto: mão de obra local

De olho no futuro, o programa resolveu apostar também em jovens e adolescentes. Em parceria com o Senai, a Odebrecht criou o programa Acreditar Júnior, um curso de capacitação profissional de jovens de 15 a 17 anos. Nesse projeto, os 400 alunos matriculados recebem, além do uniforme e refeições, metade de um salário mínimo para aprender mecânica, computação e noções de meio ambiente. “Eles poderão ser os funcionários da usina daqui a alguns anos”, acredita Cardilli. A estudante Sheila Fernandes Machado, 17 anos, se inscreveu no curso de mecânica diesel. “Era louca para saber como funcionava um motor”, conta. O pai de Sheila também frequentou um curso do Acreditar. Caminhoneiro, Pedro vivia fazendo frete nas estradas brasileiras e, há dois anos, trocou o volante de caminhão pela operação de um guindaste na obra. “Superei um problema na minha vida que era ficar 15 dias fora de casa”, conta.

Superação, de fato, é a palavra que melhor traduz as histórias de vida de milhares de trabalhadores em Rondônia que conseguiram um posto de trabalho depois do projeto Acreditar. O programa deu tão certo que a chegada de milhares de migrantes para Rondônia não aconteceu. Hoje, 80% dos operários da obra são do próprio estado. E por isso, sobra espaço nos alojamentos reservados aos barrageiros. “Metade das duas mil camas está desocupada”, sorri Cardilli, confiante em um futuro melhor para os rondonenses.

Curiosidades

39 estádios equivalentes ao Maracanã poderiam ser construídos com a quantidade de concreto que será utilizada na usina do rio Madeira
18 torres Eiffel poderiam ser erguidas com a quantidade de aço despendida na hidrelétrica
16,8 milhões de sacos de cimento de 50 quilos serão consumidos na obra

Projeto Acreditar

46 mil pessoas é o número de formados no programa
9 mil trabalhadores que passaram pela qualificação profissional foram contratados pela Odebrecht
R$ 15 milhões foram investidos no projeto pela construtora

selo_apoio.jpg