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CARA LIMPA
Maira Jung, 47, quer preservar a sua história, contada pelas rugas

Há mais de dez anos, o botox promete felicidade instantânea a pessoas que sofrem só de imaginar o aparecimento das primeiras linhas de expressão. Fácil e rápida, com apenas uma agulhada a toxina botulínica apaga os tão indesejados sinais da idade. Em tempos onde ser jovem é passaporte para a aceitação social, não demorou a conquistar multidões. Mas, ainda sim, o sucesso do produto não é unanimidade. Por razões que vão desde os riscos à saúde até a necessidade de se manter as expressões faciais, cada vez mais, artistas consagrados e gente comum tornam pública a sua aversão à substância. Agentes de atores, diretores de cinema e estúdios de Hollywood estão encampando um movimento contra a onda das estrelas retocadas. Sua principal crítica é que o uso desenfreado alterou a fisionomia e congelou a expressão dos atores. Na tela, no lugar de expressões de tristeza, raiva, felicidade e prazer, observam-se rostos esticados, lisos, estáticos e sem vida. “Não há atrizes com mais de 35 anos que consigam expressar raiva”, disparou o diretor americano Martin Scorcese.

A última a se declarar contra o uso da toxina para fins estéticos foi a atriz americana Drew Barrymore, 35 anos. “Prefiro ter a pele de um cão basset hound”, disse. Dias antes, a apresentadora Xuxa, 47 anos, disse que não recorria a ela porque temia que seu rosto ficasse igual a um tamanco. A insatisfação também atinge os altos executivos da indústria de cinema americana. A Warner está privilegiando o recrutamento de artistas na Europa e no Canadá, onde a cultura do botox é menor. A Fox, por sua vez, está fazendo uma série de testes de vídeo. “Estamos atrás de autenticidade”, declarou Márcia Shulman, vice-presidente de casting da Fox, ao jornal britânico “Daily Mail”. “Se o papel é de uma mãe, precisamos de uma atriz que se pareça com uma.” O excesso de botox pode prejudicar em definitivo os movimentos da face. “Uso exagerado ou aplicações frequentes ocasionam atrofia muscular”, diz o cirurgião plástico Sebastião Guerra, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. “Também há riscos de migração da substância para outras musculaturas, quando aplicada em dose excessiva”, afirma o cirurgião plástico Alexandre Senra (leia no quadro outras implicações).

Mas é difícil em nossa sociedade nadar contra a corrente e engrossar o movimento. “Se você tem dinheiro, é complicado resistir”, diz Denise Santanna, historiadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). “A pressão pelo corpo jovem é absurda.” Ainda assim, o levante encontra eco fora do meio artístico. Aos 47 anos, a perfumista carioca Maira Jung afirma que jamais recorreria a práticas extremas em nome de uma pele lisa. “Levei tantos anos para construir minhas rugas, que acho um absurdo comprometer minha história com uma substância química.” A bióloga paulista Regiane de Paula, 44 anos, tem pavor de pensar na possibilidade de perder a sua identidade. “O envelhecimento é um processo natural, que quero viver com dignidade.” A esperança de quem tem argumentos contra o uso da toxina é de que seu discurso influencie outras pessoas. “Para isso, só aprendendo a envelhecer sem medo e culpa”, diz Denise.

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