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ANUNCIAÇÃO
Paul Bettany no filme “Legião”, que chega ao Brasil em junho

Os anjos já não são tão anjos assim. Deixaram de ser invisíveis, sem sexo e sem costas. Agora eles se mostram mais humanos, mundanos e sedentos de desejo, capazes até de se apaixonar perdidamente por quem deveriam proteger. Não chegam a ser demoníacos, mas revelam-se malvados e carnais.

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APOSTA CERTA
“Angelology”, de Danielle Trussoni, foi
comparado a “O Código Da Vinci”

É assim que esses seres alados estão sendo retratados numa leva de livros que nos EUA já foi identificada como o mais novo filão editorial. E é devido a esse lado carnal e sedutor que estão fazendo tanto sucesso. Ao todo, são quase uma dezena de títulos inéditos, a maioria planejada como série e tratando do mesmo tema – os anjos caídos. No Brasil, a onda começa a chegar às livrarias no segundo semestre com “Hush Hush”, de Becca Fitzpatrick. Os direitos foram comprados pela editora Intrínseca, que espera êxito semelhante ao da tetralogia “Crepúsculo”. “O gênero sobrenatural causa muito frisson e essa moda de anjos pode ser vista como consequência disso”, diz Danielle Machado, responsável pelo setor infanto-juvenil da editora. Na sequência, sai em agosto pelo selo Galera, da Record, “Fallen”, de Lauren Kate. Trata-se do primeiro volume de uma tetralogia que já é cult entre os jovens americanos.

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Will Smith comprou os direitos de “Angelology”,
por US$ 1 milhão

Recém-lançado nos EUA, “Fallen” vendeu 200 mil exemplares nas primeiras semanas e ocupa a quarta posição na lista de best-sellers do “The New York Times”. Tem como protagonistas os arcanjos Daniel e Cam, que brigam pelo amor da humana Luce. E, para isso, não medem consequências. A história se passa em um reformatório, no sul dos EUA. É para lá que Luce é mandada, suspeita de matar o namorado. Fica amiga de dois internos, justamente Daniel e Cam, e somente mais tarde vai saber que esse encontro não se deu por acaso. Já a história de “Hush Hush”, misto de romance, suspense e ação, gira em torno de um “bad boy” alado, chamado Patch. É assim que o protagonista é descrito pela autora Becca, para quem a rebeldia do personagem tem mais a ver com escolhas e redenção – a sua única cobiça é experimentar tudo aquilo que nunca viveu como querubim.

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Danielle Trussoni

A batalha do bem contra o mal pode ganhar contornos mais ousados, como prova o romance “Angelology”, de Danielle Trussoni, que acaba de ser lançado nos EUA. Com enredo comparado ao de “O Código Da Vinci”, de Dan Brown, centra-se na freira Evangeline, 23 anos, que é procurada por um estudante de arte de nome Verlaine. O jovem está fazendo uma pesquisa para o patrão, que ele não sabe ser um nephilim: ser demoníaco, metade anjo, metade humano, cuja dinastia acumulou uma grande fortuna e busca dominar a Terra através dos séculos. Evangeline, nascida numa família de angelólogos (que fazem parte de uma ordem secreta que se opõe historicamente aos nephilins), possui um documento secreto que pode solucionar esse conflito que vem dos tempos da “Bíblia”. Antes mesmo de ser editado, esse título foi alvo de uma grande disputa pelos estúdios de Hollywood. Quem levou a melhor foi o ator Will Smith, que adquiriu os direitos de filmagem por US$ 1 milhão. Também ágil, a Disney já garantiu exclusividade sobre “Fallen”, comprado um mês após o livro chegar às livrarias. No cinema, o filão tem como pioneiro o filme “Legião”, que chega ao Brasil em junho. O voo dos anjos está se dando em céu de brigadeiro.

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Trecho de "Fallen" autorizado pela editora em primeira mão para IstoÉ

Tradução não definitiva do livro de Lauren Kate, a ser publicado pela Galera Record


Ele usava um cachecol vermelho em volta do pescoço. Não estava nem um pouco frio lá fora, mas usava uma jaqueta de motoqueiro de couro preta por cima do suéter, também preto. Talvez por ser o único ponto colorido no grupo, Luce só conseguia olhar para ele. Na verdade, todo o restante a sua volta empalideceu, por um longo momento, a ponto de Luce se esquecer de onde estava.

Ela analisou seu cabelo dourado e o bronzeado, combinando. Suas maçãs do rosto altas, os óculos escuros que escondiam os olhos, o formato suave de seus lábios. Em todos os filmes que Luce já vira, em todos os livros que lera, o objeto do interesse amoroso era sempre estonteantemente bonito — com exceção de algum pequeno defeito, como o dente lascado, o redemoinho charmoso ou o sinal de nascença em sua bochecha esquerda. Ela sabia a razão — se o herói fosse perfeito demais, arriscaria ser inacessível. Mas, acessível ou não, Luce sempre tivera uma queda pelos sublimemente deslumbrantes. Como esse garoto.

Ele estava encostado no prédio com os braços cruzados de leve sobre o peito. E, por uma fração de segundo, Luce viu uma imagem dela aconchegada naqueles braços. Ela balançou a cabeça, mas a visão continuava tão clara que quase a fez disparar em direção a ele.

Não. Isso era loucura. Certo? Mesmo numa escola cheia de malucos, Luce tinha bastante noção de que esse instinto era loucura. Ela nem conhecia esse cara. Ele estava falando com um garoto mais baixo, com dreadlocks e um sorriso dentuço. Os dois riam muito e, no fundo, de um jeito que deixou Luce estranhamente invejosa. Ela tentou se concentrar e lembrar há quanto tempo não ria, ria de verdade, como eles.

— Aquele é Daniel Grigori — disse Ariane, se inclinando e lendo seus pensamentos. — Posso ver que chamou a atenção de alguém.