A funcionária de carreira Maria Fernanda Ramos Coelho, 44 anos, está há quatro meses no Comando da Caixa Econômica Federal, pivô de escândalos que marcaram o governo Lula, como a quebra de sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa que culminou na queda do então ministro da Fazenda Antônio Palocci. A Caixa, uma máquina de negócios que gerencia os programas sociais do governo Lula, vai se reabilitando como pode. Em entrevista a ISTOÉ, ela revela os planos de mudanças e, em vez do amargo passado recente da CEF, prefere voltar os olhos para o futuro. O banco oficial está de olho na baixa renda e disponibilizou neste ano R$ 52 bilhões para empréstimos.

ISTOÉ – A quebra do sigilo bancário do caseiro arranhou a imagem do banco?
Maria Fernanda Ramos Coelho
– Esse episódio está superado. Os números da Caixa demonstram isso. As medidas internas foram todas adotadas. Hoje, o processo corre na Polícia Federal.

ISTOÉ – A ampliação do crédito não faz da CEF um cabo eleitoral do
presidente Lula?
Maria Fernanda
– Há preconceito quando a gente passa a operar com as camadas de renda mais baixa. A Caixa começa a fazer inclusão bancária. Há 40 anos as Casas Bahia, por exemplo, encaram essas pessoas como grandes clientes enquanto o sistema bancário tradicional simplesmente as ignorava.

ISTOÉ – E quais os resultados?
Maria Fernanda
– O que eu posso dizer hoje é que a Caixa saiu na frente e ganhou mercado. Passamos a incomodar. Hoje somos um banco que consegue fazer bons negócios com um setor que antes era marginalizado.

ISTOÉ – O presidente Lula tem méritos na ampliação do crédito?
Maria Fernanda
– Sem dúvida. Primeiro pela redução da taxa de juros, segundo, pelo crescimento do emprego formal e, depois, pelo aumento da renda média do cidadão. Sem falar nas medidas adotadas na área habitacional. Esse cidadão que hoje está tendo acesso ao crédito é o cidadão que antes vivia na mão do agiota.

ISTOÉ – E conseguiu se livrar dele?
Maria Fernanda
– Com certeza. O aposentado até pouco tempo atrás ao banco e o agiota ia junto na boca do caixa. Era uma coisa de deixar as pessoas constrangidas, envergonhadas. Desde 1992 eu fui gerente-geral e essa era a realidade do balcão.

ISTOÉ – O crédito habitacional é o que tem rendido melhores resultados?
Maria Fernanda
– Os números do crédito habitacional são históricos para a Caixa. Só neste primeiro semestre, foram R$ 7 bilhões, o que significa que praticamente um milhão de pessoas receberam algum tipo de benefício na área habitacional.

ISTOÉ – O que isso significa de fato?
Maria Fernanda
– É praticamente o dobro do que a gente aplicou no primeiro semestre do ano passado. O cidadão de qualquer faixa de renda hoje sabe que,
se procurar uma agência da Caixa, pode adquirir um imóvel. Ele percebe que é possível sair do aluguel.

ISTOÉ – O crédito comercial segue no mesmo ritmo?
Maria Fernanda
– Para pessoas físicas e jurídicas vem crescendo em torno de
34% ao ano. Este ano, nossa expectativa é aplicar em torno de R$ 52 bilhões. E
hoje nós temos na carteira toda, entre pessoas físicas e jurídicas, um excelente índice de aprovação de crédito. De 100 pessoas que procuram a Caixa, 96 têm
seu crédito aprovado.

ISTOÉ – A que a sra. atribui esses resultados?
Maria Fernanda
– Um elemento fundamental foi o debate interno sobre o planejamento estratégico da empresa, sua visão de futuro e seus desafios. A
Caixa, desde 2003, assumiu, de fato, seu papel de banco público.

ISTOÉ – E o que muda com isso?
Maria Fernanda
– Privatizar, como se pensou em 2002, seria um desserviço à população. O País precisa de uma instituição que implemente as políticas públicas, que utilize sua rede de duas mil agências bancárias, nove mil lotéricas e quatro
mil correspondentes bancários para atender o cidadão que jamais teve acesso
a uma conta bancária ou ao crédito. Só na inclusão bancária são mais de
4,2 milhões de contas abertas.