“Ninguém te diz o que é certo ou errado – você faz o que quer. E aí, com uma ideia na cabeça e uma câmera na mão, qualquer um tem a possibilidade de criar algo que as pessoas possam assistir e dizer se é bom ou ruim.” Com o mesmo jeito simples e direto que cativa os espectadores do “CQC”, programa da rede Bandeirantes do qual é um dos protagonistas, o humorista Rafinha Bastos define a alma e a substância do YouTube, site de compartilhamento de vídeos responsável por uma mudança irreversível no comportamento de bilhões de pessoas. Rafinha está certíssimo: estamos diante de um terreno onde há espaço para todo tipo de criação audiovisual – do registro de uma reunião familiar de final de semana à nova campanha mundial de um gigante como a Nike, isso sem falar de discussões políticas e dos flagrantes jornalísticos que todo cidadão armado com um celular com câmera é capaz de captar.

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SHOW DO BILHÃO
Hurley e Chen (foto acima) venderam o YouTube ao Google por US$ 1,65 bilhão

Criado há 5 anos por três jovens geeks do Vale do Silício, região que concentra as maiores empresas de tecnologia do mundo, o YouTube é um fenômeno superlativo. Seus números impressionam. Segundo o Google, que adquiriu o site por US$ 1,65 bilhão em outubro de 2006, 24 horas de vídeos são postadas por seus usuários cadastrados a cada minuto. Atualmente, ele contabiliza cerca de um bilhão de uploads por dia. E já possui versões locais em 22 países, inclusive o Brasil, onde está desde junho de 2007. “O site é gigantesco e é praticamente impossível lidar com as diferentes culturas que ele agrega”, diz Mia Quagliarello, diretora de marketing de produtos para comunidades do YouTube. “Sempre estou em contato com os nossos usuários. Valorizamos muito a interação social que ele proporciona”, completa.

Não há dúvidas de que a grande sacada por trás do sucesso do site foi ter alçado o usuário ao papel de estrela. Mais uma vez, a necessidade foi a mãe da invenção. Segundo a versão mais aceita sobre a sua criação – uma briga entre seus fundadores lançou uma nuvem de fumaça sobre a história – a ideia surgiu quando três amigos, Chad Hurley, Steve Chen e Jawed Karim, então funcionários do site de comércio eletrônico PayPal, resolveram bolar uma plataforma na qual a publicação de vídeos fosse rápida e sem complicação. Frustrados depois de tentar postar alguns vídeos gravados em uma festa na casa de Chen, eles colocaram a mão na massa e chegaram ao formato básico da ferramenta. Em 23 de abril de 2005, o clip de 19 segundos “Eu no Zoo”, que mostrava Karim em frente aos elefantes do zoológico de San Diego, na Califórnia, inaugurou a revolução. E o mundo nunca mais foi o mesmo.

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NO VERMELHO
O site de vídeos não dá lucro. E isso parece não incomodar Larry Page e Sergei Brin, do Google

Entre as alterações de comportamento mais significativas geradas pelo YouTube, destaca-se a derrubada dos muros da privacidade. Hoje, indivíduos cada vez mais filmados e expostos em uma rede de informação digital que guarda seus dados e segredos usam o vídeo como querem – para o bem e para o mal. Quem se sentir lesado pode retirar imagens indesejáveis do ar com o auxílio da justiça. “Hoje, um clip pode ser deletado 24 horas depois da decisão judicial”, diz o advogado Ricardo Opice Blum, especialista em direito eletrônico e professor da PUC-SP. Além disso, os próprios usuários podem alertar os moderadores do site ao toparem com conteúdo ofensivo.

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PARTE 2