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MEDO
Tremor do dia 4 abalou o norte do México e foi sentido na Califórnia

Há mais de um século, a população da costa oeste da América do Norte convive com uma tensão constante. De uma forma ou de outra, todos esperam pelo “Big One”, o temido terremoto que, segundo consenso de especialistas, tem 70% de chance de acontecer nos próximos 30 anos e pode fazer com que parte do litoral desmorone no Oceano Pacífico. O tremor de 7.2 graus de magnitude na Escala Richter que atingiu a província de Mexicali, no México, no domingo 4, foi o mais recente aviso de que o pior pode estar próximo. O abalo, que matou quatro pessoas, feriu 223 e causou uma ruptura de 80 quilômetros de largura no plano da falha San Andreas (confira quadro na página seguinte), elevou o alerta das cidades localizadas em sua extensão ao nível máximo. Isso porque o Estado americano da Califórnia e a cidade de São Francisco em especial – localizada no crítico segmento sudeste da falha – convivem com a iminência de um acontecimento que pode chegar sem aviso. “Pode-se dizer que a falha está grávida de nove meses”, alerta Thomas Jordan, do Centro Sismológico da Califórnia do Sul.

Somado às recentes tragédias no Haiti e no Chile, o tremor do dia 4 deixa de fato a sensação de que uma grande hecatombe está prestes a acontecer. O Centro de Investigação Científica e de Educação Superior de Enseada, no México, classificou como “sem precedentes” o terremoto na região. Ele foi sentido, inclusive, nos municípios americanos de Calexico, San Diego e Los Angeles. A brasileira Elaine Wanderley, 30 anos, mora desde 2005 em San Diego e relatou à ISTOÉ que o evento causou grande  comoção na cidade, antes tranquila. “Foram os 90 segundos mais longos da minha vida”,  diz Elaine. “A sensação é muito estranha.Os quadros da parede ficaram tortos, vasos e copos balançaram sobre a mesa. Foi chocante”, completa.

Apesar de não ter acusado o tremor, São Francisco vive sob constante ameaça de terremotos. John Chappel, designer de 39 anos e morador da cidade, conta que as pessoas estão assustadas diante da quantidade de eventos do tipo que ocorrem mundo afora. “Com tanto terremoto acontecendo por aí, fica difícil não pensar que o Big One está se aproximando”, diz. “O medo é de que se repita a tragédia de 1906, mas com proporções ainda maiores”, conclui. O evento ao qual John se refere é o terremoto ocorrido em 17 de abril daquele ano. Com 8.0 graus de magnitude, o fenômeno destruiu a cidade, tomada pelas chamas logo depois. O jornalista Jack London foi testemunha ocular da tragédia e escreveu um impressionante e agora clássico relato sobre ela. “Todas as engenhocas e salvaguardas humanas foram desmanteladas por 30 segundos de contorção da crosta terrestre”, escreveu London. “São Francisco desapareceu. Não ficou nada além da lembrança.” O terremoto causou três mil mortes e prejuízos da ordem de US$ 500 milhões.

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O fatídico abalo de 1906, primeiro grande desastre natural a ser fotografado pelo homem, não foi o único daquele ano. Quatro meses depois, a cidade de Valparaíso e toda a região central do Chile foram sacudidas por um terremoto de 8.2 graus. Segundo dados da Universidade do Chile, 20 mil pessoas morreram em decorrência do tremor e consequentes tsunamis. Em fevereiro deste ano, um terremoto de 8.8 graus atingiu dois milhões de pessoas naquele país. Uma estranha e incômoda coincidência se considerarmos que os peritos acreditam que importantes movimentos nas falhas da crosta terrestre ocorrem em ciclos de 100 anos. Matthew Betterhausen, da Agência de Gerenciamento de Emergências da Califórnia, afirma que “os recentes terremotos no Chile e no Haiti não são bons presságios para os californianos. Eles lembram a necessidade de os moradores estarem preparados”. Se um terremoto semelhante ao de 1906 acontecesse hoje, o prejuízo seria de, pelo menos US$ 150 bilhões, de acordo com o estudo da Risk Management Solutions. Isso sem contar as perdas humanas.

Apesar de toda especulação e dos avanços da ciência, que indicam a alarmante iminência do “Big One”, o dia da sua ocorrência permanecerá um mistério. Mais um incentivo para o esforço dos especialistas. Neles reside a esperança da criação de sistemas capazes de antecipar a chegada de desastres naturais como o do dia 4.