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Os portadores de dor nas costas acostumaram-se a ouvir que o remédio para acabar com o sofrimento era ficar imóvel, de preferência deitado na cama. Pouco a pouco, a ciência descobre que o melhor é fazer exatamente o contrário: movimentar-se. E quanto mais, e mais corretamente, melhor. Com o devido cuidado, andar ou sentar-se, por exemplo, ajuda o organismo a combater a dor. Além disso, sair da cama ou do sofá contribui para melhorar o ânimo e afastar a depressão, doença que pode se instalar caso o paciente permaneça muito tempo sem nenhuma atividade.

O grande problema é convencer o paciente a se mover, mesmo com dor. Como superar o medo de sentir um sofrimento muito grande ou de travar em alguma posição que o prejudique ainda mais? A resposta está sendo fornecida por alguns métodos que, cada um a sua maneira, ajudam o paciente a superar esse obstáculo.

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ESTUDO
Reeves pesquisa como músculos e ossos estão ligados à coluna dorsal

Alguns deles tiveram sua eficácia referendada por estudos divulgados nas últimas semanas. O primeiro é a terapia cognitivo-comportamental. Trata-se de um recurso largamente usado na medicina no tratamento de patologias que vão da insônia à fobia. Seu objetivo é fazer o paciente modificar o modo como encara sua doença e criar estratégias práticas que o auxiliem, por exemplo, a evitar os gatilhos que desencadeiam crises. No caso da dor nas costas, seu uso é mais recente. “Sua finalidade é intervir diretamente nos pensamentos e no comportamento do indivíduo diante da dor”, explicou à ISTOÉ a terapeuta Zara Hansen, da Universidade de Warwick, na Inglaterra. “Por exemplo, se uma pessoa tem dor persistente, ela  provavelmente pensará que deve evitar qualquer coisa que traga dor e que a machuque ainda mais. Ficará menos ativa ainda. A questão é que seus músculos também ficarão mais fracos e darão menos sustentação às costas, piorando a condição.” Em uma situação como essa, a terapia alerta o paciente para o fato de que pode cair em um ciclo vicioso e que o ideal é se mover, gradualmente, para combater a fraqueza muscular que pode advir do repouso.

A pesquisadora inglesa testou o poder da terapia em um estudo realizado com 600 pessoas. Durante um ano, 400 participantes submeteramse a sessões da técnica e 200 seguiram o tratamento convencional, baseado em remédios e exercícios. Ao final, verificou-se que o primeiro grupo apresentou maior atividade física e social e menos queixas de dor do que o segundo.

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TREINO
A fotógrafa Sandra aprendeu o modo certo de se agachar quando está trabalhando

Na Suécia, cientistas da Universidade de Gotemburgo trabalham com outra estratégia, mas que também objetiva ensinar o paciente a superar ou a conviver com a dor sem se afastar de sua rotina. O método foi batizado de aprendizado motor-sensorial e congrega três técnicas de terapias focadas no desenvolvimento de maior consciência corporal e postura correta. “As pessoas que têm dor há muito tempo acabam limitando seus movimentos ou incidindo em erros de postura que só agravam o desconforto”, disse à ISTOÉ a fisioterapeuta Christina Schom-Ohlsson. “Nós os ajudamos a identificar e corrigir esses erros.” Ao término de um trabalho feito com 40 indivíduos, Christina constatou que aqueles que fizeram o treinamento ganharam muito mais confiança em sua própria capacidade de lidar com a dor em meio ao cotidiano, sem se ausentar de atividades rotineiras.

Intervenções no ambiente de casa e do trabalho são outras ferramentas que ganham destaque. Em uma pesquisa realizada com 134 pacientes, cientistas holandeses e canadenses observaram que os que tiveram itens como móveis ou prateleiras modificados após uma crise conseguiram voltar ao trabalho em média 88 dias depois. Aqueles que mantiveram as estruturas sem alterações demoraram em média 208 dias.

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No Brasil, a professora de educação física Valéria Santos de Almeida, de São Paulo, trabalha na mesma linha. Ela faz um diagnóstico do que está errado no trabalho ou em casa, sugere mudanças e também orienta sobre posturas corretas, em especial aquelas específicas para cada circunstância. A fotógrafa Sandra Bordin, 48 anos, de São Paulo, passou por essa espécie de reeducação. Por conta da profissão – além de ter carregado por muito tempo equipamentos pesados, ela é obrigada a agachar-se muitas vezes, por exemplo –, ela era castigada pela dor. Agora, aprendeu a postura certa para trabalhar. “Sei que não devo curvar as costas quando me abaixo”, diz ela, citando uma das recomendações que segue à risca.

Na Academia Patrícia Lacombe, em Campinas, as especialistas usam a ginástica holística. Composta por mais de 800 movimentos, a modalidade auxilia o doente a identificar o que está errado na sua postura e aprender como se corrigir. “A ginástica holística trata as pessoas na sua globalidade”, explica a fisioterapeuta Sandra de Farias. “Sendo assim, podemos fazer movimentos com o pé e obtermos resultado na coluna. E a técnica permite ao indivíduo fazer os movimentos dentro de suas possibilidades.”

Opções como essas são resultado de um novo entendimento da dor nas costas, que analisa o problema dentro de uma esfera mais ampla e leva em consideração a interação entre músculos, ossos e também como a mente reage ao desconforto. Na Universidade de Michigan (EUA), o professor Peter Reeves segue esse modelo de estudo. “Esse método de pesquisa e de geração de conhecimento fornece um retrato coerente de todo o  sistema que envolve as costas e suas estruturas”, disse à ISTOÉ. “Nosso objetivo é que ele contribua para melhorar os diagnósticos e os tratamentos.”


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