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COMO EM PANDORA
James Cameron, a principal estrela do fórum

Tradicionais defensores do meio ambiente, Sting e Bono Vox não deram as caras, mas deixaram a lição: para que um evento com intuito ecológico ganhe repercussão, trazer celebridades e estrelas do mundo pop é a estratégia mais eficaz. Caso não tivesse entre seus convidados o cineasta canadense James Cameron e o ex-vice-presidente dos EUA Al Gore, o Fórum Internacional de Sustentabilidade, encerrado no dia 27 de março, não teria atraído para Manaus 97 jornalistas – brasileiros e estrangeiros – e ganhado espaço em publicações como os jornais “The New York Times” e “Telegraph”. Cameron assumiu o papel de estrela do evento. Participou de rituais indígenas, sobrevoou a floresta, assistiu a apresentações típicas e dividiu seu conhecimento (leia algumas de suas frases no quadro à esquerda). Fora uma ou outra adesão à causa ecológica decorrente da idolatria, a vinda de palestrantes ilustres direciona os holofotes, mas pouco ajuda na hora de desenvolver, por exemplo, energias limpas que mantenham esses mesmos holofotes acesos. Sob esse aspecto, muito mais produtiva foi a presença no fórum de cerca de 300 empresários e CEOs das maiores companhias nacionais, responsáveis por 43% do PIB gerado pela iniciativa privada no País. Nos encontros e papos entre eles, sedimentou-se a ideia que pode salvar a Amazônia, a África e, principalmente, a saúde fi nanceira de várias corporações brasileiras: muito mais do que proteger o planeta, a sustentabilidade vale a pena porque dá lucro. “Ninguém vai aderir a nenhum projeto de sustentabilidade sem que haja retorno econômico”, sintetizou o governador do Amazonas, Eduardo Braga.

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BOAS INTENÇÕES
Em sua palestra durante o fórum, o ex-vicepresidente dos EUA Al Gore desfila números
e estatísticas catastrofistas

A ideia da sustentabilidade vem repousando com mais frequência sobre a mesa dos empresários desde 1999, quando surgiram os Dow Jones Sustainability Indexes (Índices Dow Jones de Sustentabilidade), que identifi cam as empresas que conseguem harmonizar desempenho econômico com respeito ao ambiente. Na época, alguns entravam nesse clube apenas reciclando garrafas PET ou reaproveitando a água. Mas muitos elementos dessa equação chegam mais sofi sticados aos dias de hoje, entre eles o consumidor. “Agora ele tem faro para identifi – car o que é falso”, diagnostica o publicitário e chairman do grupo ABC Nizan Guanaes. E esse faro vai longe. Até o meio da Amazônia, por exemplo. Por conta disso, os empresários presentes ao fórum concluíram que, bem mais do que extrair os recursos da fl oresta como se não houvesse amanhã, o mais lucrativo é desenvolver maneiras para que os povos ali instalados colham os frutos de maneira sustentável e sejam recompensados por isso. Pesos-pesados do comércio varejista chegaram ao encontro com projetos desse tipo para exibir. Walmart e Pão de Açúcar anunciaram parcerias com cooperativas locais para levar pescados da região até suas fi liais espalhadas pelo País. Para que essa distribuição nacional de pirarucu não represente um risco ambiental, há a intermediação da Fundação Amazonas Sustentável, criada pelo governo do Amazonas em parceria com o Bradesco e a Coca-Cola. Essas estratégias efetivas perderam em destaque para os discursos dos famosos. Houve aqueles que apenas levantaram questões, outros despejaram previsões catastrófi cas e sempre há aqueles com capacidade para dar um verniz de novidade a soluções genéricas, numa espécie de autoajuda ambiental.

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O governador do Amazonas, Eduardo Braga, que vê na iniciativa
privada a solução dos problemas de sustentabilidade

No papel de celebridade maior do fórum, James Cameron se enquadrou neste último grupo. “Os sistemas não mudam sozinhos; os indivíduos mudam o sistema. Mudanças em pequena escala geram mudanças em larga escala”, disse ele. Al Gore não arredou pé da sua linha catastrofi sta, consagrada no documentário oscarizado “Uma Verdade Inconveniente”, estrelado por ele. Sempre bem abastecido de números, ele desfi lou dados que dão conta, por exemplo, da diminuição da calota polar do Ártico em 40% na última década. “Os cientistas não sabem dizer com precisão por que essa é uma situação sem precedentes, mas o resto da calota vai desaparecer, em dez ou 20 anos.” Aparentando estar mais sintonizado com as ideias que brotaram das conversas entre empresários, Jean-Michel Cousteau, oceanólogo e fi lho de Jacques Cousteau, soltou em sua palestra no fórum uma frase que tem tudo para se tornar o mantra da sustentabilidade nas próximas décadas: “A natureza deveria ser gerenciada como se fosse uma empresa.” 

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“APRENDI MUITO NA AMAZÔNIA”
James Cameron concedeu entrevista exclusiva a Denize Bacoccina, da ISTOÉ Dinheiro. Conheça algumas de suas ideias

Sobre a Amazônia:
“Sinto-me desafiado a fazer algo pela floresta. Não tinha me dado conta da escala dos problemas” “ ‘Avatar’ é uma parábola de todo o período colonial. Na América do Sul, os problemas acontecem agora. Na América do Norte, o dano já foi feito”

Sobre os índios:
“Eles não querem o que temos. Eles querem a vida deles. Do jeito deles”

Sobre a usina de Belo Monte:
“Os índios lutam para que o direito ao seu espaço seja reconhecido. As pessoas que moram nos arredores de Belo Monte acreditam que suas vidas serão destruídas com o projeto. É uma história como a de Pandora”

Sobre “Avatar”:
“Não buscava o sucesso comercial. Na verdade, queria tratar do assunto”

Sobre a possibilidade de filmar “Avatar 2” na Amazônia:
“Podemos vir com uma equipe pequena, para filmar a natureza e integrá-la ao mundo criado no computador”


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