Max G Pinto

Prevenção: Eliane descobriu que
tem tendência à trombose. Agora
toma cuidado

A eclâmpsia é uma doença grave que atinge cerca de sete milhões de mulheres no mundo. Caracterizada por hipertensão em gestantes, pode levar à morte. O câncer é outra enfermidade devastadora, que mata quase oito milhões de pessoas todos os anos, segundo a Organização Mundial de Saúde. Os acidentes vasculares cerebrais, conhecidos como derrames, e a diabete também vitimam milhares de indivíduos no planeta. Felizmente, uma nova safra de exames promete ajudar a identificar a presença dessas doenças cedo o suficiente para que possam ser combatidas.Na última semana, por exemplo, foram divulgadas algumas novidades do gênero. Cientistas britânicos anunciaram a descoberta
de um teste que identifica os riscos da
eclâmpsia. Os médicos descobriram que, se houver no sangue uma quantidade excessiva de uma proteína chamada inositol, há o risco de desenvolvimento do mal. Outra descoberta importante foi feita por pesquisadores americanos do Instituto Johns Hopkins. Eles apresentaram um teste simples que mede a quantidade de ácido úrico no sangue. Se estiver alta, a probabilidade de o indivíduo ter déficit
de memória é grande. Também nos Estados Unidos, pesquisadores da Universidade
Duke anunciaram um sistema que revela se portadores do HIV, o vírus da Aids, apresentam tendência a desenvolver resistência aos medicamentos usados contra a doença. Exames desse tipo já existem, mas a novidade é que esse novo teste permite fazer a avaliação mesmo quando o doente possui baixas quantidades de vírus no organismo.

Renato Velasco

O diagnóstico e tratamento rápidos salvaram a vida do advogado Martins, vítima de acidente vascular cerebral

Por serem novos, esses exames ainda não fazem parte da lista do check-up. Mas já compõem a medicina do futuro e sua inclusão nos programas preventivos é questão de tempo. A cada ano, novos tipos de testes entram neste grupo. Desde o final do ano passado, dois exames para investigar a chance de diabete e também da síndrome metabólica (um estado do corpo caracterizado pela existência simultânea de diabete, pressão alta e obesidade, que pode levar à morte) integram o check-up da Clínica Vita Check-up, no Rio de Janeiro. O Homa IR indica se o corpo apresenta algum nível de resistência à insulina (o fenômeno pode levar à diabete) e o Homa Beta avalia a capacidade de as células pancreáticas produzirem insulina. “A introdução desses testes na população é bem recente. E se faz necessária por causa do crescimento da síndrome metabólica”, afirma o cardiologista Antônio Carlos Til, diretor-médico da clínica.

Os testes indicadores de defeitos genéticos também estão na mira da medicina. Existe atualmente uma boa variedade deles à disposição. Esses exames fornecem informações que permitem ao paciente tomar cuidados preventivos. É o que faz hoje a farmacêutica-bioquímica Eliane Delgado Bravo, 41 anos. Depois de sofrer um episódio de trombose venosa profunda – formação de coágulos na perna que pode causar sérias complicações pulmonares –, ela resolveu investigar por que tinha sido vítima do problema, já que, aparentemente, não apresentava fator de risco. “Fiz o teste genético e descobri que tinha predisposição”, conta Eliane, coincidentemente sócia do Pró-Lab, laboratório especializado em testes genéticos. Hoje, conhecedora de sua condição, ela se cuida para evitar situações que possam deflagrar outra crise. Não toma nenhum medicamento à base de hormônio e sabe que se tiver de fazer uma longa viagem aérea tem de tomar os remédios adequados antes de embarcar.

Muitas vezes o teste genético significa a diferença entre a vida e a morte. É o caso do exame que revela se o recém-nascido é portador da galactosemia, enfermidade caracterizada por uma deficiência na metabolização da galactose, um carboidrato presente no leite. “Crianças com o problema não podem nem tomar o leite materno. Por não metabolizarem esse carboidrato, acabam morrendo em média dez dias depois do nascimento”, explica a geneticista Patrícia Vaintraub, diretora-científica do Pró-Lab. A especialista defende a realização do teste para saber se os pais são portadores da mutação genética ou sua inclusão no rol de exames feitos nos recém-nascidos – nesse caso, até 24 horas após o parto.

A tecnologia é também um recurso cada vez mais utilizado para o diagnóstico de doenças. Isso porque as imagens do corpo humano captadas por esses equipamentos possuem precisão e qualidade impressionantes. Os aparelhos de tomografia computadorizada, os chamados PET/CT, são as armas mais modernas e eficientes para detecção de tumores. Como retratos impecáveis, eles identificam lesões microscópicas.

Os exames de imagem também revelam detalhes importantes dos vasos cerebrais e ajudam na confirmação da ocorrência de um acidente vascular cerebral, conhecido como derrame, e também na sua contenção. “É um instrumento vital. Possibilita a aplicação precoce de métodos que reduzem a extensão de lesões cerebrais e o risco de seqüelas”, afirma o neurologista Oscar Bacelar, do Rio de Janeiro. Graças a esses recursos o advogado Carlos Frota Martins, 34 anos, teve os efeitos de um grave derrame minimizados. Ele foi surpreendido aos 32 anos e só não ficou com seqüelas mais graves porque os procedimentos adotados pela equipe médica foram os recomendados. Após o diagnóstico, feito por meio de imagens de ressonância, ele foi submetido a uma trombólise, técnica que consiste na aplicação de fármacos que rompem o trombo cerebral. “Esse aparato tecnológico associado à eficiência dos médicos me salvou. Poderia nem estar vivo”, conta.

No Hospital São Luiz, em São Paulo, os médicos também fazem uso desses equipamentos. O aparelho é um angiógrafo, que dá uma visão fenomenal dos vasos sangüíneos. Por meio dele, é introduzido no cérebro do paciente um cateter para avaliar se está ocorrendo um derrame e quais o danos. O interessante é que, além de confirmar um diagnóstico, o recurso também permite combater o inimigo. Dependendo do caso, no mesmo momento do exame é feita a correção do problema. “Dessa maneira, conseguimos tratar uma doença gravíssima de uma maneira pouco invasiva”, explica o neurocirurgião Michel Eli Frudit, coordenador do serviço de hemodinâmica do hospital paulista e presidente da Sociedade Brasileira de Neurorradiologia. Nas próximas semanas, o São Luiz deve instalar um novo angiógrafo que fornece imagens tridimensionais, apresentando uma visão ainda mais exata das lesões. “Muitas enfermidades evoluem de forma silenciosa e o primeiro sinal pode ser catastrófico”, afirma Nelson Carvalhaes, assessor médico da área de check-up do Fleury Medicina e Saúde, de São Paulo. “As manobras preventivas são fundamentais”, corrobora o médico José Antonio Maluf de Carvalho, diretor do centro de Medicina Preventiva do Hospital Albert Einstein, também de São Paulo. A meta, em todos esses casos, é descobrir rapidamente as doenças e evitar que elas façam seus estragos.