chamada.jpg
PROTESTO
Logotipo na frente do prédio do Google em Pequim: luto e lamentações

O estranho capitalismo chinês tem conseguido até driblar as exigências da velha economia, como as leis de mercado, questões ambientais e o domínio de patentes. Mas, na quarta-feira 24, ficou claro que será difícil ter a mesma habilidade para burlar as imposições da nova economia. O governo chinês mostrou-se incapaz de produzir um desfecho favorável na sua guerra com o Google, que começou devido à tolerância do Partido Comunista com os hackers, que invadiam o território digital da empresa americana, e acabou com o uso da arma mais poderosa de Pequim: a censura. O Google, depois de quatro anos aceitando o controle do governo sobre o seu conteúdo, decidiu romper o acordo firmado em 2006 para obter a permissão de operar no país e deu um grito de liberdade. A empresa passou a redirecionar os internautas para o seu domínio em Hong Kong. Mesmo assim esbarrou no chamado “Great Firewall of Chine”, sofisticado sistema de proteção adotado pelo governo, cujo nome é uma referência à Muralha da China. Essa ferramenta priva os chineses dos sites de informação com conteúdo sensível, segundo o critério do governo. O conflito rompeu a barreira do ambiente www e ganhou proporções diplomáticas.

Em entrevista ao jornal “The Guardian”, o cofundador do Google, Sergey Brin, pediu que o governo americano pressione a China por melhorias nos direitos humanos e pelo fim da censura. Essas questões, segundo ele, deveriam ser prioridade da gestão do presidente Barack Obama. “Serviços e informação são nossos produtos de exportação de mais sucesso. Se as leis da China prejudicam nossa competitividade, então elas são um obstáculo ao comércio internacional”, disse Brin, referindo-se às duas principais características da economia americana: a internacionalização e a exportação de serviços. A saída do Google da China significa a entrega do mercado recordista em número de internautas, com cerca de 400 milhões de usuários, a um concorrente local, o Baidu (que já detém mais de 60% do mercado). Segundo o vice-presidente da empresa, Davis Drummond, em dezembro, o Google notou “ataques altamente sofisticados” provenientes da China. O alvo das invasões seriam as contas do Gmail de ativistas de direitos humanos para “limitar a liberdade de expressão na web”. Em entrevista à China Radio International, o vicediretor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade Renmin, professor Jin Canrong, declarou que “a censura sobre a internet é um fenômeno comum no mundo, apenas seus métodos e conteúdos variam de país para país”.

img.jpg

Na China, a autocensura é um “requisito legal inegociável” pelo governo. O incidente se dá em um momento de tensão diplomática entre a China e os Estados Unidos. O porta-voz do Departamento de Estado dos Estados Unidos, P.J. Crowley, tentou minimizar os danos ao dizer que esta “foi uma decisão empresarial do Google”. No outro extremo, o porta-voz do Ministério de Relações Exteriores da China, Qin Gang, disse não estar claro como o conflito poderia afetar as relações entre os Estados Unidos e a China, “a não ser que alguém queira politizar isso”, afirmou. Enquanto os dois gigantes brigam, os internautas – principalmente pequenos comerciantes que dependem dos anúncios do Google – vestem luto e protestam em frente à sede do Google em Pequim para mostrar quem perde mais nesta história. 

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail

Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias