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O clima no Congresso raramente esteve tão tenso quanto na última semana. Uma parcela de parlamentares fazia enorme pressão para tirar nomes da lista dos sanguessugas. De outro lado, deputados e senadores não citados no esquema que superfaturava a compra de ambulâncias pressionavam para que a lista fosse a mais ampla possível. No meio do embate, os membros da CPI que investiga as fraudes nas emendas ao Orçamento e dez técnicos trabalhando até 16 horas por dia para finalizar um primeiro relatório que será divulgado na quinta-feira 10. Apesar de alguns dados ainda não estarem disponíveis, o documento a ser apresentado certamente representará a morte política de vários parlamentares. ISTOÉ teve acesso exclusivo a diversos documentos já em poder da CPI, da Polícia Federal e do Ministério Público. São cheques, extratos bancários, depósitos e gravações telefônicas que serão usados no relatório e que servirão como base para o pedido de cassação de 14 deputados. Eles receberam dinheiro em suas contas correntes ou nas contas de parentes muito próximos, como filhos e mulheres. Outros 30 parlamentares recebiam a propina por intermédio de assessores. Um deputado está nas duas listas, pois recebeu tanto na própria conta corrente como na de seu chefe de gabinete. 

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O combativo deputado Cabo Júlio, do PMDB mineiro, elegeu-se após liderar uma greve de PMs. A CPI já confirmou que, uma vez eleito, ele reuniu os líderes dos sanguessugas em sua chácara, em Belo Horizonte. Na lista da Planam, a empresa que vendia as ambulâncias, há dois cheques e 15 comprovantes de depósitos na conta bancária de Júlio César Gomes dos Santos no Banco do Brasil. Esse é o nome completo do Cabo Júlio. Total dos depósitos: R$ 193 mil. Para o deputado Ricarte de Freitas (PTB-MT) a Planam foi mais generosa. O documentos mostram que a empresa chegou a pagar dívidas do parlamentar junto à Piran Factoring e à VR Factoring e ainda forneceu as passagens aéreas de uma filha de Ricarte para uma viagem a Nova York. Total da generosidade: R$ 747 mil.

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Lino Rossi (PP-MT) é acusado de arregimentar colegas do Parlamento para integrar os sanguessugas. A CPI encontrou vários pagamentos da Planam para ele, que admite ter recebido dinheiro, camisetas e “sacolões” de Darci Vedoin, o dono da empresa. Mesmo assim, jura inocência. Ele não revela quanto recebeu e nem a CPI conseguiu ainda somar todos os depósitos já comprovados, o que deverá ser feito no final de semana. Na quinta-feira 3, foram totalizados os “benefícios” recebidos por Nilton Capixaba (PTB-RO). Eles somam R$ 646,6 mil. Parte do dinheiro foi entregue em mãos, no Hotel Meliá, em Brasília.

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Outro que recebeu dinheiro na própria conta corrente do Banco do Brasil em Indaiatuba (SP) foi Neuton Lima (PTB-SP). A CPI listou R$ 152 mil em favor do parlamentar. Os mimos incluem até um microônibus. Já o deputado Helenildo Ribeiro (PSDB-AL) foi menos aquinhoado. Recebeu R$ 10 mil em duas vezes. Metade foi depositada na conta de seu filho, James Monteiro. A outra parte foi-lhe entregue em mãos. Segundo Vedoin, o dinheiro foi um “adiantamento”. Helenildo conheceu Vedoin através do deputado João Caldas (PL-AL), outro acusado de envolvimento com os sanguessugas que deverá ter o sigilo quebrado.

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Alguns parlamentares depositaram a propina em contas correntes de parentes diretos. Amauri Gasques (PL-SP) ordenava que os depósitos fossem feitos nas contas da esposa e assessora, Edna Gonçalves Souza. O dinheiro entrava na agência do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal localizada no interior do Ministério da Defesa. Total: R$ 25,9 mil. Edir de Oliveira (PT-RS) usou o sobrinho Rafael Zancanaro Oliveira para receber R$ 30 mil. Edna Macedo (PTB-SP) recebeu depósitos da Planam na conta do filho e assessor Otávio José Bezerra Sampaio Fernandes. Foi a própria deputada que fez contato com a direção de uma entidade para acertar os detalhes do direcionamento das licitações, segundo confissão de Luiz Antônio Vedoin, filho do dono da Planam. Reginaldo Germano (PP-BA), que durante a campanha eleitoral se vangloriava de ter tido um passado marginal e de ter-se recuperado, recebeu R$ 49 mil em sua própria conta. O dinheiro saiu do esquema das ambulâncias que a Planam montou para fraudar licitações em municípios paupérrimos do interior da Bahia, como Irecê. O dinheiro era depositado na conta do deputado na agência do Banco do Brasil na Câmara dos Deputados. O deputado Josué Bengtson (PTB-PA) recebeu R$ 19,9 mil em sua conta corrente. Outros R$ 55 mil desviados em emendas do parlamentar foram repassados para entidades indicadas por ele.

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Há ainda os casos de parlamentares que usaram, além das contas pessoais, as contas de funcionários da Câmara. Enivaldo Ribeiro (PP-PB) recebeu na sua conta no Banco do Brasil dois depósitos que somam R$ 10 mil. Outros R$ 28 mil foram depositados na conta do chefe de gabinete Divaldo Martins Soares Júnior. É por isso que Enivaldo está na lista dos 14 com provas e na lista dos 30 com fortes indícios. Cleuber Carneiro (PTB-MG) recebeu em sua conta corrente um depósito de R$ 14,4 mil, feito por Luiz Antônio Vedoin. Outros R$ 42 mil foram pagos em dinheiro, diz Vedoin, no gabinete do parlamentar, em Brasília. Foi dinheiro desviado em licitação da saúde para o município de Januária. A CPI encontrou documentos que indicam depósitos da Planam no valor de R$ 60 mil na conta do deputado José Divino (PRB-RJ). Ele foi o responsável por colocar Maria da Penha Lino no Ministério da Saúde. Ela intermediou os negócios da Planam com o governo e, quando o esquema foi descoberto, delatou os parlamentares envolvidos. A CPI quer quebrar o sigilo bancário de Divino para confirmar movimentações financeiras.

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A lista com 30 nomes de assessores deverá comprometer outros parlamentares. Um dos nomes dessa lista é o do senador Ney Suassuna (PMDB-PB). Na quinta-feira 3, Vedoin disse à Polícia Federal que o senador tinha conhecimento da participação dos seus assessores na compra das ambulâncias. Até a sexta-feira 4, a CPI não tinha feito cruzamentos de documentos que comprometessem outros parlamentares de forma grave. Ainda faltam chegar documentos importantes como a quebra de sigilos das empresas e da família Vedoin. Por enquanto, a avaliação dos parlamentares que investigam o escândalo é de que pode haver parlamentares inocentes citados em depoimentos dos Vedoin. Por isso, o relatório que será anunciado esta semana irá pedir a punição apenas dos 14 já comprovadamente envolvidos. O dilema do relator da CPI, senador Amir Lando (PMDB-RO), é fazer um relatório que atenda à pressão por punições, mas sem cometer injustiças.

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