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A natureza de Ilhabella no litoral norte paulista, e suas luxuosas pousadas atraem turistas de alto poder aquisitivo pela beleza, conforto e tranquilidade. Na tarde de 9 de janeiro, a médica Fernanda Vancine chegou à praia do Curral para juntar-se a oito amigos e comemorar o noivado de um dos casais do grupo. Ela esperava momentos inesquecíveis, pois havia escolhido bem as companhias e o hotel, o DPNY. Segundo o Guia Conde Nast Johansens, a bíblia do mercado de luxo, trata-se de um dos melhores hotéis do planeta, com diárias de até R$ 8 mil.

Sem dúvida, Fernanda jamais vai esquecer aquele dia. Horas depois de sua chegada, o proprietário do hotel, Wolfgang Ingo Napirei, alemão radicado no Brasil, encontrou os amigos bebendo champanhe na praia e os abordou com um pedido de que se retirassem porque estariam causando transtornos aos outros hóspedes. A violência da abordagem transformou a viagem em caso de polícia. O passeio acabou no mesmo dia, mas o pesadelo dura até hoje. O incidente, porém, é apenas o mais recente das 30 ações judiciais por agressão colecionadas pelo dono da DPNY – claro, conhecido na ilha como "Alemão".

No boletim de ocorrência, os seguranças mantidos por Napirei são acusados de terem "empurrado brutalmente" e "agredido fisicamente" Fernanda e seus amigos. Outra vítima é o comerciante Adriano D´Angelo. Um inquérito investiga o que ocorreu em março de 2006, quando ele estava sentado com sete pessoas em frente ao bar do DPNY e recebeu o mesmo tratamento e abordagem de Napirei. "Ele mandou calar a boca porque estávamos atrapalhando", conta D´Angelo, morador de Ilhabela.

Em poucos minutos, os seguranças chegaram com a conta e com a força. Ao reclamar com o gerente e pagar o que devia, ele foi agredido. "Levei um soco no nariz, minha ex-mulher e minha filha pequena começaram a gritar e a menina pedia para que eles não me matassem", relata. Tudo ocorreu, segundo D´Angelo, depois de o dono do DPNY disparar uma ordem via rádio. Naquela época, de acordo com a advogada Maria Fernanda Carbonelli, contratada por D´Angelo, já existiam três registros policiais contra Napirei por agressão.

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"Minha filha pequena pedia para que eles não me matassem"
Adriano D´Angelo, comerciante

No Revéillon de 2008, um descolamento de retina causado por chutes de "Alemão" marcou o Ano-Novo de João Batista Magalhães Braga.Ele e um grupo de amigos comemoravam na festa organizada pelo DPNY até serem convidados a sair do hotel. Segundo Napirei, havia exagero na bebida e um deles chegou a urinar numa caixa de som. Como resistiram aos guardacostas, o caso acabou em pancadaria e numa fiscalização no esquema de segurança, pois João e seus amigos eram todos delegados das polícias Civil e Federal. Esta última constatou que a atividade confi gurava uma "segurança orgânica clandestina" e a proibiu. Maria Fernanda já havia pedido ao Ministério Público a abertura de inquérito para apurar se a equipe de fortões que trabalha para o DPNY, que o hotel chama de "monitores", constitui crime de formação de quadrilha.

"Não conheço violência, nunca dei um tapa", defende-se Napirei. Casado com uma brasileira, Adriana, e pai de dois filhos, ele compreende bem o português, embora sem apresentar pleno domínio de expressão no idioma, que mistura com o espanhol. Ele tem 53 anos e residência permanente no Brasil há apenas oito anos. Em entrevista à ISTOÉ, Napirei acusou os amigos de Fernanda de fazerem algazarra e negou qualquer agressão. "Eles faziam muito barulho, hóspedes reclamaram. As mulheres, principalmente, estavam loucas e histéricas", diz ele, que ainda acusa o grupo de ter danifi cado o banheiro do hotel. Mesmo arranhando o português, "Alemão" conseguiu detectar "palavrões primitivos" nas falas dos amigos de D´Angelo, a quem acusa de bebedeira.

"Minha equipe nunca agrediu ninguém. A advogada de Adriano criou um balão contra mim e contra o DPNY porque sabe que eu tenho muito dinheiro", defende-se. "O sr. Wolfgang precisa entender que existem leis que devem ser respeitadas e que nada lhe dá o direito de agir com truculência", rebate a advogada. A agressividade no DPNY é confi rmada pela polícia. "A segurança lá é, de certa forma, truculenta", diz o delegado de Ilhabela, José Luiz Tibiriçá.

Apesar de as vítimas do DPNY afi rmarem que têm medo de "Alemão", ele diz não saber o motivo. "Sei que não sou muito simpático com algumas pessoas", admite ele, que revela ter passado por treinamento militar. A fortuna de Napirei foi acumulada na Europa. Nos anos 90, ainda na Alemanha, ele vendeu uma das empresas, a MP Travel Line, que faliu logo depois, o que se confi gurou num escândalo do setor de turismo e deixou um prejuízo de 300 mil euros. "Fui sentenciado a pagar uma pequena multa, mas não fui condenado por nenhum crime. Durante dois anos fui acompanhado pela Justiça e provei minha inocência."

Agora o empresário terá pela frente a mesma luta judicial no Brasil. Além das ações por agressão e o inquérito por formação de quadrilha, Napirei enfrenta ainda uma ação civil proposta pelo Ministério Público que alega que a construção do DPNY é irregular e que a ocupação de uma parte da praia chamada de "faixa de marinha" é proibida. E, curiosamente, "Alemão" também é acusado de fazer barulho. DJ de suas próprias festas, ele responde outra acusação judicial por quebrar a lei do silêncio.

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"Não conheço violência, nunca dei um tapa e minha equipe nunca agrediu ninguém"
Wolfgang Ingo Napirei, dono do hotel DPNY

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