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Paulo e seu pai, Francisco: expulsão de casa e reconciliação

O agente de saúde Paulo César Nascimento, morador de Foz do Iguaçu, no Paraná, sofreu com o preconceito do pai, Francisco. Ele não aceitava a homossexualidade do filho. Depois de uma briga grave, cortaram relações. Mas o pai pediu perdão ao filho. E hoje vivem uma relação de harmonia. Leia abaixo o seu relato:

“Nasci no interior de Santa Catarina, numa pequena cidade do extremo oeste do estado, chamada São Miguel do Oeste. Como filho mais velho acredito que meu pai tenha criado uma série de expectativas ao meu respeito, principalmente por ser o filho homem, o filho “varão”. Meu pai era o típico representante de uma geração em que homem tem de ser machista, o provedor, o mantenedor e sua palavra é lei.

Desde muito cedo eu sabia que era diferente dos outros meninos. Quando jovem cheguei a apanhar por ser chorão, sensível demais. Nesse meio tempo, tive dois irmãos, um casal. As expectativas do meu pai se voltaram para meu irmão, que com o tempo acabaria se tornando o que ele sempre quis como filho! Sempre ouvia dele “prefiro um filho morto a um filho gay”. Aos 18 anos eu não o suportava mais. Resolvi contar a verdade e lidar com as consequências.

Estávamos todos em frente a tevê quando um clipe da Rita Lee foi exibido. A cena mostrava dois homens se beijavam no final. Aquilo foi o fim, meu pai lançou mais um dos seus comentários a respeito de ser gay. Imediatamente reagi, assim, sem pensar. Discutimos e ele me pôs pra fora de casa. Nossa última briga aconteceu em 2004. Foi ali que coloquei um ponto final nessa relação tortuosa. Disse a ele que nunca o perdoaria pelo que foi dito e pelo que tinha feito. Disse que ele estava morto para mim a partir daquele dia.

Durante um ano o risquei da minha vida, totalmente. Não o cumprimentava, não falava com ele, sequer o olhava, pra mim ele não existia! Depois de um ano em silêncio, ele me procurou e pediu desculpas por tudo. Disse que se eu o desculpasse tentaria ser um homem melhor. E foi o que fez. E foi o que fiz também. Hoje, temos uma relação bacana. Ele inclusive vive “brigando” comigo para que eu ache um namorado! Agora, que estou com 30 anos, posso dizer que tenho uma família que me ama e respeita, assim como eu os amo e respeito.
Foi uma longa guerra, mas nós vencemos.

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Tenho um grande orgulho do meu pai por ele ter, sozinho, conseguido mudar. Sei que não foi fácil para ele. E imagino que ainda hoje não seja. Mas valorizo seu esforço e percebo o quanto ele me ama e deseja meu bem.”

 


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