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DE VOLTA
Ex-relator da CPI, o tucano Fruet pediu ao STF os documentos da Receita e da Polícia Federal

Além do envolvimento do ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel com o Mensalão do PT, outro fato revelado por ISTOÉ repercutiu fortemente no Congresso: a confirmação de que o dinheiro público foi usado para alimentar o esquema de corrupção. Os documentos derrubam definitivamente a versão do PT de que a mesada paga aos políticos governistas foi sustentada por recursos oriundos de sobras de campanha. Na opinião de parlamentares da oposição, o depoimento da publicitária Danevita Ferreira de Magalhães à Diretoria de Combate ao Crime Organizado da Polícia Federal muda o curso das investigações. Ela revelou que o Banco do Brasil pagou R$ 60 milhões à empresa de publicidade DNA, de propriedade de Marcos Valério, por meio de uma campanha publicitária simulada do serviço Visa Electron. Com base nas evidências que constam do processo em curso no STF, o PSDB e o DEM decidiram reabrir a investigação do caso. “A reportagem derruba de maneira cabal a argumentação de que aquilo era caixa 2 de campanha eleitoral. Era um amplo esquema para comprar uma parte do Congresso Nacional”, afirma o deputado Raul Jungmann (PPS-PE).

A primeira iniciativa para reabrir as investigações do Mensalão do PT no Congresso foi tomada pelo ex-relator de movimentação financeira da CPI dos Correios, deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR). Na semana passada, após reunião com a direção do PSDB, Fruet apresentou à presidência do Senado requerimento para que sejam solicitados documentos à Polícia Federal, à Receita e a outros órgãos sobre as providências adotadas a partir do relatório da CPI. “É impressionante. Os documentos que estão no STF confirmam que eram contratos não executados para abastecer Valério com dinheiro público”, diz Fruet. “Os órgãos que receberam informações da CPI têm que manter o Congresso atualizado sobre o andamento dos processos. Vamos tomar providências para investigar novamente esse caso”, acrescentou. Durante o período do Mensalão, a publicitária Danevita trabalhou no núcleo de mídia do Banco do Brasil. Depois de se recusar a assinar o plano de mídia BB/Visa Electron, que era uma campanha fictícia, a publicitária foi comunicada pelo gerente do BB Roberto Messias de que seria demitida. Mas quem pagou os direitos trabalhistas de Danevita foi a DNA de Valério e não o BB. “É caso para chamar a polícia e mandar prender todo mundo”, revolta-se o senador Demóstenes Torres (DEM-GO). “É uma coisa estarrecedora, vamos ver o que a gente pode fazer nas comissões do Senado”, completou o parlamentar, que é presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Casa.

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Na quinta-feira 4, o PSDB decidiu pedir acesso à documentação que chegou ao Congresso após o término da CPI dos Correios, há quatro anos, incluindo laudos, perícias, depoimentos e auditorias. O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) também cobrou explicações do governo sobre o uso de dinheiro público em campanhas fraudulentas para alimentar o caixa de Valério. “Achei gravíssimo. Infelizmente o governo e o PT têm tido o hábito de não responder às denúncias. Isso está se tornando uma rotina que não podemos aceitar”, disse Jereissati. O presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), defende uma solução política para acabar com todos os mensalões, inclusive o relacionado às denúncias que envolveram seu partido, em Minas Gerais. “Tudo que aponta na direção de esclarecer, verificar, nós saudamos. Defendo limpeza total. Onde tiver necessidade de esclarecimento, que vá aos limites.” O publicitário Marcos Valério informou à ISTOÉ que não vai se pronunciar sobre a denúncia de Danevita.

Último dos autênticos do PMDB, o senador Pedro Simon (RS) defendeu punição rigorosa para os políticos envolvidos com o Mensalão e criticou a imobilidade dos Três Poderes contra a corrupção. Lamentou que o PT tenha usado dinheiro público para financiar o Fórum Social Mundial em seu Estado, com R$ 1 milhão enviado por Delúbio Soares. “O PT misturou a coisa pública com aquilo que eles acham que é interesse social do PT. Lamentavelmente, o PT não teve a responsabilidade de entender que dinheiro público é público”, diz Simon. Em carta enviada à ISTOÉ, a direção do Fórum Social Mundial negou que o evento tenha sido organizado pelo PT, mas não esclareceu o recebimento de R$ 1 milhão por meio de Delúbio. Para o líder do PSDB na Câmara, deputado João Almeida (BA), os documentos esclarecem fatos que ainda estavam obscuros. “A reportagem joga luz sobre a fonte que alimentava o caixa 2 que pagou o publicitário Duda Mendonça”, diz Almeida. “Foi o presidente Lula que abençoou o Mensalão e, se eles foram capazes de comprar apoio dessa maneira numa campanha que tinha um candidato competitivo, o Lula, imagine agora, com uma candidata fraca, do que essa gente será capaz?”, questiona o parlamentar.

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Punição
A OAB luta para impedir que o processo
do Mensalão caia no esquecimento

A partir da reportagem de ISTOÉ, o deputado José Carlos Aleluia (DEM-BA) ficou convencido de que a investigação no Brasil apresenta cada vez mais raízes no Exterior. “Os extratos apresentados pelo Duda geraram muitos problemas em Nova York, pois os mesmos doleiros também faziam depósitos para presidentes da República, ministros e representantes de bancos centrais de países amigos.” O deputado pode ter razão. Informações que chegaram ao ouvido de alguns parlamentares que fizeram parte da CPI dão conta de que autoridades que usaram o mesmo esquema de Duda no Exterior pertencem ao governo de Angola, na África. O presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil, Ophir Cavalcante, defende punição rigorosa: “Esse processo não pode cair no esquecimento e engrossar a fileira das impunidades neste país.”

Para os partidos de oposição, também não resta dúvida sobre o envolvimento do ex-prefeito Pimentel. “Estou perplexo. A participação do Pimentel no esquema está amarrada, pois os caras que mandaram o dinheiro para o Duda no Exterior só tinham contrato com o Pimentel. Só falta a confissão do ex-prefeito”, diz o tucano João Almeida. O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) lembra que o nome de Pimentel apareceu na CPI dos Correios, no final dos trabalhos da comissão, mas os parlamentares não conseguiram aprofundar a investigação para todos os casos que apontavam corrupção. “Há uma organização criminosa a serviço de um projeto de poder e é necessário que o julgamento seja feito o mais rápido possível”, diz Álvaro. No PT, segundo militantes do partido, a ordem ao longo da semana foi de “submergir até a poeira baixar”. O problema é que a poeira do Mensalão pode asfixiar o partido.


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