Está aberta a temporada da dengue 2009. “De janeiro a maio aparecem 75% dos casos”, explica Fabiano Pimenta, secretárioadjunto de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde. Isso acontece por causa da combinação entre calor e chuva, que faz eclodirem os ovos do Aedes aegypti, transmissor da doença. Ainda sob efeito da catástrofe ocorrida no Rio de Janeiro no ano passado, a maior epidemia de dengue de todos os tempos no País, a população e os especialistas estão preocupados.

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E há motivos – as mais recentes estatísticas governamentais mostram que houve um crescimento de 45% no número de pessoas que tiveram dengue em 2008, em relação ao ano anterior, que até setembro somavam 524.086. Até novembro, o total foi de 764.040 casos suspeitos. “Boa parte desses casos pode ser atribuída à epidemia no Rio, que registrou cerca de um terço dos casos”, justifica Pimenta. Mesmo assim, é um crescimento alto. “Isso atesta a incompetência das autoridades sanitárias em controlar o mosquito”, afirma Roberto Medronho, chefe da área de medicina preventiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro. A previsão deste ano para o Rio é que o número de casos na capital seja menor. “Mas isso é consequência do comportamento da epidemia. O sorotipo 2 do vírus da dengue vai se espalhar por áreas como o norte e o noroeste fluminenses, região dos Lagos e Vale do Paraíba”, explica Medronho.

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CONTROLE 
Em Santa Cruz, agente coloca armadilha para as fêmeas

Em relação ao País, o grande receio é a entrada do sorotipo 4, que já circula na Colômbia. “O Brasil teve epidemias pelos sorotipos 1, 2 e 3. A chegada desse novo sorotipo pode multiplicar casos graves”, explica o infectologista Artur Timerman, de São Paulo.

Com a missão de evitar mais desastres, o governo liberou mais dinheiro para 633 municípios e concentrou medidas de prevenção em 13 áreas de risco. Nesses locais, será avaliado o desempenho de novas tecnologias para diagnóstico rápido e captura de mosquitos. Em 18 cidades, como Macapá (GO) e Campo Grande (MS), que teve um grave surto em 2007, começa este mês a aplicação do teste ELISA NS1, que confirma ou descarta a presença do vírus em 15 minutos e revela qual é o sorotipo no sangue. Em nove desses municípios haverá também armadilhas para mosquitos adultos. As cidades no Rio que receberão o artefato ainda não foram definidas.

Nos laboratórios de biotecnologia, metodologias sofisticadas estão surgindo. Na semana passada, cientistas da Austrália, anunciaram na revista científica Science seus ótimos resultados com a introdução de uma bactéria, a Wolbachia, no organismo do Aedes Aegypti. “Ela corta pela metade o tempo de vida do mosquito. O estudo mostrou que a bactéria também é transmitida aos filhotes, o que é excelente para reduzir a quantidade de Aedes”, disse à ISTOÉ Scott O’Neill, da Universidade de Queensland, que coordenou o estudo. Em fevereiro, o método será experimentado em áreas abertas. Mais uma opção contra o mosquito é um aspirador usado para coletar insetos para pesquisa. Ele está em avaliação em ambientes fechados de algumas áreas infestadas.

No Brasil, outra arma em pesquisa está mostrando que a situação pode ser mais grave do que indicam os dados oficiais. Trata-se de um processo diferente para medir a presença do mosquito nas casas, que utiliza a contagem dos ovos depositados pelas fêmeas em armadilhas especiais, as ovotrampas. “O método detectou a presença de ovos do mosquito em 93% das casas de Ipojuca, no litoral sul, e em 100% dos imóveis de Santa Cruz do Capibaribe, no interior”, diz a pesquisadora Leda Régis, da Fundação Oswaldo Cruz de Pernambuco. Os resultados foram divulgados no começo do mês e estão provocando grandes debates. Primeiro, porque estão muito acima das taxas obtidas com o sistema-padrão, que aponta taxas entre 2% e 12% para as mesmas áreas. Neste caso, o cálculo é feito com base no número de larvas recolhidas em criadouros durante as visitas dos agentes de saúde.

 

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Em Santa Cruz, onde todas as residências têm criadouros, a ordem é agir rápido. “Vamos colocar 36 mil armadilhas para tirar mosquitos de circulação, estamos usando o aspirador e tudo que podemos. Onde há mais mosquitos haverá duas armadilhas”, diz a sanitarista Cândida Walter, secretária-adjunta de Saúde do município. A especialista diz ainda que há muitas cidades nas mesmas condições. “Santa Cruz não é a única e nem o local com mais dengue no Brasil”, diz ela.