img2.jpg
FAUNO
Escultura em cerâmica do século XIX
ATRIBUIÇÃO
Foi autenticada pela Sotheby’s e atribuída a Paul Gauguin
AQUISIÇÃO
A obra foi comprada em 1997 pelo Art Institute of Chicago
US$ 197 MIL

Enfiado em um terno bem cortado, o homem alto, calvo e de olhos claros fala ao juiz com o carregado sotaque daqueles que são da região norte da Grã-Bretanha: “Fiz o serviço em três semanas.” Não se tratava de um assassinato. Shaun Greenhalgh, 49 anos, estava confessando outro tipo de crime. Munido de um taco de beisebol e de um formão comum, ele esculpia nesse tempo recorde uma perfeita representação da princesa Amarna, filha do faraó egípcio Akanethen e da rainha Nefertite, e vendera a peça falsa, que supostamente teria  3,3 mil anos, por US$ 695 mil. A negociação teria sido feita com o museu de sua cidade, Bolton, no litoral da Inglaterra. É justamente por isso que Greenhalgh estava em julgamento, sendo condenado a quatro anos e oito meses de prisão em 2007. Ele não forjou, porém, apenas essa estátua em alabastro: durante 17 anos fez aquarelas, telas, cerâmicas, relevos e esculturas das mais remotas culturas e dos mais variados artistas, como Paul Gauguin e Brancusi. Tudo falso. Enganou casas de leilão como a Sotheby’s e a Christie’s e especializados museus, a exemplo do British Museum e do Art Institute of Chicago.

img3.jpg
GANGUE
Greenhalgh tinha apoio dos pais

Calcula-se que sua produção de cópias, iniciada em 1989, supere as 120 peças – se tivessem sido arrematadas em sua totalidade, o valor das vendas superaria os US$ 16 milhões. Agora, uma pequena parcela desse acervo apreendido pela Scotland Yard está sendo exibida no Victoria and Albert Museum de Londres sob o título “The Metropolitan Police Service’s Investigation of Fakes and Forgeries” (As Investigações da Polícia Metropolitana em Fraudes e Falsificações). Anda atraindo grande público. O museu não revelou números, mas a mostra foi prorrogada por duas semanas porque a frequência está se mostrando bem maior que o esperado. A história de Greenhalgh, tido pela Scotland Yard como o falsário mais polivalente do mundo, acaba de virar um telefilme da BBC (“The Antigues Rogue Show”) e um documentário exibido pelo Channel 4, dirigido pelo escritor Nick Hornby (“The Artful Codger”). Numa cena do filme de Hornby, vemos a rainha da Inglaterra embevecida diante da tal princesa Amarna em uma mostra na Hayward Gallery. Sua majestade abriu pessoalmente essa exposição, montada para exibir com orgulho o “tesouro” comprado com dinheiro do governo e, assim, mantido dentro da Inglaterra. Foi o desfecho de um golpe perfeito. Greenhalgh pensava em todos os detalhes.

img.jpg
PRINCESA AMARNA
Escultura em alabastro de 52 cm de altura
ATRIBUIÇÃO
O British Museum e a Christie’s deram aval à sua idade de três mil anos
AQUISIÇÃO
Comprada pelo Museu de Bolton em 2004 e exibida como orgulho nacional
US$ 695 MIL

Ele sempre forjava obras desaparecidas e, assim, não corria o risco de ser surpreendido com o confronto das peças originais. Usava materiais que, à primeira vista, enganavam especialistas: para fazer a fraude de um prato romano, fundiu moedas de prata da época. Outra tática que se revelou infalível foi inventar um “passado nobre” para a peça falsificada. Para convencer o British Museum e a Christie’s de que a princesa Amarna era autêntica, juntou ao histórico da peça a sua passagem por um leilão acontecido em 1892 na residência do quarto conde de Egremont, em Silverton Park, em Devon. A escultura teria sido arrematada pelo seu tataravô. Quem ia aos museus com esses objetos eram os pais de Greenhalgh, George e Olive Greenhalgh, de 86 e 85 anos, respectivamente. Eles simulavam desconhecer o valor das obras e, assim, afastavam qualquer tipo de suspeita.

img1.jpg
GANSO
Escultura em terracota dos anos 1920
ATRIBUIÇÃO
O objeto foi atribuído à escultora inglesa Barbara Hepworth
AQUISIÇÃO
Foi comprada pelo Instituto Henry Moore, em Leeds, Inglaterra
US$ 315 MIL

Em curto espaço de  tempo, os golpes foram ficando cada vez mais ambiciosos. Em 2005, o próprio falsário ofereceu ao British Museum e à casa de leilões Bonhams três placas de mármore em baixo relevo, que dizia ser de origem assíria, retratando detalhes de uma batalha. Pediu US$ 790 mil. Tudo parecia estar correndo bem na avaliação do fragmento arqueológico retirado do palácio de Sennacherib, em Nínive, atual Iraque, e supostamente feito em 681 a.C. Até que o marchand da Bonhams enxergou um erro na escrita cuneiforme do friso – e isso seria impossível de acontecer numa encomenda real. Com a repercussão do caso, a Prefeitura de Bolton atualmente luta para levar de volta ao museu da cidade a falsa princesa Amarna, considerada a “obra-prima” de Greenhalgh. Uma enquete local mostrou que 70% da população iria vê-la no museu. Exatamente como fazem agora os visitantes do Victoria and Albert Museum. 

img4.jpg
RISLEY PARK LANX
Prato romano em metal usado em sacrifícios
ATRIBUIÇÃO
Considerado uma cópia da época romana pelo British Museum
AQUISIÇÃO
Comprado por um colecionador que o doou ao museu inglês
US$ 157 MIL