No final deste mês, quando
estará em visita oficial ao
Brasil, a secretária de Estado
dos EUA, Condoleezza Rice, tocará
em pontos sensíveis na relação bilateral, como a cooperação com a Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea) – leia-se temores em relação ao processo brasileiro de enriquecimento de urânio –, preocupação com a segurança regional (Venezuela e Colômbia) e alternativas ao programa F/X de reaparelhamento da Força Aérea Brasileira (FAB). Esses pontos já foram levantados pelas autoridades de Washington em março, por ocasião da visita oficial ao Brasil do secretário de Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld. A novidade agora é uma nova proposta dos americanos para atender à necessidade da FAB de substituir os obsoletos caças Mirage IIIEBR, sediados em Anápolis (GO), cujo período de vida útil se encerra este ano. Em fevereiro, depois de dois anos de marchas e contramarchas, o governo federal encerrou oficialmente a licitação para a compra de 12 caças supersônicos, um projeto orçado em cerca de US$ 800 milhões. Naquela licitação, estavam no páreo o francês Mirage 2000-5Br, do consórcio Dassault/Embraer; o russo Sukhoi Su-35, da Rosoboronexport, o anglo-sueco JAS-39 Gripen, da Saab/British Aerospace e o americano F-16 Falcon Fighter, da Lockheed Martin. O fim da licitação, no entanto, se deixou o governo brasileiro menos infenso a pressões de poderosos lobbies da indústria bélica internacional, colocou um grave problema operacional: o que fazer entre o período da aposentadoria dos Mirage IIIEBR e a aquisição dos novos caças supersônicos?

A nova proposta americana oferece 12 unidades do F-16 usadas, atualmente operando na Holanda, pelo valor de US$ 300 milhões. Nessa oferta, estão incluídos três aviões-cisterna (de reabastecimento em vôo) KC-135 – na verdade, um Boeing 707 adaptado. Mas, ao mesmo tempo que os americanos, os países dos antigos concorrentes também começam a mexer os pauzinhos. A Saab/BAe, por exemplo, propôs alugar 12 caças JAS-39 Gripen pelo valor de US$ 80 milhões por ano. Se a aquisição dos novos caças demorar cinco anos, a FAB pagaria por esse aluguel US$ 400 milhões, a metade do preço estimado para a compra de aviões novos. Já a França está oferecendo 12 caças Mirage 2000-5 que estavam operando na Armée d’Air, a Força Aérea Francesa, por US$ 180 milhões.

Novela – Iniciada em julho de 2001 pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso, a licitação do projeto F/X deixou o Brasil à mercê de poderosos lobbies internacionais num campo extremamente fechado, o das compras de produtos bélicos. A grande discussão se travou entre os defensores de benefícios meramente comerciais que o País poderia obter através dessa aquisição – no jargão econômico, os chamados off-set – e os defensores da transferência de tecnologia ultra-sofisticada. As propostas do consórcio Embraer/Dassault e da Rosoboronexport/Avibrás prometiam essa transferência, incluindo os códigos-fonte. O mesmo não acontecia com as propostas anglo-sueca e americana. No caso do F-16, havia um agravante: os EUA não garantiam o fornecimento do míssil ar-ar inteligente AIM-120 Amraam, o que castraria o poder interceptador desses caças.

Sem as amarras da licitação do F/X – que o governo, por lei, não é obrigado a fazer –, o Brasil, em tese, pode comprar um modelo mais moderno e negociar a transferência tecnológica. Uma das alternativas para o período de transição seria a utilização dos caças supersônicos F-5 que estão sendo modernizados pela Embraer. De qualquer forma, se o governo optar por comprar aviões usados, mas ainda com razoável tempo de vida útil, poderá enterrar de vez o sonho de entrar na era da tecnologia supersônica.