Um velho inimigo da saúde dos seres humanos, a alergia, está ganhando força, especialmente entre os jovens. Essa tendência é o principal achado de um estudo publicado na revista científica britânica The Lancet. Os cientistas avaliaram mais de 304 mil jovens com idades entre 13 e 14 anos em 37 países, entre eles o Brasil. “Fatores como a poluição e as mudanças na alimentação afetam as defesas orgânicas e estão entre as razões do crescimento dessas reações”, explica Fábio Castro, supervisor do setor de alergia do Hospital das Clínicas de São Paulo. Entre os tipos que crescem está a alergia alimentar. Hoje, sua incidência é de 10% da população. Por isso, diversos estudos querem estabelecer formas eficientes de controle.

A doença preocupa, entre outros motivos, porque muitas crianças ingerem substâncias causadoras de reações, pois não sabem que estão na composição dos alimentos. Os resultados de uma dessas pesquisas saíram no jornal científico Allergy. O estudo revelou que dar peixe às crianças antes de elas completarem três anos pode representar alguma proteção – e não um estímulo, como se pensava –, contra as manifestações alérgicas em geral, inclusive as alimentares. Outros trabalhos mostram que alimentar os bebês exclusivamente com leite materno até os seis meses também protege. Na lista dos alimentos que mais desencadeiam alergias estão ovos, frutos do mar, trigo, berinjela, mandioca, kiwi e leite de vaca. Além disso, um número crescente de pessoas tem apresentado reações aos corantes e conservantes dos alimentos industrializados.

As manifestações variam. “Pode-se apresentar coceira, vermelhidão e até sofrer um choque anafilático”, diz Fátima Fernandes, do setor de Alergia do Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo. O tratamento é feito com remédios para impedir os sintomas. Identificar os causadores do problema – e tirá-los do cardápio – é fundamental. Foi o que fez a advogada Carolina Landau, do Rio de Janeiro. Ela evita comer chocolates e produtos com leite de vaca desde que descobriu que eles agravam outras das suas reações a ácaros e poeira. “Comecei a me tratar aos 11 anos e parei. Retomei os cuidados porque os sintomas pioraram”, conta. Para os médicos, outro aspecto é fazer com que os pacientes entendam as diferenças entre alergia, intoxicação e intolerância alimentar. Alergia é uma reação do sistema de defesa do corpo. A intoxicação é causada por alimentos contaminados e a intolerância é provocada pela falta de uma enzima para digerir o alimento. Nesses dois casos, os sintomas são desconfortos gástricos, como diarréia e náusea.