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Não é exagero afirmar que, durante a Copa do Mundo realizada na Alemanha, viajar de trem de uma cidade-sede a outra foi um dos esportes prediletos dos torcedores. Equipados com tecnologia wi-fi, os modernos vagões permitiam ao usuário optar pela bela vista da janela ou a tela do computador. Quem for à África do Sul, palco da próxima edição do Mundial, irá se confrontar com outro cenário. Com paisagens naturais mais exuberantes que a antecessora, mas uma estrutura bem mais comedida, a primeira anfitriã do continente já sinaliza deficiências no setor de infraestrutura, transportes e hoteleiro, entre outros. Observadores já adiantam que este será um Mundial bem mais modesto que os anteriores – sem que isso signifique menos empolgação e alegria, que o povo local tem de sobra, muito menos bom futebol. O investimento em infraestrutura, por exemplo, é cinco vezes menor do que o evento anterior patrocinado pelos alemães – R$ 2,1 bilhões dos africanos, contra R$ 11,2 bilhões dos europeus. Cartões-postais como Cidade do Cabo e Johannesburgo apostaram no transporte por meio dos chamados BRTs – conhecidos no Brasil como VLP, veículo leve sobre pneu, que circulam em cidades como Curitiba (PR). Só que esse moderno sistema será útil apenas durante a Copa. “Muitos moradores reclamam que os itinerários do BRT – que priorizam aeroportos, hotéis e estádios – não serão úteis para o deslocamento no dia a dia”, comenta o jornalista Levi Guimarães, que visitou todas as cidades-sede da África do Sul no final do ano passado.

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SUBSTITUIÇÃO
Saem os trens com wi-fi da Copa de 2006, na Alemanha, e entram em campo as peruas de lotação sul-africanas (acima)

Fora o luxuoso Blue Train, cuja passagem de Pretória para a Cidade do Cabo custa R$ 4,3 mil, não há trens suficientes e eficazes para levar a multidão de uma cidade a outra. O avião, portanto, será o principal meio de transporte. Quem não puder desembolsar o preço das passagens e for percorrer distâncias menores, terá de optar pelas vans, um dos mais utilizados meios de transporte, na porta dos estádios. Governantes de Polokwane, uma das cidades rurais sul-africanas que irão receber jogos, já se declaram temerosos diante da possibilidade de não ter condições de fornecer  combustível suficiente para os aviões. Em Rustenburgo, outra cidade-sede rural, a particularidade é de outra ordem. Os jogos acontecerão em um estádio construído a 15 quilômetros de distância do centro, que fica em uma vila inóspita de propriedade dos Bafokeng, uma tribo rica e politicamente influente. Ao redor dessa arena sobram savanas e construções humildes e faltam outras opções para entreter os torcedores. Curiosamente, às 15h do dia 12 de junho, Inglaterra e Estados Unidos, dois dos maiores compradores de ingressos da Copa e consumidores compulsivos, estreiam ali, no Royal Bafokeng, em um confronto válido pelo grupo C. Como se vê, a experiência africana deve garantir muitas lições ao Brasil, anfitrião em 2014. 

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