Ted Boy Marino, Michel Serdan, Fantomas. Búfalo Bill, Aquiles, Bala de Prata. Gran Caruso, El Chasqui, Tigre Paraguaio. Nos anos 1960 e 1970, antes da explosão das novelas e de seus galãs, eram eles os grandes heróis de audiência da televisão brasileira. Esses e outras dezenas de brutamontes formaram, nas redes Excelsior, Record, Bandeirantes, Tupi e Rede Globo, as equipes de telecatch, as lutas livres coreografadas que fizeram a alegria de várias gerações com golpes e pirotecnias transmitidos ao vivo para a família brasileira. Com cara de poucos amigos, capas, máscaras, maquiagem e roupas chamativas, essa turma criou rivalidades históricas e marcou fundo a memória romântica de quem tem hoje pelo menos 40 anos de vida. Talvez poucos saibam que vários desses grupos ainda mantêm apresentações animadas em ginásios do País. E o melhor: alguns planejam voltar para a telinha. Caso dos Gigantes do Ringue, ainda liderado pelo paulistano Antônio Carlos de Aquino, o Michel Serdan.

Dono de uma academia de ginástica e líder de mais de 60 lutadores, entre eles sete mulheres, ele negocia com duas redes de tevê aberta para recolocar no ar as pancadas e tesouras voadoras antes do final do ano. “Alguns patrocinadores deram aval e as negociações com duas emissoras caminham muito bem”, adianta Serdan, um fortão careca de 1,80 metro e 100 quilos, com saúde e aparência quase inacreditáveis para um homem de 64 anos. Estar na tevê significa mais shows, cachês altos e ginásios ainda mais lotados. Mas se engana quem pensa que a luta livre ao vivo não sobreviveu à saída das grandes redes. Atualmente o grupo de Serdan faz em média sete apresentações mensais pelo País. Cada uma delas costuma envolver de dez a 15 lutadores. Outro com a intenção de lançar novos projetos para a atividade, agora como produtor de lutas, é Ted Boy Marino, o Herói, um italiano criado na Argentina e radicado no Brasil desde 1967, quando iniciou sua trajetória de tabefes para se tornar, nas redes Excelsior, Tupi e Globo, o mais famoso lutador da história do telecatch brasileiro. Um currículo que inclui mais de uma década de trabalho ao lado de Renato Aragão, Dedé Santana, Mussum e Zacharias em um ícone da história televisiva brasileira, o programa Os trapalhões. “O catch faz parte da identidade popular brasileira. Se encontrasse bons parceiros comerciais, contribuiria com empenho para que ele retomasse a força”, disse a ISTOÉ Ted Boy, hoje um simpático senhor de 67 anos e três filhos que vive de frente para o mar na avenida Atlântica, no Leme, Rio de Janeiro.

Alguns atletas ainda conquistam o público de forma especial. Juarez Andrade, o Demolidor, estrela da turma de Serdan, é uma parede com 139 quilos de músculos comprimidos em 1,77 metro de altura. Apesar da massa compacta, Demolidor impressiona pela agilidade. Suas quedas quando toma um golpe estremecem o ringue e levam o público ao delírio. Alanna Fialho, Orlando Silva (o Caveira), Cláudia Souza (a Mulher Leopardo), Bianca Lastire (Bia, a Perversa), Erivan Paulino, José Rocha (o Mister Rock), Luis Vasconcelos (o Luca) e Mário Campos (o Mário Boy) são outros combatentes festejados.

Fora do Brasil, o sucesso do telecatch jamais deixou de ser potente como os golpes dos lutadores. Nos Estados Unidos, a categoria mobiliza 30 empresas promotoras. Não bastasse, é um braço importante da World Wrestling Entertainment, a WWE, a maior corporação privada de lutas livres esportivas do mundo, com faturamento de US$ 400,3 milhões e lucro operacional de US$ 47 milhões no último ano fiscal, encerrado em abril passado.

A indústria é forte. Inclui games, revistas, jornais, horários em redes de tevê, lojas de roupas e equipamentos e um ranking das 25 estrelas com melhor desempenho. Na última semana, brilhava no primeiro lugar um certo Edge, um lourão parrudo com sorriso de comissário de bordo e pinta de galã de filme policial. A cada semana, milhares de americanos recebem o índice atualizado em seus celulares. As lutas livres geraram também o vale-tudo, voltado para o combate puro e sem coreografias. Febre entre os japoneses, que idolatram inclusive lutadores brasileiros, pode pagar ao vencedor o equivalente a R$ 500 mil pela vitória numa luta. Diante de tanta força no ringue lá fora, resta torcer para que os lutadores e produtores nacionais encaixem com precisão o golpe da virada.