Aldo Rebelo

Por Manuela D´Avila*

Roberto Castro

Conheço o deputado Aldo Rebelo desde o início de minha militância comunista. É profundo conhecedor do Brasil, apaixonado pelo nosso povo e suas lutas. Em setembro de 2005, em meio à aguda crise política que vivia o Brasil, ele foi eleito presidente da Câmara. Foram momentos tensos e decisivos. Em sua gestão, vimos a redução do recesso parlamentar de 90 para 55 dias, a proibição da contratação de parentes de deputados em cargos de confiança, o fim do pagamento extra para as sessões extraordinárias e a demissão de mais de 1.100 ocupantes de cargos de natureza especial. Todas medidas extremamente moralizadoras. Com sua voz suave e suas posições firmes, ele expressa, na condução dos trabalhos da Câmara, a convicção de que esse espaço é fundamental para a vida democrática brasileira. A marca de sua gestão é o equilíbrio – e com esta postura Aldo Rebelo permanecerá em 2007 um dos homens públicos mais influentes do País.

* Manuela D’Ávila é deputada federal eleita pelo PcdoB no Rio Grande do Sul

Alex Atala
Alex Atala sempre gostou de fazer barulho.
Aos 14 anos, largou a família em São Bernardo do Campo para discotecar no lendário clube paulistano Rose Bom Bom. Aos 18, colocou
a mochila nas costas e correu a Europa, chegando a pintar paredes na Bélgica. Mas foi em cursos de culinária pela França e Itália que o garoto punk nascido na Mooca descobriu a verdadeira vocação. Hoje, aos 38 anos, Milad Alexandre Mack Atala, de origem palestina, faz barulho com suas caçarolas inventivas e ingredientes da Amazônia em seu restaurante paulistano, o D.O.M.. Como um alquimista das panelas, ele se destacou no cenário nacional misturando sabiamente peixes, frutas e legumes típicos do Brasil com esmeros da tradicional cozinha parisiense. Atala, nesse caminho, vem conseguindo difundir a cozinha regional brasileira pelos quatro cantos do mundo, sendo o primeiro latino-americano a dar aulas na tradicional escola francesa Le Cordon Bleu. Em 2005, lançou o livro Por uma gastronomia brasileira, no qual derruba tabus e defende a excelência da nossa gastronomia. Um dos resultados desta iniciativa se deu quando, na metade do ano passado, a conceituada revista inglesa Restaurant elegeu o D.O.M. como um dos 50 melhores restaurantes do mundo.

Ana Hickmann
Por Luiza Brunet*

Edu Lopes

Sempre achei Ana Hickmann uma mulher linda, exuberante, muito alta, fora do padrão estético brasileiro. Mas ela foi além. Destacou-se em 2006, ano em que ganhou credibilidade como apresentadora à frente de um programa diário de tevê. Não tenho dúvida de que o seu sucesso se consolidará em 2007. Ana soube sair bem e na hora correta do universo das passarelas e sessões de fotografia, para conduzir a carreira na televisão, iniciada em 2004. Tem carisma e profissionalismo. É realmente um grande exemplo. Apesar de muito jovem, com apenas 25 anos, transmite maturidade, reflexo de sua vida pessoal, já que Ana é uma mulher casada e se mostra feliz com sua família. Nesta soma de fatores, ela conseguiu fazer com que seu nome ficasse muito forte. Aconselho Ana a focar um nicho que tenha a ver com a sua imagem, e acho mesmo que ela avança pelo caminho certo.

* Luiza Brunet, 44 anos, é empresária e ex-modelo

André Esteves


Quando o fundador Luiz Cézar Fernandes deixou o Banco Pactual, dez anos atrás, muitos acreditaram que a instituição ficaria órfã, e não sobreviveria no disputado mercado financeiro brasileiro. É que quase ninguém sabia que, àquela altura, já começava a despontar dentro da organização a liderança do jovem André Esteves. Hoje com 38 anos, ele orientou o banco a promover, na Bolsa de Valores, aberturas de capital de empresas nacionais. O Pactual surfou, assim, à frente dos outros bancos de investimento, a onda de recuperação do mercado de capitais no País. Firmou-se, ao mesmo tempo, como uma instituição especializada na administração de fundos milionários. No segundo semestre de 2006, o banco surpreendeu o mercado financeiro ao ser vendido por US$ 1 bilhão ao suíço UBS. Uma das condições para a compra era a permanência de André Esteves na presidência da nova instituição, o UBS Pactual. Em 2007, com o pé direito e a conta recheada, o jovem financista é de saída um dos banqueiros mais influentes do País – e, por que não?, do mundo.

Antônio Ermírio de Moraes


Aos 78 anos, o empresário Antônio Ermírio de Moraes não se contenta em ser um dos empreendedores mais bem-sucedidos do País e, portanto, com trânsito sempre livre junto aos governantes de plantão. Ele quer também influenciar as pessoas. Autor de três peças de teatro que viraram livros, já difundiu suas idéias junto a milhares de brasileiros. O nome da mais recente, Acorda Brasil, traduz bem a sua notória impaciência com o baixo crescimento da economia do País nos últimos anos, causado em parte pelos problemas de infra-estrutura dos quais ele sempre reclamou. Membro de um grupo empresarial que investe US$ 1 bilhão por ano, ele preside a Companhia Brasileira de Alumínio (CBA) e o Hospital Beneficência Portuguesa. No momento, Antônio Ermírio está debruçado sobre a questão energética do País. A ameaça de um colapso no setor daqui a alguns anos assusta o homem que previu o apagão de 2001. “A gente tem que estudar sempre, estar preparado para 2010. Esse é um assunto que continua sendo um problema no Brasil”, afirma. Para a CBA, que produz 60% da energia elétrica que consome, o assunto é vital. Em 2007, a empresa alcançará a produção de 475 mil toneladas/ano, o que lhe dará o título de maior produtora brasileira de alumínio, ultrapassando a Albrás, da Vale do Rio Doce.

Antunes Filho

Max G Pinto
Consagrado como um dos principais diretores de teatro do Brasil, o paulista José Alves Antunes Filho concretizou em 2006 o sonho de encenar o caudaloso Romance d’A pedra do reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta, de Ariano Suassuna. Lançado em 1971, o livro parte de uma crítica à ditadura Vargas nos anos 30 e salta no tempo misturando tradições nordestinas à herança do império português. Para tal empreitada Antunes contou com o elenco formado por alunos do Centro de Preparação de Atores (CPT), criado por ele em 1982. A trajetória de Antunes Filho teve início na década de 50 – ele foi assistente, no Teatro Brasileiro de Comédia, de diretores como Ziembinski, Adolfo Celi e Ruggero Jacobbi. Estreou como diretor na comédia Week end, de Noel Coward. Ganhou fama de “massacrador” de atores, tal a sua exigência, e trombou de frente com o diretor José Celso Martinez Corrêa e as suas “criações coletivas”. Com Macunaíma (1978), embrião do CPT, Antunes se consagrou. Dirigiu para a tevê uma série antológica de teleteatros, abusando da linguagem cinematográfica. Essa sua faceta vem sendo revista em Antunes Filho em preto e branco, na TV Cultura, com 16 programas remasterizados e acrescidos de debates com atores, teatrólogos e jornalistas.

Ariano Suassuna

Max G Pinto
O escritor paraibano Ariano Suassuna, novo secretário de Cultura de Pernambuco, autor entre outros clássicos de O auto da Compadecida, é a prova de que badalação não torna ninguém necessariamente notável. Ele mal sai de casa. Mas em 2007 Ariano, se quiser, viajará muito pelo Brasil porque convites para eventos culturais não vão faltar. A comemoração dos seus 80 anos vai acontecer em junho, mas uma série de homenagens já lhe foram feitas de maneira informal. A primeira delas se deu no ano passado com a aguardada transposição para os palcos de seu romance A pedra do reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta, sob direção de Antunes Filho. A segunda homenagem está em curso na cidade paraibana onde Ariano passou a infância, Taperoá – lá o diretor Luiz Fernando Carvalho filma a microssérie global também inspirada em A pedra do reino. Espera-se a repetição do sucesso da minissérie O auto da Compadecida. Adaptada para as telas, a produção tornou-se um dos grandes sucessos do recente cinema brasileiro. No intervalo dessas pequenas viagens, Ariano finaliza seu novo livro que começou a escrever há 25 anos.

Aziz Ab’Saber

Max G Pinto
O peso dos 82 anos não impediu Aziz Ab’Saber de levantar a voz contra a transposição do rio São Francisco em 2006. E ele garante: não ficará calado em 2007. Eleitor de Lula quatro anos atrás, o mais respeitado geógrafo em atividade no País criticou a atuação da ministra Marina Silva e, como o bispo dom Luiz Flávio Cappio, lançou seu apelo pela suspensão do polêmico projeto. “É um conjunto de mentiras”, diz o mestre. “As águas poluídas e salinizadas da bacia do São Francisco jamais servirão para beber. E não se pode falar em ‘água para todos’ quando o projeto não vai beneficiar mais do que 0,2% do semi-árido.” Segundo Ab’Saber, mesmo para a agricultura os efeitos podem ser maléficos, já que a vazão do velho Chico é insuficiente para manter cheios os córregos do entorno. Satisfeito com o debate, o geógrafo já elegeu uma nova causa para 2007: ele quer barrar o avanço da monocultura de eucalipto, levado a cabo pelas indústrias de papel, e substituí-la por outras espécies brasileiras. “Reflorestar é reintroduzir essências nativas, e não plantar uma única espécie estrangeira a torto e a direito”, protesta.

Bernardinho

Sérgio Castro/AE
Do alto de sua seriedade e, tantas e tantas vezes, nervosismo, o carioca Bernardo Rocha de Resende, o Bernardinho, 47 anos, teria dificuldade para admitir um fato incontestável: sua competência está banalizando o sentimento de vitória entre os brasileiros. No dia 3 de dezembro de 2006, após uma série de apresentações brilhantes, a seleção masculina de vôlei comandada por ele, atual campeã olímpica, conquistou o bicampeonato mundial ao bater por 3 a 0 a ótima equipe da Polônia. É importante destacar as atuações memoráveis do levantador Ricardinho e do atacante Giba, eleito o melhor jogador do campeonato. Das 18 competições que disputou desde 2001, quando assumiu o vôlei masculino brasileiro, Bernardinho chegou a 17 finais e venceu 14. “Foi a maior vitória da história. Eles mostraram por que são o melhor time de todos os tempos”, disse após a decisão do Mundial o argentino Raul Lozano, técnico da equipe adversária, a Polônia. O grande desafio de Bernardinho em 2007 será organizar a equipe para tentar o seu segundo ouro olímpico como treinador, em 2008, em Pequim. Por isso, ele vai ocupar muitas manchetes esportivas, e também atrair cada vez mais as luzes da propaganda e da iniciativa privada. Muitas companhias querem associar suas marcas ao perfil perfeccionista e, sobretudo, vitorioso de Bernardinho. Pelos mesmos motivos, a agenda dele anda lotada de encontros empresariais, nos quais mostra como motiva suas equipes. Por tudo o que já fez, e pelo que está por vir, ele será, por excelência, um dos mais influentes brasileiros de 2007.

Bruna Surfistinha

Max G Pinto
Nem os melhores marqueteiros imaginariam uma trajetória tão fascinante para a ex-garota de programa Bruna Surfistinha: em 2006, poucas escritoras brilharam como ela. Para 2007, ela é uma das pessoas que críticos e editores apostam as suas fichas. Tudo começou há três anos, quando Raquel Pacheco, seu nome verdadeiro, sentiu-se solitária e começou a escrever sobre a própria vida em um blog na internet. “Queria apenas desabafar”, diz ela. Em poucos meses, o diário virtual registrava dez mil visitas, número que atualmente ultrapassa 25 mil acessos por dia. Mas era só o começo. Em 2005, ela aceitou o convite do editor Marcelo Duarte, da Panda Books, para contar sua história no livro O doce veneno do escorpião. A obra está na 16ª edição e já vendeu 200 mil exemplares. A façanha editorial abriu-lhe as portas do mundo. Agora, em janeiro, Bruna visitará diversos países europeus durante a turnê de lançamento de seu livro, que está sendo traduzido para o inglês, o alemão, o hebraico e o japonês.

Carlos Miele

Paul Warchol
O estilista paulistano Carlos Miele, 42 anos, elevou a moda brasileira a novos patamares – e promete continuar abrindo caminhos neste ano. Em 2003, ele passou a gestão da sua M.Officer para executivos contratados e inaugurou a primeira loja Carlos Miele em Nova York. O sucesso começou com o projeto arquitetônico, do egípcio Hani Rashid. O ambiente tornou-se uma das referências da arquitetura contemporânea da cidade e foi capa de importantes revistas de design de interiores em diversos países. Suas roupas, pontuadas pela convergência entre materiais modernos e artesanato popular, também conquistaram as americanas. Para 2007, os planos são de expansão. “Vou inaugurar uma loja na rue Saint Honoré, em Paris, e darei continuidade ao crescimento da M.Officer no Brasil”, planeja. O estilista também acaba de lançar uma marca, de estilo mais casual, a Miele by Carlos Miele. “Também quero abrir 20 lojas nas principais capitais do País e aumentar o atual número de 19 países para 30 países que vendem esta coleção”, prevê. Planos ousados? É esse mesmo o negócio dele.

Cacique Magaron

Eduardo Albarello
Em setembro, o cacique Megaron foi à região onde caiu o avião da Gol, na Serra do Cachimbo. Ele tem influência, como chefe indígena, sobre 8,5 milhões de hectares, área que corta três Estados e compreende o Parque do Xingu e toda a região onde caiu a aeronave. Usando chinelo de dedo, o cacique ajudou a resgatar os corpos dos passageiros e impediu que saqueadores roubassem jóias e objetos pessoais. Acompanhado de parentes das vítimas, algumas semanas depois Megaron voltou à cena do acidente e realizou uma cerimônia em homenagem aos mortos. “Fizemos a cerimônia com muita tristeza dentro de nós”, diz Megaron. “Homenageamos estas pessoas que morreram como se fossem nossos parentes”. Em caiapó, o nome do cacique significa “Espírito Grande”. A odisséia de Megaron tem impressionado muita gente. O antropólogo José Borges Gonçalves Filho, que acompanha o trabalho dos caiapós, faz uma pergunta: “Se um torneiro mecânico é reeleito presidente da República, por que um índio não pode ser presidente da Funai?” Está lançada a candidatura do grande cacique.

Cao Hamburger
Quem acompanhou o salto de qualidade da programação infantil da TV Cultura sabe o que significa o nome do cineasta paulista Cao Hamburger. Foi ele quem esteve à frente de um dos mais criativos projetos da emissora, o programa infantil Castelo Rá-Tim-Bum, cujo sucesso o levou a dirigir o filme de mesmo nome. Agora mais um título vai marcar a carreira desse cineasta: a bela crônica dos tempos da ditadura O ano em que meus pais saíram de férias, sobre um garoto mineiro que vai viver com o avô no bairro do Bom Retiro, em São Paulo. Seus pais tiraram “umas férias” a convite das forças da repressão – exatamente como os pais de Cao, os físicos Ernst e Amélia Hamburger. Em dois meses de exibição, O ano em que meus pais saíram de férias já foi visto por cerca de 310 mil espectadores.

Celita Procópio
Por Manoel Francisco Pires da Costa*

Max G Pinto

Não se pode falar de Celita Procópio sem falar da instituição que ela preside, a Fundação Armando Álvares Penteado, de São Paulo. A Faap tem méritos fantásticos e, para felicidade do próprio conde Armando Álvares Penteado e das pessoas que a dirigiram depois dele, surgiu essa figura magnânima que é a Celita, elegante, corretíssima e de uma lealdade intelectual muito forte. Ela formatou uma administração correta, com poucos e competentes colaboradores. Assim, a Faap cresceu muito, particularmente na história da arte. A mostra sobre Napoleão foi quase uma chamada de conceito. Depois, as exposições sobre a China e o Egito. Agora, tivemos essa beleza que foi a mostra sobre os deuses gregos. Não só as exposições são magníficas, como é magnífica a maneira de montá-las. Portanto, Celita é a personagem máxima em matéria de cultura no Brasil. Ela está dando uma lição de competência a todos nós.

*Manoel Francisco Pires da Costa, presidente da Fundação Bienal de São Paulo

Chico Buarque

Claudio Gatti
Para a Música Popular Brasileira, 2006
foi especial. Depois de oito anos sem lançar um disco com músicas inéditas, Chico Buarque saudou o público com novo CD, Carioca, e um DVD, Desconstrução – além de turnê que entra em 2007 na rota do sucesso de bilheteria e crítica. Um novo DVD, dessa vez a gravação ao vivo do show Carioca, chegará às lojas brevemente. Ou seja, Chico estará nas paradas de 2007 como há muito não acontecia. É bom tê-lo de volta. Ele fala pouco, mas é sempre polêmico. No ano passado, provocou um bom debate ao defender a liberação das drogas como “um mal menor.” Apontado como símbolo sexual, Chico desglamourizou esse título e mostrou a uma sociedade movida pela busca dos 15 minutos de fama que há coisas mais importantes na vida. Sem vaidade, disse que era ridículo chamar de sexy um sexagenário como ele. O ano de 2006 foi-lhe especial, também, porque marcou a sua entrada em um mercado fonográfico alternativo: fez contrato com a gravadora Biscoito Fino, pequena quando comparada às líderes de mercado. O retorno desse craque da MPB é um bom augúrio para 2007.

Ciro Gomes

Roberto Castro
O ex-ministro, ex-governador, ex-presidenciável e sempre polêmico Ciro Gomes chega ao Congresso Nacional em 2007 carregando na mala uma votação consagradora: 667.830 votos. Proporcionalmente, foi o deputado federal mais bem votado em todo o País. Elegeu-se pelo Ceará, seu Estado natal. Ciro, que em 2002 disputou com Lula o Palácio do Planalto, tornou-se ao longo do primeiro mandato do petista um de seus principais aliados. Como ministro da Integração Nacional, foi encarregado de levar a cabo um dos mais importantes projetos do presidente, a transposição do rio São Francisco. Não conseguiu: a obra está embargada pela Justiça. Mas o prestígio de Ciro junto ao palácio não foi abalado por isso. Do ápice das denúncias contra o governo até a campanha, o cearense, língua afiada, agiu como guerrilheiro para defender o governo ante os ataques da oposição. Pode ser ministro de novo, mas prefere ficar no Congresso. Está de olho em 2010. A Presidência da República ainda não saiu de seus planos.

Cláudio Lembo

Biô Barreira
“O problema da violência no Estado só será resolvido quando a minoria branca mudar sua mentalidade.” A fala acima não partiu de um candidato do PSTU. Saiu de onde menos se esperava, da boca do então governador Cláudio Salvador Lembo (PFL), em plena crise dos ataques do PCC no Estado de São Paulo. Advogado desde 1959, ex-reitor da Universidade Mackenzie, casado, 72 anos e pai de duas filhas, Lembo foi, até para seus desafetos políticos, a mais grata surpresa política de 2006. No seu estado – não o de São Paulo – mas o de catarse, ele foi além: “Nós temos uma burguesia muito má, uma minoria branca perversa. A bolsa da burguesia vai ter que ser aberta para poder sustentar a miséria social brasileira”, sentenciou. Não pense também que ele seja um liberal revolucionário. Lembo, segundo Lembo, é “um pequeno burguês”. Ele promete neste ano voltar à vida acadêmica e a transitar pela capital paulista.

Cleonice Berardinelli

Hélcio Nagamine
Quem ama a literatura deverá ouvi-la
em 2007 – de novo. Há 62 anos, a professora Cleonice Berardinelli, luta
para despertar essa paixão em seus alunos da Universidade Federal do
Rio de Janeiro. Como titular de
Literatura Portuguesa da Pontifícia Universidade Católica do Rio (PUC-Rio), ela leciona, orienta teses de pós-graduação e se destaca como a maior especialista dessa disciplina no Brasil. Doutora honoris causa da Universidade de Lisboa, teve momentos de glória, como o papel de musa inspiradora de duas crônicas de Manoel Bandeira, de quem foi grande amiga e, como ela diz, “conversadora”. Aos 90 anos, a “divina Cleo” (assim definida pelo ex-aluno Zuenir Ventura) atribui seu dinamismo ao fato de sempre conviver com os jovens. E brinca: “As pessoas da minha idade afobaram-se e morreram antes de mim.”

Clodovil

Jayme de Carvalho Jr.
No primeiro dia de fevereiro deste ano, 513 deputados federais assumirão seus mandatos na capital federal. Entre eles, um em particular deverá roubar a cena política. Ele assina Clodovil Hernandes. Assina, porque antes de tudo ele é um estilista. Amante dos flashes, Clô – para os íntimos – leva para o poder, além do primor das vestimentas, 493.951 votos, o terceiro mais votado do País, e com sua contumaz acidez já dispara: “Brasília nunca mais será a mesma.” Em 2006, aos 69 anos, ele foi a surpresa das urnas: não fez um único comício, nem apresentou nenhuma proposta. Filho adotivo de pais de origem espanhola, o menino pobre que costurava roupinhas de boneca para as meninas da família passou pela alta-costura, fez fama como apresentador de tevê e chegou ao Parlamento com outra marca. Ele será o primeiro deputado federal assumidamente gay a transitar pelos salões do Congresso Nacional.

Daniel Dantas

Roberto Castro
Por seu raro talento para administrar negócios e capacidade em administrar investimentos, ele está confortavelmente instalado no clube dos grandes gestores do País. Baiano de fala mansa, até os adversários elogiam um ponto em Daniel Dantas: ele sabe ganhar dinheiro. Formado em engenharia e pós-graduado em economia pela Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro, ele trabalha em média 17 horas por dia. Começou nos negócios com uma fábrica de sacolas, passou depois para um posto de gasolina, trabalhou na construtora Odebrecht e, então, fundou o Banco Opportunity. O economista Mário Henrique Simonsen, que foi seu professor, indagado certa vez sobre quem era o seu melhor aluno, não titubeou: “Dantas, Dantas e Dantas.” O elogio do intelectual impulsionou a carreira desse filho de descendentes ingleses que na década de 90 já era considerado, no mercado de capitais, um mago das finanças. Em 2007, estará, como sempre, à frente de grandes negócios.

Daniella Cicarelli

Edu Lopes
A modelo e apresentadora mineira Daniella Cicarelli Lemos continuará a brilhar na telinha em 2007. Ela renovou o seu contrato como apresentadora do canal MTV, onde apresenta o programa Beija sapo, uma espécie de cupido televisivo. Sua própria vida amorosa é sempre notícia – no Brasil e no mundo. No ano passado, Daniella foi vítima de um paparazzo e protagonizou um dos vídeos mais vistos no planeta: uma tarde de amor e sexo com o empresário Renato Malzoni Filho, em uma praia espanhola. Ela processou o abelhudo. Durante entrega do melhor videoclipe da MVB, a modelo riu da situação e encerrou a fofoca com bom humor. A tumultuada separação do jogador Ronaldo, apenas três meses depois do seu casamento, já havia sido motivo de chacota. Daniella, como sempre, segue em frente como ícone jovem dos brasileiros.

Diego Hipólito
Por Daniele Hipólito*

Diego ama o que faz. Meu irmão é um atleta muito esforçado e um de seus pontos fortes é a coordenação – ele faz tudo absolutamente consciente de cada movimento. Seu potencial no salto e no solo é enorme e, agora, dedica-se a aperfeiçoar o desempenho nos outros quatro aparelhos: a paralela, a barra, o cavalo e a argola. Isso é importante para que conquiste uma vaga olímpica. Sua capacidade de superação é exemplar. Em 2005, ficou três meses parado por causa de uma lesão que o obrigou a colocar dois pinos no pé. Mesmo assim, foi campeão mundial. Em 2006, rompeu três ligamentos do pé, antes do Campeonato Mundial, e acabou ganhando a medalha de prata para o Brasil. Eu o amo, torço muito por ele. Espero que continue assim. Se mantiver esse pique, uma medalha nas Olimpíadas virá como conseqüência de um bom trabalho.”

* Daniele Hipólito é ginasta

Dilma Roussef
Por Aldo Rebelo*

André Dusek

É notória e conhecida a extraordinária capacidade da ministra Dilma Rousseff de impor liderança nos projetos que geram desenvolvimento para o País. O perfil de gerente, a indiscutível bagagem técnica e a experiência de gestão são qualidades que se somam à extrema sensibilidade para as questões sociais. O princípio que norteia o trabalho de Dilma à frente da Casa Civil busca construir um País justo e democrático. Ela conduz os assuntos ligados à infra-estrutura com firmeza para eliminar gargalos da economia e possibilitar um caminho seguro rumo ao crescimento duradouro. Sabe que o cuidado com este setor é decisivo para que o País atinja o tão sonhado patamar de crescimento da economia. Só assim será possível diminuir as desigualdades sociais e conseguir melhor distribuição de renda, sobretudo para as classes pobres e necessitadas. O objetivo da ministra Dilma, um dos melhores quadros desta equipe de governo, é buscar esse caminho.

* Aldo Rebelo é deputado federal (PCdoB-SP) e presidente
da Câmara dos Deputados

Dom Cláudio Hummes

Max G Pinto
O cardeal Dom Cláudio Hummes, 72 anos, foi nomeado prefeito da Congregação do Clero, departamento que tem sob seus cuidados os 400 mil padres católicos espalhados pelo mundo. É um cargo importante: na hierarquia da Igreja, fica abaixo apenas do papa e do secretário de Estado do Vaticano. Arcebispo de São Paulo por oito anos, foi cotado em 2005 para a sucessão de João Paulo II. O trabalho na Cúria Romana será equivalente ao de um ministério voltado para a seleção e a formação de sacerdotes. Hummes trabalhou na Pastoral Operária brasileira em tempos difíceis. Nos anos 70 e 80, apoiou greves do ABC. Nesta época, tornou-se amigo do presidente Lula. Fiel aos dogmas, tem bom trânsito tanto à direita quanto à esquerda.

Eduardo Braga


Nascido na cidade de Belém, Carlos Eduardo de Souza Braga aos 46 anos governa o Estado brasileiro que detém a maior área verde do País – terra equivalente a quase três vezes o tamanho da França. Empresário e engenheiro elétrico formado pela Universidade Federal do Amazonas, Braga começou a carreira política aos 21 anos quando assumiu uma cadeira na Câmara dos Vereadores de Manaus. Em 1986, eleito deputado estadual, Eduardo relatou a Constituição do Amazonas e nas eleições de 1990 já ganhava um mandato parlamentar federal. Eduardo Braga cresceu na política amazonense à sombra do ex-governador Amazonino Mendes. Em 1992, foi eleito vice-prefeito de Manaus na chapa que tinha Amazonino na cabeça. Dois anos depois, Braga assumiu a prefeitura e em 1996 deixou o cargo com 98% de aprovação da população, o maior índice do País. Eduardo Braga rompeu com seu ex-padrinho e buscou vôo próprio. Em 2002, foi conduzido ao Palácio de Governo do Amazonas no primeiro turno, com 52,37% dos votos. Casado e pai de três filhas, Eduardo Braga conquistou a reeleição pelo PMDB.

Eduardo Campos

Roberto Castro
Os peemedebistas e pefelistas pernambucanos acreditavam que seria um passeio: o vice-governador Mendonça Filho, do PFL, venceria com facilidade apoiado pela força do governador Jarbas Vasconcelos, do PMDB. Eduardo Campos, porém, estraçalhou os planos de aliança PFL-PMDB em Pernambuco. Eleito governador desse Estado, Campos instala agora um importante posto de apoio a Lula. Para se eleger, ele rachou o PMDB de Jarbas Vasconcelos obtendo a parceria do deputado Inocêncio Oliveira. Como primeiro-secretário da Câmara, seria ele, Inocêncio, quem leria o termo de posse do presidente Lula. Mas a vitória de Campos foi-lhe tão importante que ele não foi a Brasília e preferiu prestigiar o novo governador de Pernambuco. Eduardo Campos dará continuidade a uma importante linhagem política nesse Estado porque é neto de Miguel Arraes. E Miguel Arraes foi governador de Pernambuco por três vezes.

Eduardo Suplicy

André Dusek
Eleito pela terceira vez ao Senado Federal, Eduardo Matarazzo Suplicy, 65 anos, viu recompensada sua postura independente dentro do PT, que o deixou à vontade para exigir investigações e punições contra seus pares envolvidos no escândalo do mensalão. Mas apesar do recorde de votos (8,9 milhões), seu adversário Guilherme Afif Domingos (PFL) obteve 8,2 milhões de votos. Formado em administração de empresas pela FGV e com mestrado da Michigan State University, o ex-boxeador Suplicy iniciou sua carreira política em 1978, como deputado estadual pelo antigo MDB. Deputado federal pelo PT em 1982, ele perdeu eleições para a Prefeitura de São Paulo (1985 e 1992) e o governo do Estado (1986). Em 1991, chegou ao Senado e tornou-se um dos principais articuladores da CPI que investigou o “collorgate”. No Senado, idealizou e batalhou incansavelmente pela implantação da renda mínima.

Ellen Grace
Por Nélson Jobim*

Discreta, austera e sobretudo organizada. Assim pode ser definida Ellen Gracie Northfleet, a primeira mulher a assumir a presidência da máxima corte da Justiça brasileira, o Supremo Tribunal Federal (STF). Bisneta de americanos, ela nasceu no Rio de Janeiro, formou-se no Rio Grande do Sul e, pelas mãos de Fernando Henrique Cardoso, conquistou uma das 11 cadeiras do STF há seis anos. Em abril de 2006, Ellen foi alçada a presidente da Casa, posto que lhe põe em vantagem para galgar outro feito inédito na história do Brasil. Quarta pessoa na linha sucessória do Palácio do Planalto, ela pode ser também a primeira mulher a assumir a Presidência da República. Divorciada, 58 anos, mãe de uma filha advogada, Ellen também preside o Conselho Nacional de Justiça, órgão responsável por fazer o controle externo do Judiciário. Do alto desse posto, aliás, ela encerrou o ano como condutora de uma causa popular num país desigual como o Brasil: ordenou a redução dos salários de desembargadores que ganham mais de R$ 22 mil. Ela também sentiu na carne o drama das grandes cidades brasileiras ao ser vítima, no início de dezembro, de um assalto no Rio de Janeiro, junto com seu colega Gilmar Mendes, vice-presidente do STF. Por trás da face cuidadosamente maquiada, dos indefectíveis cabelos laqueados e da pose sempre altiva, se esconde uma mulher com hábitos comuns, que gosta de cozinhar e fazer ginástica. Sua maior característica, entretanto, é o apego aos livros. Ellen Gracie, como costuma dizer seu amigo Nelson Jobim, é uma Caxias de marca maior. Talvez por isso tenha chegado tão longe.

*Nélson Jobim é ministro do Supremo Tribunal Federal

Felipe Massa
Por Emerson Fittipaldi*

Claudio Gatti

O excelente desempenho de Felipe Massa não me surpreendeu. Ele sempre foi rápido, desde a época do kart. Na Fórmula 1, demorou para ter um carro competitivo. Na época da Sauber foi difícil. Em 2006, na Ferrari, teve sua grande oportunidade e soube aproveitá-la. Venceu na Turquia e no Brasil e aprendeu muita coisa com Schumacher. A vitória no Brasil foi seu maior feito até agora. Todo piloto sofre quando corre em casa, submetido às pressões da família, dos amigos, da imprensa, do público e de si mesmo. Eu senti isso todas as vezes que corri aqui. Em 2007 ele terá um grande desafio, já que seu colega de equipe será o veloz Kimi Raikkonen. Mas o fato de ele já ser da equipe vai pesar a seu favor. O pessoal da Ferrari gosta do Felipe e ele tem todas as condições para disputar o mundial em 2007. Como todo brasileiro, estarei torcendo.

* Emerson Fittipaldi é empresário, ex-piloto, bicampeão de Fórmula-1 (1972-1974) e campeão da Fórmula Indy (1989)

Fenando Collor

Ana Paula Paiva
“Elle” voltou. Em fevereiro, Fernando Collor de Mello irá tomar posse de uma cadeira no Senado da República. Eleito por Alagoas na vaga da candidata derrotada Heloísa Helena, Collor promete revelar assim que tomar posse os bastidores da “conspiração” (segundo ele mesmo) que o tirou do poder em 1992. Ele tinha apenas 40 anos quando derrotou Luiz Inácio Lula da Silva e foi eleito presidente da República em 1990, na primeira eleição direta para o cargo após o fim da ditadura militar. Mas seu governo, manchado por escândalos de corrupção e marcado por medidas radicais da equipe econômica (entre as quais o confisco da poupança e a abertura às importações), foi encerrado pelo Congresso em dezembro de 1992, no primeiro processo de impeachment no País. Acusado em 103 processos, foi absolvido de todos.

Fernando Gabeira

André Dusek
Mineiro que vive no Rio de Janeiro, Fernando Gabeira, 65 anos, brilhou mesmo em Brasília. Deputado federal (PV-RJ), ele pressionou os parlamentares a instaurar a CPI dos Sanguessugas (escândalo das ambulâncias superfaturadas) e marcou presença na Câmara dos Deputados em defesa da ética. Seu desempenho lhe valeu uma das maiores votações do País para deputado federal nas últimas eleições. Ex-integrante da esquerda armada, Gabeira fez parte do grupo que em 1969 seqüestrou o embaixador americano Charles Burke Elbrick, viveu no exílio e está proibido, até hoje, de entrar em território americano. Tornou-se militante verde e crítico de tabus comportamentais. No ano passado, deu a largada no processo que culminou com a renúncia de Severino Cavalcanti da presidência da Câmara. No verão de 1980, o ex-guerrilheiro alvoroçou a direita e a esquerda quando, recém-anistiado, desfilou com uma sumária sunga de crochê lilás na praia de Ipanema – tornando-se símbolo do verão da abertura política. Agora, Gabeira promete manter o seu pique no Congresso ao longo de 2007.

Fernando Haddad
Por Timothy Mulholland*

Joédson Alves

A presença do professor Fernando Haddad no Ministério da Educação propiciou avanços históricos para a educação brasileira. Rompeu com a idéia de que os diversos níveis de ensino devessem competir entre si pelos parcos recursos públicos e demonstrou a necessidade de se olhar o sistema como um todo, desde a pré-escola até o pós-doutorado. Aprovou o Fundeb, que injetará recursos expressivos no ensino básico em prol da universalização definitiva e do salto de qualidade que o País exige. Promoveu a recuperação e a expansão da educação pública superior, congelada e maltratada há décadas, criando universidades nas regiões mais carentes. Criou a Universidade Aberta do Brasil para implementar o ensino de cursos de graduação a distância em todas as regiões. A educação assume finalmente o seu lugar de prioridade nacional, não por partes ou em investidas isoladas, mas como um projeto integrado e completo de desenvolvimento e de resgate de uma dívida histórica do País para com sua gente. Parabéns, ministro.

* Timothy Mulholland é reitor da Universidade de Brasília (UnB)

Geraldo Alckmin
Roberto Castro

O tucano Geraldo Alckmin sabia que teria dificuldades para vencer a campanha presidencial de 2006. O que não estava escrito é que, mesmo derrotado no segundo turno pelo presidente Lula, ele sairia dela com uma expressão que antes não tinha – a de liderança nacional, com presença em todos os Estados do País. Alckmin percorreu os 27 Estados, firmou contatos partidários e conheceu mais de perto as mazelas nacionais. Seu desempenho no primeiro turno foi considerado espetacular, o que o credencia a ser candidato a novos vôos a partir de agora. Ele tanto pode tentar a Prefeitura de São Paulo, em 2008, como disputar dentro do PSDB o direito a ser, outra vez, o candidato presidencial em 2010. Obstinado e perseverante ele já provou que é.

Giba
Melhor jogador de vôlei do mundo,
ele será a grande estrela do
Pan-Americano no Rio

Sergio Perez/ Reuters

O paranaense Gilberto Godoy Filho, o Giba, 30 anos, tem 1,92 m de altura, mas se considera baixinho para os padrões da carreira que abraçou: o voleibol profissional. Não é bem assim. Ele foi bicampeão mundial, medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Atenas e seis vezes vencedor da Liga Mundial de Vôlei. Ao conquistar o segundo título mundial, no Japão, o ponta consagrou-se como o melhor jogador do mundo na atualidade. Já virou tradição. Em 1993, na categoria infanto-juvenil, levou o prêmio de melhor do Mundial. Em 1995, repetiu o feito, dessa vez entre os juvenis. Com tantos trunfos, Giba está sendo comparado aos grandes nomes do vôlei, o americano Karch Kiraly e o italiano Andrea Giani. Isso porque, além de ser um excelente atacante, sabe defender e liderar os companheiros, é guerreiro e ainda tem espírito de equipe. Certamente será um dos líderes da seleção brasileira no Pan-Americano de 2007, no Rio de Janeiro, e nos Jogos Olímpicos de 2008, em Pequim.

Guido Mantega
Por Armando Monteiro Neto*

Ana Paula Paiva

O ano de 2007 será particularmente desafiante para Mantega. Em abril de 2006, ele ascendeu ao posto de ministro da Fazenda com um grande privilégio e um desafio ainda maior. O privilégio será administrar uma economia com indicadores saudáveis e extremamente positivos em várias áreas. O risco-país vem caindo, a inflação está controlada e as reservas externas superam US$ 80 bilhões. O desafio: cumprir a promessa do presidente Lula de “destravar” o crescimento e adotar uma agenda que estimule o desenvolvimento. O Brasil tem crescido abaixo da média dos emergentes e, a cada ano que passa, vai perdendo importância no mundo. Em 2006 crescemos menos de 3%. É um resultado pífio. E como acelerar o crescimento? A melhor saída é reduzir os gastos públicos. Aumentar a capacidade de investimento do Estado, permite uma redução expressiva das taxas de juros reais e libera a poupança do setor privado. O crescimento mais robusto só ocorrerá com substancial elevação da taxa de investimento. Não é tarefa fácil. A missão do ministro Mantega é apresentar a solução dessa equação.

* Armando Monteiro Neto é presidente da Confederação Nacional da Indústria

Heloísa Helena
Por Arthur Virgílio*

Felipe Barra

Ela deixa o Senado Federal levando consigo a admiração e o respeito de todos nós, Senadores, e, estou certo!, da Nação. Digo isso com a autoridade de quem, antes de conhecê-la pessoalmente, não nutria por ela nenhuma simpatia – sentimento que devia ser recíproco. Nossas posições eram antípodas, pois! Não mudamos, do ponto de vista da compreensão do mundo. Apesar das diferenças de pensamento, enormes no campo ideológico, descobri, no Senado, a figura extraordinariamente humana e sincera de Heloísa Helena. Que grata surpresa! Eis aí quem consegue ser radical, sem ser sectária. Ardorosa, porém capaz de granjear a estima de todos. Sua volta à tribuna formal é questão de tempo. E sua presença na tribuna informal que lhe garantem os recentes 6,5 milhões de votos continuará incomodando quem não respeita este País. italiana.

* Arthur Virgílio é senador (PSDB-AM)

 

 

José Serra
Marcio Fernandes/AE

Esse descendente de italianos tem pela frente o desafio de administrar o mais complexo e rico Estado da federação. Casado, dois filhos, dois netos, José Serra começou sua carreira política nos anos 60, como líder estudantil. Durante a ditadura militar, passou 14 anos exilado no Chile. De volta ao País, elegeu-se deputado constituinte e senador. Foi secretário de Estado, ministro da Saúde e candidato à Presidência da República. No final de 2004, dois anos depois de ser derrotado por Lula na disputa presidencial, recuperou o fôlego e conquistou a Prefeitura de São Paulo. Prefeito por apenas um ano, mostrou força ao ganhar as eleições estaduais no primeiro turno em 2006. Se fizer um bom trabalho no combate aos principais problemas paulistas, irá se credenciar como um dos fortes candidatos à sucessão do presidente Lula.

Juliana Paes

Edu Lopes
A atriz viu as portas se abrirem para o mercado internacional em 2006. Única brasileira entre as 100 personalidades mais sexies do mundo segundo a revista People, ela passou a integrar o casting da agência Beverly Hills, em Los Angeles. O que pode advir desse contato, Juliana não sabe. Mas comemora a possibilidade de consolidar a carreira artística. Aos 27 anos, o tipo brejeiro rendeu-lhe diversos outros títulos de beleza no ano passado. Envaidecida, ela se mostra também preocupada: “Juntamente com os elogios vêm as cobranças em dobro”. Capa de ISTOÉ em 2004 como a musa das musas do Carnaval, Juliana não só confirmou a aposta como vem se mantendo no topo dos desfiles na Sapucaí. Simpática, a atriz só fechou a expressão meses atrás quando foi clicada sem calcinha numa festa. Com a imagem divulgada amplamente na mídia, a musa tratou de explicar que tinha o hábito de dispensar a peça ao usar vestidos de tecido fino. O aborrecimento não durou muito tempo. Juliana não é de se dedicar a episódios negativos.

Kibe Loco

Fotos: Renato Velasco
Quem navega regularmente pela internet conhece as brincadeiras do Kibe Loco, site que é um campeão de audiência no País. São 100 mil visitantes por dia trafegando pelo endereço www.kibeloco.com.br para conferir os textos e vídeos veiculados pelo publicitário carioca Antonio Pedro Tabet, 32 anos. O Kibe Loco nasceu em abril de 2002. “Para não sucumbir ao tédio de trabalhar na área de marketing de um banco”, conforme diz, Tabet criou um blog para escrever e fazer montagens engraçadas. Por que esse trabalho tem influenciado os brasileiros? Segundo Tabet, isso comprova que muitas pessoas podem mostrar suas idéias nessa mídia que ele considera a mais democrática de todas. Detalhe: apesar de o site não ser uma grande empresa, Tabet tem recebido currículos de interessados em trabalhar nele. “Só se for no meu colo”, diverte-se. E emenda. “Talvez por isso eu só tenha lido, com carinho, os currículos das mulheres.”

Lázaro de Mello Brandão

Zeca Caldeira
Um dos ícones do mercado financeiro do País, o presidente do Conselho de Administração do Bradesco, Lázaro de Mello Brandão, alcança em 2007 a marca de 64 anos de carreira – e 80 anos de idade. Ele fazia parte, em 1942, da Casa Bancária Almeida & Companhia, da cidade de Marília, no interior de São Paulo. No ano seguinte, esta instituição tornou-se o Banco Brasileiro de Descontos, o Bradesco, no qual o “seu” Brandão, como é conhecido entre os mais de 60 mil funcionários, subiu todos os degraus. Sucessor do lendário Amador Aguiar, ele conheceu de perto todos os presidentes da República dos últimos 30 anos, trocou idéias e deu conselhos. Sua figura une tradição e modernidade, com uma capacidade de diálogo e liderança que exercitará ao longo do ano que se inicia, no qual continuará como principal conselheiro do maior banco privado do País.

Lázaro Ramos


Com apenas 27 anos, o ator baiano Lázaro Ramos já tem garantido lugar de destaque entre os grandes artistas do País. Além de primorosas atuações no cinema, em 2006 ele foi o primeiro negro a protagonizar uma novela brasileira. Na pele de Foguinho, um personagem non sense da novela global Cobras & lagartos, ele fugiu ao maniqueísmo típico da telinha. Com o charme de um Macunaíma, o anti-herói de Mário de Andrade, Ramos esbanjou talento ao compor traços tão antagônicos como safadeza e romantismo. Seu carisma ultrapassou os limites do personagem e Foguinho lançou moda de bigode louro. Se a novela popularizou seu talento, o cinema se manteve como o espaço onde seu trabalho é mais apurado. Em 2006, o ator brilhou como um ex-escravo em Cafundó, de Paulo Betti. Ele tem ainda em seu currículo desempenhos elogiáveis nos filmes O homem que copiava (2002), Madame Satã (2002) e Cidade baixa (2005). Neste ano, estará em Saneamento básico, de Jorge Furtado, e em Ó paí ó, de Monique Gardenberg.

Leandrinho


A bola de basquete que ganhou do irmão aos cinco anos traçou o futuro de Leandro Mateus Barbosa, que queria ser craque de futebol. Além da grande bola cor de laranja, Leandrinho ganhou uma severa disciplina de treinamento imposta pelo irmão mais velho, Artur, militar do Exército. Quinze anos mais tarde, em 2003, o menino que brincava pelas ruas de terra da periferia de São Paulo foi selecionado pelo time americano Phoenix Suns para disputar a NBA, a liga de basquete profissional dos EUA. O ala/armador Leandrinho tornou-se o quinto brasileiro a jogar na NBA. O gigante de 1,93 m de altura foi destaque em 2006: ele conseguiu, em muitos jogos, ultrapassar a marca de 20 pontos. Satisfeito com seu desempenho, o Suns não esperou o vencimento do contrato do cestinha brasileiro, no final de 2007. Para ficar com Leandro até 2013, o time tratou de desembolsar R$ 32 milhões.

Luiz Inácio Lula da Silva
Maduro, o presidente da República
promete um segundo mandato
mais lulista e menos petista

Joédson Alves

É opinião unânime entre os amigos próximos de Luiz Inácio Lula da Silva: ele está mais maduro. As seguidas crises enfrentadas desde o escândalo do mensalão calejaram o presidente. E ensinaram lições. Uma delas: é nele que o povo deposita esperança. Por isso, Lula se afastou dos antigos conselheiros que agiam como se ele devesse ser um mero tutelado. A partir de 2007, ele apostará em suas principais qualidades: a profunda intuição e a capacidade de negociar aprendida nos tempos de sindicalista. O segundo governo promete ser mais lulista e menos petista. Para tanto, o presidente avisa que seus cabelos brancos o fizeram guinar da histórica posição de esquerda para um lugar no centro político, com novos conselheiros moderados e conservadores, como Delfim Netto e o ex-presidente José Sarney. Desde que eles também não imaginem que possam mandar nele. Lula observou que o povo, ao elegê-lo, ignorou os apelos dos que se consideram mais esclarecidos. Livrou-se dos cabrestos. Lula se acha parte desse mesmo povo. Em 2006, livrou-se dos seus cabrestos também.

Marcelo Gomes
Fred Jordão/IMAGO

O pernambucano Marcelo Gomes fechou o ano
com um salto e tanto na carreira. Além de acumular mais de 40 prêmios com seu filme de estréia, Cinema, aspirinas e urubus, ele pode somar mais um, o maior de todos, em fevereiro de 2007: a sua obra foi escolhida pelo Brasil para disputar o Oscar de Melhor Filme em Língua Estrangeira. A história
se passa em 1942, a partir do encontro de um alemão vendedor de aspirinas e foragido da
Segunda Guerra com um brasileiro que quer
escapar da seca. Quando começou a fazer curtas
em Pernambuco, em 1993, Marcelo Gomes e seus amigos Claudio Assis, Paulo Caldas e Lírio Ferreira integravam o movimento chamado “Árido Movie”. Hoje, Marcelo Gomes prefere dizer que faz apenas movies – ou seja, cinema. E que cinema!

Márcio Cypriano

À frente de uma instituição com ativos de R$ 243,4 bilhões – o que faz do Bradesco o maior banco privado do País –, o advogado Márcio Cypriano chega todos os dias pontualmente às 7 horas na Cidade de Deus, em Osasco. Ali, como diretor-presidente, ele comanda uma operação que mobiliza mais de 60 mil funcionários em torno de 17 milhões de contas correntes. Ele conhece de perto todas as etapas da atividade bancária. Foi gerente de agência antes de se tornar diretor e alcançar a presidência. No último ano, também foi presidente da poderosa Federação Nacional dos Bancos, tornando-se porta-voz do setor junto ao governo. Dentro do Bradesco, é reconhecido como o líder de uma geração que conseguiu multiplicar os lucros da instituição e ampliar o seu perfil, de eminentemente popular para a prestação de serviços a todas as classes. Em 2007, será uma das referências mais sólidas do mercado financeiro.

Márcio Thomaz Bastos

Joédson Alves
O advogado criminalista Márcio Thomaz
Bastos chegou ao Ministério da Justiça em janeiro
de 2003 carregando um currículo muito diferente
dos políticos tradicionais. Não possuía expressiva vivência partidária, mas tinha as credenciais de
um jurista reconhecido nacionalmente e fora advogado do próprio presidente Lula. Em pouco tempo se tornou um ministro de primeira grandeza ao conduzir a reforma do Judiciário. Resgatou a credibilidade da Polícia Federal e com a crise do mensalão acabou se tornando um dos principais interlocutores do presidente. A oposição tentou lhe impor o carimbo de advogado do governo, mas Bastos não deu ouvidos. Deverá deixar o Ministério nos próximos 30 dias, contrariando a vontade de Lula. No entanto, mesmo fora do governo, será com certeza um dos homens a ser ouvidos pelo presidente durante seu segundo mandato.

Marco Aurélio Mello

Joédson Alves
Ele poderia ter se aposentado aos 49 anos, mas preferiu continuar na ativa. Hoje, aos 60 anos, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) é um homem que se tornou conhecido pelas diversas brigas e polêmicas em que se envolveu. Foi ele quem rejeitou as contas do PT na campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à reeleição. Também foi ele quem obrigou o tucano Geraldo Alckmin a refazer suas contas. Ambos foram enquadrados porque a legislação proíbe que empresas concessionárias de serviços públicos façam doações. Na televisão, Marco Aurélio promoveu campanhas educativas – não para explicar o funcionamento da urna eletrônica, como ocorreu em eleições anteriores, mas para falar da importância da eleição. O eleitor foi orientado a não votar em quem não confiaria a sociedade de uma empresa.

Marconi Perillo

Mantovani Fernandes
O ex-governador Marconi Perillo saiu das urnas consagrado em definitivo como uma das novas lideranças políticas da região Centro-Oeste do Brasil. Elegeu-se senador por Goiás com o apoio de mais de dois milhões de eleitores, nada menos que 75% do total de votos válidos. Após dois mandatos consecutivos como governador do Estado, no qual investiu no atendimento às necessidades sociais da população, o tucano ainda transformou o vice, Alcides Rodrigues, em seu sucessor no governo. Perillo, que já foi deputado federal, retorna ao Congresso como um dos mais jovens senadores da legislatura que começa, com 43 anos. É uma das maiores apostas do PSDB na tarefa de fazer uma oposição consistente ao segundo governo de Luiz Inácio Lula da Silva.

Marcos Pontes

Nasa
Nascido em Bauru (SP), em 1963, o major Marcos Pontes realizou seu sonho de criança ao se tornar o primeiro astronauta brasileiro a ir ao espaço. Sua saga começou oficialmente em 1998 quando foi selecionado para o programa da Nasa, a agência espacial americana. Em 2000, ele já tinha se formado como astronauta e aguardava sua vez para um lançamento previsto para 2009. Contudo, o governo brasileiro pagou US$ 10 milhões para que ele fizesse parte de uma missão russa à Estação Espacial Internacional. Foi assim que, em 30 de março de 2006, o Brasil assistiu pela televisão à emoção de Pontes a bordo da nave russa Soyuz TMA-8 na missão batizada de Centenário em referência à comemoração dos 100 anos do vôo de Santos Dumont no avião 14 Bis.

Marcos Vinicios Vilaça

André Lobo/AJB
Presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL), Marcos Vinicios Vilaça imprimiu à instituição uma “postura metaliterária” em 2006. Ele mesmo explica: “Isso significa a integração da ABL com as diversas faces da sociedade.” Para atingir o objetivo, ele contou com a ajuda da internet. Quando tomou posse, em 2005, o site recebia mensalmente a visita de menos de 50 pessoas. Hoje, a média é de centenas de milhares de visitantes. Também ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), Vilaça se dedica aos assuntos ligados à infra-estrutura. Por sua solicitação o órgão está fazendo uma auditoria no setor aéreo para identificar as causas do caos que se instaurou no País recentemente. Aos 66 anos, Vilaça se divide entre Brasília (onde é a sede do TCU), Rio de Janeiro (sede da ABL) e Pernambuco, seu Estado natal. É autor de Coronel, coronéis, livro escrito há 40 anos e traduzido em diversos idiomas.

Marília Pêra

Claudio Gatti
Uma atriz da estirpe de Marília Pêra não tem anos especiais simplesmente porque toda sua carreira é marcada por grandes acontecimentos. Mas 2006 pode ser considerado um ano de triunfo. Afinal, a peça Mademoiselle Chanel, que começou temporada em 2004, entrou para a lista dos grandes sucessos do teatro brasileiro com mais de 300 mil espectadores. “Por onde ela passa, carrega todo mundo”, diz Marília sobre a personagem da estilista francesa Coco Chanel. O espetáculo teve a temporada carioca prorrogada até fevereiro de 2007 e voltará ao palco paulistano. Em Paris, foi aplaudido na Comédie des Champs Elysées. Antes, a atriz já tinha arrebatado como Carmem Miranda em peça homônima. Também havia roubado a cena como a “perua” Milu da novela Cobras & lagartos, da Rede Globo, e protagonizado um dos melhores momentos da televisão brasileira na minissérie JK interpretando Sarah Kubitschek na cena de sepultamento do ex-presidente Juscelino.

Marilson dos Santos

Andrew Gombert/EFE
Marilson dos Santos, 29 anos, segundo dos três filhos de
uma família pobre de Ceilândia, no Distrito Federal, escreveu em 2006 o seu nome na história do esporte do Brasil e da América Latina. No último dia 5 de novembro, com o tempo de 2h09min58s, ele se tornou o primeiro sul-americano a vencer
a Maratona de Nova York, uma das mais disputadas e respeitadas corridas de fundo do circuito internacional. Foi a 37ª edição da prova. Animado, ele já traça planos para 2007. “Vou trabalhar duro com o meu treinador, Adauto Domingues, para realizar o sonho de conquistar um ouro olímpico nos Jogos de Pequim, na China”, diz Marilson. Bicampeão da corrida de São Silvestre, em 2003 e 2005, o maratonista tem em seu currículo uma medalha de prata, nos 10 mil metros rasos, e uma de bronze, nos 5 mil metros, nos Jogos Pan-Americanos de Santo Domingo, na República Dominicana, em 2003. Antes disso, tinha vencido as Meia-Maratonas das Universidades de 1997, na Itália, e de 1999, na Espanha. O prêmio da vitória em Nova York foi de US$ 130 mil, o equivalente a
R$ 291 mil.

Marisa Monte

Renato Velasco
Depois de seis anos sem lançar CD próprio, Marisa Monte ressurgiu com dois trabalhos novos e simultâneos: Universo ao meu redor e Infinito particular. Foi uma jogada de risco numa época de crise no mercado fonográfico. “Já que me cobraram tanto um disco novo, tinham de ficar felizes com a dose dupla”, disse ela. Acertou na mosca. Ambos os CDs são recordistas: Universo vendeu 270 mil cópias e Infinito, 275 mil. Mais importante que os números foi o sucesso artístico que Marisa alcançou com seus dois discos. O primeiro renova o conceito do samba e mistura com habilidade participações tradicionais (Paulinho da Viola, Monarco e Ivone Lara) com modernas (Fernandinho Beat Box e David Byrne). O segundo tem uma pulsação mais pop e surpreende com a leveza da base de fagote, trompete, violoncelo e violino. Outra curiosidade: para quem é avessa a entrevistas, Marisa saiu da toca repetidas vezes para promover os discos.

Marta Suplicy

Edu Lopes
Depois de perder as prévias do PT ao governo paulista, a ex-prefeita de São Paulo recuperou seu poder político como coordenadora da campanha do segundo turno do presidente Lula à reeleição. Readquiriu, assim, prestígio dentro e fora do PT, credenciando-se para ser interlocutora privilegiada do presidente. Como deputada criou a lei que impôs a cota mínima de 25% de mulheres na lista de candidatos e o projeto de união civil entre homossexuais. Em 1998, perdeu as eleições estaduais, mas dois anos depois bateu Paulo Maluf (PP) sendo eleita prefeita de São Paulo com 3,2 milhões de votos.

Mayana Zatz

Claudio Gatti
Autora de 260 brilhantes artigos científicos publicados em todo o mundo, Mayana Zats é uma pesquisadora incansável. Aos 57 anos, ela é professora titular de genética do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo, onde se graduou e fez doutorado, pós-doutorado e livre-docência. Integra a Academia Brasileira de Ciências e a Academia de Ciências do Estado de São Paulo. Também é coordenadora do Centro de Estudos do Genoma Humano e presidente da Associação Brasileira de Distrofia Muscular. Sua carreira está intimamente atrelada ao estudo dessa moléstia. O interesse surgiu décadas atrás quando ela acompanhou o caso de uma portadora que queria ter filhos. Milhares de casos sucederam-se e, em 2006, Mayana bateu um recorde ao contabilizar 22 mil pacientes atendidos. Com essa marca, ela se gabaritou entre os maiores especialistas do mundo no assunto e sua contribuição pode ser medida pelo aprimoramento no diagnóstico e pelo uso das técnicas de manipulação genética que impedem o nascimento de bebês portadores dessa doença. Sua maior conquista foi a aprovação das pesquisas com células-tronco embrionárias pelo Ministério da Saúde dois anos atrás. Os estudos começam a despontar como a grande promessa para o tratamento das doenças neuromusculares, como a distrofia, moléstias contra as quais ainda não existe cura. Mayana também participou do Projeto Genoma Humano, que em pouco mais de uma década mapeou os genes da humanidade.

Miguel Nicolelis

Max G Pinto
As pesquisas do neurocientista Miguel Nicolelis levaram-no a uma visão humanista da ciência. Sua teoria é a de que o cérebro usa coleções de células que atuam coordenadamente para exercer comportamentos. Essa teoria está na base de seus estudos para entender os mecanismos neurais que levam à produção de comandos motores. Esse conhecimento é importante na pesquisa que faz sobre próteses robóticas. O conceito está sendo analisado por uma rede mundial de cientistas que investiga como o sabor, por exemplo, é codificado pelo cérebro. O seu último feito foi mandar sinais digitais para um chip no cérebro de um macaco para instruir o animal a mover o braço. Faz parte dessa rede o Instituto de Neurociências de Natal, que, além da pesquisa, promove o desenvolvimento humano. “Em 2007 inauguraremos um projeto de iniciação científica infantil. As crianças aprenderão que podem ser cientistas brincando”, diz ele.

MV Bill
Por Eliana Tranchesi*

Alexandre Sant’anna

MV Bill acordou o País ao denunciar o trabalho de menores no tráfico de drogas com o aterrador documentário Falcão – meninos do tráfico. É difícil imaginar como um homem tão grande pode ser tão tímido, mas ele é. Para muitos, mais difícil ainda seria compreender como Bill e Eliana se encontraram. Ele carioca, eu paulistana. Ele é rapper e eu sou fã da Maria Bethânia. Se nossas semelhanças não são aparentes, elas ficam evidentes quando trocamos idéias. O Bill entende que 500 anos de desigualdades sociais fizeram da realidade brasileira um desafio complexo. Quando muitos desanimam diante desse cenário, ele acredita que toda atitude de transformação vale a pena. Compartilho com ele essa visão: se me é impossível acabar com a fome na África, posso ajudar quem está próximo. Trabalhamos juntos para transformar a realidade de crianças, jovens e adultos moradores das favelas do Coliseu e do Real Parque. É um trabalho de “formiguinha”, mas gosto de acreditar que fazemos parte de um grande formigueiro que cresce todos os dias.

* Eliana Tranchesi é empresária

 

 

 

Nelson Freire


Em 2006 o Brasil pôde ouvir o pianista Nelson Freire com profundidade. Ele fez apenas três apresentações (Rio, São Paulo e Minas) mas, em compensação, lançou dois CDs: Brahms: the piano concert (duplo) e Beethoven – sonatas para piano. Mais: sua interpretação de Melodia para cordas e flauta, da ópera Orfeu e Eurídice, de Glück, foi incluída na trilha sonora da novela Páginas da vida. Em 2007 combinou fazer concertos em duo com a colega Martha Argerich, de quem é vizinho em Paris. Perfeccionista, Freire anunciou um repertório surpresa para sua apresentação em São Paulo. Insatisfeito com a sonoridade que estava obtendo para Málaga, de Isaac Albéniz, ele parou, respirou fundo e passou para o Opus 118 nº 2 de Brahms com a maior intensidade possível.

Nizan Guanaes

Ricardo Stuckert
No ano que passou, ele foi um dos grandes destaques da publicidade brasileira. Em 2007, ele é cotado para ser um dos mais notáveis no seu setor. Numa pesquisa publicada em novembro pela revista About, o publicitário Nizan Guanaes foi eleito pelos seus pares como o profissional que mais fez diferença na história da propaganda e, para completar, ganhou o maior número de citações como modelo de profissional do futuro. O sucesso na carreira e o principal fruto da obstinação desse baiano resumem-se a uma palavra tupi-guarani: YPY (“primeiro”). A empresa YPY é hoje o maior conglomerado de publicidade e marketing com capital exclusivamente nacional. Além de sócio, Nizan é o estrategista do grupo, que fecha 2006 com crescimento acima dos 15%. O grupo YPY reúne as agências DM9DDB, MPM, Loducca, Tudo e a Africa. Autor de campanhas marcantes, como as peças “Hitler” e “Pipoca e guaraná”, Nizan planeja para 2007 abrir o capital do grupo YPY.

Olavo Setubal
Engenheiro paulista comanda um dos
maiores grupos empresariais do País

Humberto Franco

O ano de 2007 começa auspicioso para o banqueiro Olavo Egydio Setubal, ex-prefeito de São Paulo e presidente do Conselho de Administração do Itaú e da holding Itaúsa, controladora das empresas Duratex, Itautec Philco e Elekeiroz. No ano passado, o Itaú comprou o BankBoston no Brasil, no Chile e no Uruguai, lucrou R$ 3 bilhões até setembro e ficou mais perto do seu maior concorrente privado, o Bradesco. Um ranking do Banco Central, com dados dos bancos no terceiro trimestre, colocou o Itaú no topo. A lista não levava em conta as operações de seguros, suficientes para manter o Bradesco na liderança do setor privado. Mas foi oportuna para mostrar que o Itaú não brinca em serviço, mantendo viva a tradição de alavancar o crescimento por aquisições, traçada por Setubal há mais de 45 anos. Naquela época, o fundador do Bradesco, Amador Aguiar, já previa que o engenheiro paulista seria seu maior concorrente: “Você vai passar todos os bancos, mas a mim não!” Aos 83 anos, o empresário é a maior estrela de um conselho de grandes nomes – Alcides Tápias, Carlos da Câmara Pestana, Fernão Bracher, Gustavo Loyola, Persio Arida e Roberto Teixeira da Costa – que fazem do Itaú uma máquina incessante de resultados.

Otávio e Gustavo Pandolfo

Claudio Gatti
A exposição O peixe que comia estrelas cadentes, apresentada na galeria Fortes Vilaça, em São Paulo, coroou uma trajetória ímpar nas artes plásticas brasileiras. Seus autores, os gêmeos Otávio e Gustavo Pandolfo, 32 anos, começaram no movimento hip-hop como grafiteiros, mas logo seu traço, de linhas finas em meio a fortes cores, chamou a atenção da crítica, levando a dupla para as principais galerias do mundo. Recentemente os irmãos colaboraram com a parte gráfica do filme Ginga – a alma do futebol brasileiro, co-produzido por Fernando Meirelles e patrocinado pela Nike. Desse encontro surgiu o convite para criarem as animações da série Cidade dos homens, de Meirelles, e o desenho de uma linha de tênis para a Nike.

Padre Marcelo

Max G Pinto
Em 12 anos de sacerdócio, o padre Marcelo Rossi é um dos grandes renovadores da Igreja Católica no Brasil – e ao longo de 2006 consolidou a sua popularidade chegando a reunir 2,5 milhões de pessoas na missa do Dia de Finados, em São Paulo. Além disso, as missas que celebra semanalmente na tevê são transmitidas para 45 países. Padre Marcelo usa seu carisma para popularizar Maria, a mãe de Jesus. Ele já atuou em dois filmes e, em média, cerca de 40 mil pessoas assistem em São Paulo às suas missas no Santuário do Terço Bizantino. “Quero trazer de volta os católicos afastados”, diz. O seu último (e sétimo) CD, Minha bênção, vendeu 300 mil cópias em um mês.

Paulo Autran
Por Fernanda Montenegro*

Claudio Gatti

Vi Paulo Autran pela primeira vez no início dos anos
50, em Deus dormiu lá em casa, peça de Guilherme
Figueiredo. Paulo é um primeiro ator nato, dono de
um dinamismo dimensionado com a sua vocação. Em sua trajetória, optou por um repertório, na sua maioria, de autores clássicos que lhe deram uma vivência única no nosso teatro. Paulo sempre corresponde à proposta cênica que lhe apresentam. Infelizmente, nunca fizemos teatro juntos. Nosso único encontro ocorreu na novela Guerra dos sexos (Rede Globo, 1983). Sempre brinquei com Paulo que precisávamos ter duas platéias para darmos conta do público que nos prestigia há tantos anos. Digo isso no sentido, claro, não de faturar bilheteria, como alguns apressadinhos possam pensar. Mas falo
pela imensa presença e talento do Paulo, que é, no Brasil,
ou seria em qualquer outro país, a referência de teatro.

* Fernanda Montenegro é atriz

Paulo Hartung

Ricardo Stuckert
O governador reeleito do Espírito Santo,
Paulo Hartung, saiu das urnas em outubro
como o segundo mais bem votado do País proporcionalmente. Aos 49 anos, joga o xadrez político de acordo com o momento: hoje está
no PMDB, mas já foi do PSDB, do PSB
e planejou até ingressar no PT. Hartung
chegou ao poder em 2002 com a missão de desencastelar o crime organizado da estrutura de poder capixaba, até então dominada pelo bicheiro José Carlos Gratz. Reorganizou o Estado e amarrou um amplo leque de alianças, do PT ao PSDB. Conseguiu, em 2006, a adesão de 1,3 milhão de eleitores – ou 77,27% dos votos válidos.

Paulo Lacerda

Roberto Castro
No primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cerca de 4,6 mil pessoas foram presas acusadas de serem traficantes, contrabandistas de armas e corruptos de colarinho-branco envolvidos em contrabando, descaminho e sonegação de impostos. Em todas essas ações, a Polícia Federal não disparou um único tiro. À frente dessa PF que apresentou resultados inéditos esteve o delegado Paulo Lacerda, que ganhara fama ao conduzir o inquérito que desvendou o esquema de corrupção montado por Paulo César Farias, o tesoureiro do ex-presidente Fernando Collor, afastado do poder em 1992. Assim, na direção da PF, Lacerda trabalhou bem e entrou para a história da polícia. É verdade que muitos dos presos acabaram inocentados pela Justiça e que muitas ações ganharam ares de pirotecnia, mas nunca se desbarataram tantas quadrilhas no País.

Paulo Marchiori Buss

Gabriel de Paiva/Ag. O Globo
Os esforços do médico gaúcho
Paulo Marchiori Buss para manter
a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz,
no Rio de Janeiro) na eficiente linha de prestação de serviços receberam em 2006 o justo reconhecimento à altura:
a entidade foi considerada a melhor instituição nesse setor pela Federação Mundial das Associações de Saúde Pública. A incorporação de novas
vacinas que passaram a ser produzidas no Brasil (como a tríplice viral) e de medicamentos para hepatite C e anemia decorrente de hemodiálise é contribuição da Fiocruz de imensurável valor ao sistema de saúde do País. Entre outros feitos recentes da Fiocruz estão a regeneração de órgãos pelas células-tronco e o projeto Banco de Leite Humano que está sendo decisivo na redução da mortalidade infantil no País. A Fiocruz é crucial para o Programa Nacional Anti-Aids, considerado modelo em todo o mundo.

Paulo Mendes da Rocha

Max G. Pinto
O arquiteto e urbanista Paulo Archias Mendes da Rocha recebeu em abril o Pritzker de 2006, um prêmio que é considerado o Nobel da Arquitetura. O seu reconhecimento pela comunidade acadêmica internacional legitima assim as consagradas obras desse brasileiro – entre elas o Museu da Escultura de São Paulo, a Pinacoteca do Estado de São Paulo, o Centro Cultural da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo e o pórtico da praça do Patriarca. Esse modernista de 77 anos, 50 deles dedicados à profissão, promete para este ano de 2007 que se inicia outros projetos reunindo a sua “arquitetura limpa”, sintética mas rica em detalhes precisos e planejados. Discípulo de João Batista Vilanova Artigas, Mendes da Rocha traz ainda influências claras do mestre alemão naturalizado americano Mies van der Rohe. Do muro de Berlim às favelas, ele defende projetos que intervenham claramente e racionalmente na cidade. Capixaba de Vitória que adotou São Paulo como sua terra natal, ele costuma ter diversas opiniões polêmicas. Considera, por exemplo, a avenida Paulista um símbolo paulistano, uma “contradição em desastre”.

Paulo Skaf


Após um longo período distante do grande debate econômico, a Fiesp foi resgatada de volta à cena nos últimos três anos. É o resultado do trabalho do empresário Paulo Skaf na presidência da entidade. Em 2007, ele deverá ser candidato único à reeleição e, ainda, assumir por aclamação a presidência do Ciesp. Para dinamizar a entidade, montou um conselho superior de nível ministerial, com nomes como os do economista Delfim Netto, do professor Paulo Renato de Souza, do jurista Sidney Sanchez e do diplomata Rubens Barbosa. Skaf tem travado pessoalmente um combate sem tréguas pela redução dos juros e pelo que considera ser uma taxa de câmbio “mais realista”. Outra de suas brigas é contra a importação indiscriminada de produtos industrializados, notadamente os que vêm da China. Em sua gestão, a Fiesp passou a desfraldar bandeiras de dimensão nacional. “O que é bom para o Brasil é bom para São Paulo”, afirma Skaf. Ele tornou-se, assim, um dos mais influentes interlocutores entre os empresários e o governo federal – e, com a unificação das presidências da Fiesp e do Ciesp, entrará em 2007 com força renovada.

Renan Calheiros

Roberto Castro
Presidente do Senado e, conseqüentemente,
do Congresso Nacional (biênio 2005-2007),
Renan Calheiros é considerado pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) o mais influente entre todos os parlamentares brasileiros. Alagoano de Murici, ele despontou para a política em sua juventude, no movimento estudantil dos anos 70. Em oposição à ditadura militar, Renan se elegeu deputado estadual pelo MDB em 1978, quando ainda era estudante de direito. Após quatro anos ele já desembarcava em Brasília como deputado federal.
Autor da proposta que faculta o voto aos 16 anos,
Renan foi eleito senador em 1994 e, quatro anos depois, quando FHC era presidente da República, assumiu o Ministério da Justiça – e, assim, entrou para a história do Brasil como o mais jovem titular dessa Pasta. Ele foi reeleito senador em 2002. É de sua autoria o projeto que estabeleceu plebiscito sobre a comercialização de armas no País.

Robert Scheidt

Wander Roberto/COB/Divulgação
Com seu barco a vela da categoria Laser,
o paulista Robert Scheidt ganhou duas
medalhas olímpicas de ouro (Atlanta 1996 e Atenas 2004) e uma de prata (Sydney 2000).
Foi eleito o melhor navegador do mundo em 2004 e tornou-se ainda o maior campeão mundial da história do esporte brasileiro, com oito títulos. A partir de 2007, ele assumirá o desafio mais difícil de sua carreira: disputar a vaga brasileira para os Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro e para as Olimpíadas de Pequim em 2008, na sofisticada categoria Star. Terá como adversários ninguém menos do que os cariocas Torben Grael e Marcelo Ferreira, bicampeões olímpicos de Star e dois dos maiores velejadores do mundo na atualidade. “São 15 anos de Laser, mas chegou a hora de mudar, por mais difícil que seja isso”, diz Scheidt.

Roberto Justus

Edu Lopes
O publicitário Roberto Justus, presidente do Grupo Newcomm, não irá mais fulminar os candidatos do programa de tevê O aprendiz com o bordão “você está demitido”. Em 2007, na quarta versão do programa da Rede Record apresentado por ele, Justus irá escolher um sócio, em vez de um funcionário. Não lhe faltam empresas para acomodar mais um talento por meio do show na telinha: o Grupo Newcomm reúne seis companhias: Y&R (que em 2006 manteve a posição de maior agência de propaganda do País), Dez Brasil, Wunderman, Pepper, Ação Produções Gráficas e LongPlay. Dinheiro também não será problema: o futuro sócio irá receber R$ 1 milhão de prêmio. Somente alguém com o perfil de Justus poderia conduzir tão bem a versão brasileira do You are fired, protagonizado nos Estados Unidos pelo empresário Donald Trump.

Roberto Podval

Alan Rodrigues

No índice do Anuário dos 150 maiores escritórios de advocacia do Brasil há todas as áreas do direito, menos a criminal – o anuário não se propôs a abrangê-la. Isso no índice. Na página 152 do livro, no entanto, lá se encontra o nome do advogado Roberto Podval, e ele é criminal. Erro do índice? Não. É que o sucesso de seu escritório por onde passam os casos mais importantes do País e o fato de Podval pisar 2007 como um dos profissionais mais influentes no setor tornam impossível a sua não inclusão entre os melhores do Brasil. Nomeiam o escritório, em São Paulo, os seguintes advogados: Roberto Podval (foto), Beatriz Rizzo, Paula Mandel e Odel Antun. O diferencial é que cada cliente é acolhido e acompanhado por toda a equipe como se fosse o único: de forma individualizada e personalizada. Não é à toa que cada advogado não chama o escritório de escritório – chama-o de “minha casa”.

Roberto Requião

Ricardo Stuckert
Roberto Requião é certamente o governador mais briguento do Brasil.
Uma de suas medidas mais polêmicas foi a proibição do embarque de soja transgênica pelo porto de Paranaguá (PR) sob a alegação de que as empresas de biotecnologia ainda não tinham respostas para o impacto das mudanças genéticas nas pessoas e no meio ambiente. Ele também brigou com o setor financeiro e com as concessionárias de estradas. Advogado, jornalista e urbanista, Roberto Requião de Mello e Silva, 65 anos, nasceu em Curitiba, onde começou sua carreira política em 1982, como deputado estadual. Agora, foi eleito governador do Paraná pelo PMDB pela terceira vez, na mais acirrada disputa do Estado: ele bateu o senador Osmar Dias (PSDB), com apenas 10.479 votos de diferença.

Roberto Smeraldi

Max G Pinto
Fundador da ONG Amigos da Terra, o ambientalista Roberto Smeraldi, 44 anos, encontrou uma forma eficiente de enquadrar as empresas poluidoras, sem piquetes nem protestos. Ele aprendeu a falar a linguagem dos banqueiros e os convenceu a só liberar financiamentos a companhias que têm responsabilidade ambiental. O primeiro banco a se juntar à sua causa foi o ABN-AMRO; seguidos pelo Bradesco, Itaú e Unibanco. Smeraldi conseguiu convencê-los a aderir a um protocolo internacional (Princípio do Equador), que responsabiliza as instituições bancárias que financiam companhias envolvidas em acidentes ambientais. Foi assim que ele colocou contra a parede os principais grupos poluidores. No ano passado, o Banco Real, que tinha quase R$ 3 bilhões em caixa para financiamento de usinas hidrelétricas, linhas de transmissão, gasodutos e outros projetos, negou dois pedidos devido ao não cumprimento de pré-requisitos socioambientais. O HSBC negou sete pedidos. “Quem dirige mal paga mais caro pelo seguro do carro. Queremos criar algo parecido para as firmas que poluem o meio ambiente.”

Rodrigo Pimentel

Hélcio Nagamine
O ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais (Bope) Rodrigo Pimentel deixou a rotina da Polícia Militar do Rio de Janeiro há cinco anos, mas em 2006 voltou à “ativa” através do livro Elite da tropa, escrito em parceria com o antropólogo Luiz Eduardo Soares e André Batista, outro ex-capitão do Bope. A obra revela os bastidores, a corrupção e a truculência da PM fluminense e do Bope, que elaborou até um plano para matar o então governador Leonel Brizola. O ex-PM Pimentel formou-se em sociologia e estreou no cinema com um depoimento no documentário Cenas de uma guerra particular. Ele acredita que hoje cumpre a missão que pretendia quando ingressou na polícia: “Agora sinto que estou realmente colaborando com a segurança pública.”

Rodrigo Santoro

Divulgação
Rodrigo Santoro é, aos 31 anos, um dos homens mais sexies do mundo. Quem anunciou essa “novidade” foi a revista americana People, que o colocou acima de Brad Pitt no ranking dos mais cobiçados. Ultimamente, Santoro vem estudando novos convites para filmes e séries internacionais; o mais recente foi para Lost, o seriado da tevê americana. Participou dos filmes Os desafinados, de Walter Lima Jr., em que interpreta um pianista da época da bossa nova, e Não por acaso, de Philippe Barcisnki, em que faz um fabricante de mesas de sinucas. Lá fora, ele já adicionou ao currículo o épico 300 de Esparta, no qual interpreta Xerxes, o rei persa que lutou contra os gregos na Batalha das Termópilas (480 a.C.). E confirmando a sua fama de latin lover, Santoro foi escalado para o papel de Carlos Gardel no filme El día que me quieras, do mexicano Alfonso Arau.

Roger Agnelli
A liderança da presidência da Vale do Rio
Doce conduziu a mineradora brasileira ao
segundo lugar no ranking mundial do setor
Por Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira*

Prensa Três

Roger Agnelli é um exemplo de executivo
bem-sucedido. Eu o conheço há mais de
20 anos. Ele era muito moço e trabalhava
em operações do mercado de capitais no Bradesco. Eu estava no Grupo Ipiranga, éramos clientes do banco e tínhamos
muito contato. Roger fez uma carreira
brilhante no Bradesco. Na sua gestão como presidente da Vale do Rio Doce, a mineradora se transformou em paradigma de resultados positivos da privatização. Desde que assumiu, em 2001, a Vale só fez aumentar seu valor que, calculo, hoje deve ser quatro vezes maior. Ele também é vice-presidente do sistema Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan). É um workaholic. Entre as características que contribuíram para sua ascensão estão a perseverança e a forma cativante e, ao mesmo tempo, incisiva de lidar com as pessoas. Ele luta pelos interesses da companhia de uma forma muito amável. É pertinaz, inteligente e detalhista. Montou uma equipe muito boa na Vale, valorizou pessoas da própria casa e trouxe personalidades de fora. Roger viaja feito um louco pela Ásia, Europa, África, Canadá e Estados Unidos em busca dos melhores negócios e marcou um golaço com a compra da mineradora canadense Inco. É um paulista que se acariocou: além de freqüentar Angra dos Reis nos fins de semana, comprou um apartamento no Leblon com vista para o mar. Virou um bom carioca paulista.

* Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira é presidente da Federação das
Indústrias do Rio de Janeiro

Sérgio Amado


O publicitário Sérgio Amado começou a vida profissional carimbando ofícios na Prefeitura de Salvador. Formou-se em ciências sociais e história, militou no movimento estudantil contra a ditadura militar, foi preso e exilado. Voltou ao Brasil, trabalhou como jornalista e acabou descobrindo a veia publicitária que o coloca como um dos mais influentes no segmento. Aos 58 anos, encara com valentia e rara competência o desafio de transformar o grupo Ogilvy Brasil na maior empresa de comunicação do País. Quando assumiu o negócio, há dez anos, tudo se resumia a uma única empresa. Uma década depois, são sete. “Éramos apenas a 45ª filial da Ogilvy Wordwide. Hoje, somos a sexta em receitas. E ainda há muito o que fazer”, diz o empresário. Sob seu comando, o grupo cresceu 18% ao ano na última década e tem tudo para dobrar de tamanho até 2010.

Sérgio Cabral

Marcos D’Paula
Político jovem e pragmático, com liderança reafirmada no Estado do Rio de Janeiro, um pé no governo federal e outro na oposição – é com essas credenciais que o governador Sérgio Cabral Filho (PMDB) ascende no cenário político nacional. Eleito com 68% dos votos válidos no segundo turno, Cabral começou a se impor na dança dos governadores com um trunfo poucas vezes visto na história fluminense: uma festejada intimidade com o presidente da República, a quem já pediu ajuda das tropas federais no combate à violência. Foi, ao mesmo tempo, o candidato de Lula e do oposicionista Anthony Garotinho. No segundo turno, ao enfrentar a deputada Denise Frossard (PPS), contou com a adesão de ex-adversários e fez alianças com prefeitos de praticamente todo o Estado. Fez as pazes inclusive com seu notório desafeto Cesar Maia (PFL). A amplitude ideológica é a marca de seu secretariado, com expressões do PMDB, PT, PSDB e PSB. A ex-governadora Benedita da Silva (PT) cuidará dos programas sociais. E o ex-prefeito Luiz Paulo Conde, que o derrotou nas eleições municipais de 2002, será seu secretário da Cultura.

Sérgio Gabrielli

Daniel Wainstein
A auto-suficiência de petróleo, um sonho que parecia impossível, virou realidade em abril de 2006 quando a produção diária da Petrobras atingiu 1,8 milhão de barris. O responsável direto é o presidente da empresa, José Sérgio Gabrielli de Azevedo, que soube executar da forma mais adequada os projetos traçados para alcançar o objetivo. Economista, 57 anos, nascido na Bahia, ele assumiu a presidência em julho de 2005, quando a produção diária era de 1,67 milhão de barris. Ao que tudo indica, 2007 será marcado por novas comemorações. Com a entrada de quatro novas plataformas de petróleo na bacia de Campos, no Estado do Rio de Janeiro, a produção saltará para dois milhões de barris diários. Será mais um passo na blindagem para resistir às turbulências internacionais.

Sônia Braga
Por Hector Babenco*

Marcio de Souza/TV Globo

Só conhecia Sônia Braga pelos filmes e pelo excelente trabalho com Arnaldo Jabor em Eu te amo. Para filmar O beijo da Mulher Aranha, precisava de uma atriz emblemática. Então a chamei para fazer a arquiteta Marta. Mas pensei: se já estou ousando tanto ao fazer um filme limitado a dois atores encerrados numa cela, vou ser radical até o talo. Ela acabou fazendo os três personagens femininos: a atriz alemã Leni Lamaison, Marta e a Mulher-Aranha. Profissional ao extremo, no dia em que filmou nua Sônia tirou a roupa assim que chegou ao set e ficou assim, calma, fumando. Explicou que assim as pessoas se cansariam de olhar para ela, deixando-a à vontade para atuar. Outro dia a vi na tevê. Parecia ter 19 anos. Fez coisas interessantes no rosto e no corpo. Me lembrou O retrato de Dorian Gray.

* Hector Babenco é cineasta

Viviane Senna

Juan Guerra/Instituto Ayrton Senna
O nome da paulistana Viviane Senna virou sinônimo
de trabalho eficiente no Terceiro Setor. Presidente do Instituto Ayrton Senna, ela se notabilizou por ações contundentes e eficazes em defesa dos direitos das crianças e dos jovens. Em 2006, aos 49 anos, Viviane imprimiu práticas de gestão empresarial para conquistar resultados positivos com rapidez na área
de educação pública. Em 2007, pretende aproveitar
sua condição de coordenadora do comitê técnico do Compromisso Todos pela Educação para intensificar
a aplicação dessas propostas. A organização é uma aliança entre representantes da sociedade civil, empresas e governos para efetivar o direito universal
à educação pública de qualidade. O objetivo dessa associação de instituições é oferecer uma boa
estrutura educacional a todas as crianças e jovens brasileiros até 2022.

Yeda Crusius

Paulo Pinto/AE
Que destino pode ter um candidato
ao governo de um Estado que promete
ao seu eleitorado austeridade, momentos difíceis, cortes drásticos de gastos em todos os setores da administração e pouquíssimos investimentos nos primeiros meses de trabalho? No
manual de truques e de boas promessas concebido por qualquer marqueteiro político, uma campanha baseada em temas duros como esses estaria irremediavelmente condenada ao fracasso. Mas foi com esse discurso que a ex-deputada federal Yeda Crusius (PSDB), paulista de nascimento, tornou-se a primeira mulher a governar o Rio Grande do Sul. Pega o Estado em meio a uma das mais profundas crises de sua história, praticamente falido, com um quadro de despesas fixas que ultrapassa em muito a possibilidade de receita. A nova governadora entendeu que de modo algum poderia enganar o eleitor gaúcho sobre a real situação do Estado. E também sobre a capacidade reduzida de investir em novos projetos no período inicial de seu mandato. Prometeu empenho para tentar resolver a situação. Antes mesmo de assumir, propôs um choque profundo de gestão. Os gaúchos se assustaram, mas ela ainda assim não desistiu de colocar as finanças do Estado em dia. Nessa tarefa, a candidata que inovou no discurso promete agora lançar novidades também na administração pública.

Zé Dirceu

Anderson Scheneider

Ele não está mais no centro do tabuleiro, mas sem dúvida continuará, em 2007, a ser uma peça estratégica no jogo político. Que ninguém se engane: José Dirceu, o ex-ministro-chefe da Casa Civil que teve seu mandato de deputado federal cassado pelo plenário da Câmara, está renovando suas áreas de influência. Nos últimos tempos, ele construiu pontes sólidas com a iniciativa privada e, no plano internacional, manteve seu diálogo com líderes europeus e latino-americanos. Dentro do PT, ele segue sendo visto como um de seus principais quadros, dono de forte influência nos momentos decisivos. Ele tem atuado, por exemplo, pela eleição a presidente da Câmara, em 1º de fevereiro, do líder petista Arlindo Chinaglia – e essa candidatura, que muitos davam como perdida, vai ganhando força. A vitória de Chinaglia tornará possível a chance de colocar em discussão uma anistia para os deputados cassados por motivos políticos. Mesmo se isso não acontecer, José Dirceu vai jogar seu jogo, conversando com empresários, fazendo interlocução com o governo, aparecendo no cenário internacional. Um ser político em franco movimento.

 

 

Henrique Meirelles
Durante praticamente todo o primeiro governo, a política do Banco Central de redução lenta e gradual das taxas de juros foi contestada. Até mesmo por alguns setores do PT e do próprio governo. Para Meirelles estabeleceu-se na economia brasileira uma combinação rara de inflação baixa com equilíbrio fiscal. Uma condução que gera segurança nos investidores. Pode frear o crescimento, mas mantém a economia do País sob controle. Agora, tanto Meirelles como o próprio Lula acreditam que o País encontrará o caminho para afrouxar as amarras que a política monetária impõe e voltará a crescer. Os juros, porém, diz Meirelles, são “a carta na manga”, um instrumento a ser usado a cada risco de descontrole. Neste segundo governo, o presidente do BC espera poder usá-lo menos. Mas de forma alguma abrirá mão desse trunfo para evitar algum acidente de percurso.

Henry Sobel
Se apenas uma palavra pudesse definir o rabino Henry Sobel, essa seria, sem dúvida, tolerância. Esse é o traço mais marcante da personalidade deste religioso nascido em Portugal e criado nos Estados Unidos, de onde partiu nos anos 70 para assumir a presidência do rabinato da Congregação Israelita Paulista. Desde então, Sobel tem se destacado na missão de aproximar os judeus de católicos, budistas, ortodoxos e até mesmo dos muçulmanos. O rabino é também um enfático defensor dos direitos humanos, um trabalho que ele pretende reforçar em 2007. Foi histórica sua atuação no episódio do assassinato do jornalista Vladimir Herzog, o Vlado, pela repressão. Sobel se recusou a enterrá-lo na área dos suicidas, confrontando a versão da ditadura de que Vlado teria dado cabo à vida nas dependências do DOI-Codi paulistano. O fato foi relembrado no recente documentário Vlado, 30 anos depois, do cineasta João Batista de Andrade.

Isa Ferraz
O Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, é o único do gênero no mundo. Seu inusitado conteúdo se deve à socióloga Isa Grispum Ferraz. Ela coordenou 30 especialistas para montar um retrato vivo do nosso idioma. Em 2007, o espaço será, sem dúvida, um dos pólos de atração de público no País. Aos 48 anos, a pernambucana, criada em São Paulo, havia realizado vários trabalhos na área de imagem, entre eles a série de documentários O povo brasileiro, de Darcy Ribeiro. Isa realizou ainda, para a Unesco, o projeto multimídia Gênesis com as fotos de Sebastião Salgado e também colaborou com a arquiteta Lina Bo Bardi, tema de um de seus vídeos premiados.

Ivaldo Bertazzo
Coreógrafo, bailarino, professor de dança e de terapias corporais, o paulista Ivaldo Bertazzo acredita que a dança rompe barreiras. Tanto é assim, que em seu grande espetáculo Milágrimas, sucesso em 2006, ele misturou a sonoridade urbana de Nelson Cavaquinho, Milton Nascimento e Itamar Assumpção com a música Isicathamaya da África do Sul, caracterizada pelo canto a capela – ensinado aos 41 jovens do Projeto Dança Comunidade do Sesc-SP pelos africanos do grupo Kholwa Brothers. Bertazzo é mestre nessas fusões. Depois de se iniciar na dança aos 16 anos, ele estudou geometria do movimento na Índia e na Indonésia, fisioterapia na Bélgica e coordenação motora na França. Concluiu que qualquer pessoa pode dançar desde que conheça bem a dinâmica de seu próprio corpo e o seu aparelho locomotor. Na Escola de Reeducação do Movimento, que fundou há 30 anos, Bertazzo desenvolveu o conceito de “cidadão dançante”, origem de mais de 35 espetáculos como Palco, academia e periferia (o penhor dessa igualdade), que envolveu 190 participantes eliminando as barreiras entre erudito e popular, amador e profissional, pobres e ricos.

Jackson Lago
O médico maranhense Jackson Lago escreveu, aos 72 anos, seu nome na história da política nacional. Com alta votação na capital, São Luís, e nas maiores cidades do Estado, “Doutor Jackson” quebrou quatro décadas de vitórias de candidatos apoiados pelo senador José Sarney no Maranhão e elegeu-se governador. Prefeito da capital em três ocasiões, professor universitário, Lago foi pioneiro na realização de cirurgia torácica no Estado. Em 2006, deu as costas ao candidato à presidência de seu partido (PDT), o intelectual Cristovão Buarque, e abraçou a candidatura do petista Luiz Inácio Lula da Silva, também apoiado por sua adversária Roseana Sarney. Deu certo. Agora, assume a árdua tarefa de governar um dos Estados mais carentes do País. Sem dúvida, um grande desafio.

Jaques Wagner
Por Valdir Pires*

Para mim, a eleição e a posse do governador Jaques Wagner transmitirão para o povo baiano um sentimento de Bahia livre, o fim de um longo período de dominação opressiva e atrasada. É como se nos livrássemos de um peso. Sua vitória foi a marca mais forte de um recado das urnas indicando o fim das oligarquias carcomidas. Será um tempo de festa na Bahia. Além disso, Jaques Wagner é uma personalidade, um dirigente, um democrata curtido na luta e forjado pela redemocratização do nosso país. É alguém que terá a sensibilidade social e humana para construir uma política e um governo que unirão a Bahia. Creio que Jaques Wagner fará um governo sério, dedicado à população da sua terra. Parceiro do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ele terá condições de criar uma administração voltada para a inclusão social e para a idéia do desenvolvimento não só da Bahia como de todo a região Nordeste.

Joana Mocarzel
Por Regina Duarte*

Vi a Joana pela primeira vez na apresentação do elenco da novela. Ela estava no colo do Jayme (Monjardim), escondendo o rosto de vez em quando. Abaixei-me e disse um oi meio indeciso. Ela ficou me olhando sem dizer nada, arredia, os flashes iluminando seu rostinho doce. Nosso encontro seguinte se deu no primeiro dia de gravação. “Joana, essa é a sua mamãe Helena da novela”, disseram. Mais tranqüila, ela abriu um sorrisão, correu pra mim e me saudou: “Mamãe Heleninha!” Na primeira cena, Jayme nos estimulou a improvisar caso ela nos surpreendesse com algo não previsto. Não deu outra. Ela diz o que quer. Aceita ou recusa nossas propostas com a maior sinceridade. Adoramos quando ela arremata uma situação com o que já se tornou seu bordão: “Exatamente, mi amor!”

* Regina Duarte é atriz

João Carlos Martins
O talento do brilhante pianista e
maestro João Carlos Martins gerou dois excelentes documentários. O franco-alemão A paixão segundo Martins,
dirigido por Irene Langemann, ressalta
a vida do músico. E dá o tom para outro belo filme, o belga Rêverie (Sonho), de Johann Kenivé e Tim Heirman, lançado em 2006, uma radiografia delicada de sua carreira convincente. Menino prodígio, Martins fez fama com exibições memoráveis em salas americanas, européias e japonesas. O roqueiro inglês Keith Emerson, líder do grupo Emerson, Lake & Palmer, por exemplo, conheceu a obra do argentino Alberto Ginastera ouvindo o pianista. Hoje é seu amigo. Outro deles, o gênio surrealista Salvador Dali, aconselhou-o: “Comece a dizer que você é o maior intérprete de Bach e, em 30 anos, o mundo vai acreditar.” Martins, que em 2007 se dedicará ainda mais ao ensino da regência, nem precisou da estratégia de Dali para atingir esse status. O mundo o reconheceu.

John Neschling
Regente da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp), o maestro John Neschling é descendente de austríacos e sobrinho-neto do compositor Arnold Schoenberg. Criador da Sala São Paulo, inaugurada em 1999 – considerada pelo jornal francês Le Monde uma “catedral de música” –, ele é pianista e autor de diversas trilhas de cinema. Carioca, Neschling estudou em Viena e Nova York, venceu concursos internacionais de regência e em 1996 assumiu o posto de diretor da Osesp – 110 músicos que atualmente realizam em média 130 concertos anuais. Ele mantém uma academia de música e tem seus discos lançados no mercado mundial através da gravadora sueca BIS. Em 2009, Neschling e a Osesp estarão com o saxofonista americano Brandford Marsalis, homenageando o cinqüentenário da morte de Heitor Villa-Lobos.

Jorge Gerdau
Se há um brasileiro que personifica o tipo de crescimento econômico com o qual sonha o presidente Lula, seu nome é Jorge Gerdau Joannpeter. O presidente do Conselho de Administração do Grupo Gerdau foi cotado para ministro do Desenvolvimento, mas não levou. Mesmo assim, o industrial gaúcho continuará exercendo forte influência junto ao presidente no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. Sob sua liderança desde 1983, o Grupo Gerdau tornou-se um gigante siderúrgico, com faturamento de US$ 10,9 bilhões em 2005. No final de 2006, Gerdau passou a presidência executiva do grupo para seu filho André. Estaria se preparando para novos vôos?

José Alencar
Poucas vezes na história da República um vice-presidente teve um perfil tão complementar ao do titular. De origem humilde, mas com uma trajetória profissional que o transformou em um dos maiores e mais ativos empresários do País, o ex-senador mineiro José Alencar representa a voz e a força da iniciativa privada ao lado do presidente de origem operária e sindical. No primeiro mandato, Alencar conseguiu ser ao mesmo tempo leal a Lula e fiel às suas convicções. Brigou contra os juros altos, insistiu pelo crescimento econômico e não fugiu de discussões polêmicas. Tudo com equilíbrio. Assim, valorizou a vice-presidência e teve seu papel reconhecido. Agora, depois de nova dobradinha vitoriosa com Lula, terá a partir de 2007 mais quatro anos para cumprir o seu importante papel.

José Júnior
Criado na favela de Vigário Geral, no Rio de Janeiro, o idealizador do grupo de música e ação cultural AfroReggae, o carioca José Júnior, tem bons motivos para comemorar o ano que passou. Seus pupilos lançaram o primeiro DVD, Nenhum motivo explica a guerra, fizeram sucesso como tema do documentário americano Favela rising e receberam o Prêmio Madanjeet Sing, criado pela Unesco para incentivar o combate à violência e à intolerância. O AfroReggae surgiu em 1993, depois que 21 pessoas foram barbaramente assassinadas na favela, no episódio batizado como Chacina de Vigário Geral. A partir daí, moradores da comunidade iniciaram o projeto, que envolve os jovens da favela com trabalhos artísticos para mantê-los longe do tráfico de drogas. Eles costumam dividir o palco com fãs ilustres da MPB, entre eles os cantores e compositores Caetano Veloso e Fernanda Abreu.

José Mindlin
Por Boris Schaidermann*

Com seu amor pelos livros, sua biblioteca com cerca de 40 mil títulos, José Mindlin mostra a importância de ser um leitor apaixonado. Sua paixão pela literatura começou cedo. Foi um grande industrial, tornou-se um homem de posses e poderia ter tido uma experiência bem diferente. Mas voltou-se para a leitura de forma intensa. Mindlin, 92 anos, é o terceiro entre os quatro filhos de um casal de imigrantes russos que veio para o Brasil no final do século XIX. Em seu acervo estão preciosidades como o manuscrito de Vidas secas, de Graciliano Ramos. Há também O amor natural, de Carlos Drummond de Andrade, um livro erótico do qual Mindlin mandou imprimir apenas um exemplar. É um grande exemplo. * Boris Schaidermann é escritor.

* Boris Schaidermann é escritor

José Roberto Arruda
Em 2001, ele foi ao fundo do poço. Participou com o senador baiano Antônio Carlos Magalhães de uma trama para violar o sigilo do painel eletrônico do Senado, na votação da cassação do colega Luiz Estevão, e mentiu ao negar qualquer envolvimento. Flagrado, renunciou para também não ser cassado. Desde então, vestiu-se de profunda humildade. De porta em porta, com impressionante sinceridade, admitiu o erro no ano seguinte e pediu ao eleitor uma segunda chance. Foi atendido e saiu das urnas como o deputado federal mais votado do Distrito Federal. Era o início da ressurreição política que o credenciaria como favorito para a sucessão do governador do DF, Joaquim Roriz. Dito e feito: Arruda elegeu-se no primeiro turno. Agora, enfrentará os problemas das cidades-satélites do DF e o rigor de um dos mais exigentes eleitorados do País.

José Sarney
O senador é um dos principais conselheiros de Lula.
Artífice da coalizão política que dá sustentação ao
novo governo, é um homem com experiência
no comando do País e alto poder de decisão

O ex-presidente José Sarney enxerga o presidente Luiz Inácio Lula da Silva como o resultado exitoso de um ciclo de redemocratização que ele iniciou. O governo Sarney sepultou a ditadura militar e fez o País retornar à normalidade civil em que os governantes são escolhidos pelo voto direto de seus representados. A vitória de um operário é, em sua opinião, a certeza de que não há mais obstáculos de qualquer natureza a essa escolha. E a sua volta ao poder para um segundo mandato, o reforço dessa tese. Com essa linha de argumentação, o maranhense José Sarney – senador reeleito e escritor com cadeira na Academia Brasileira de Letras – transformou-se em um dos principais conselheiros do presidente. Hoje é um dos nomes mais próximos dele. Calejado por várias crises durante o período em que esteve na Presidência (1985-1990), suas ponderações foram essenciais para que Lula conseguisse superar a crise do mensalão. Sarney é também um dos artífices da tese da coalizão política que sustentará o segundo governo, tendo seu partido, o PMDB, como um dos pilares fundamentais. É bem verdade que parte de sua força desmoronou em 2006. Sua filha, Roseana, não conseguiu se eleger governadora, derrubando o poder da oligarquia dos Sarney no Maranhão. O próprio Sarney por pouco não perdeu a chance de se tornar mais uma vez senador pelo Amapá. Porém é sua relação com Lula e sua capacidade de decisão que vão mantê-lo como um dos mais importantes políticos da República.

 

Os fatos que determinarão os destinos da vida nacional em 2007 ainda estão por acontecer. Mas muitos de seus protagonistas podem desde já ser identificados, em razão de históricos pessoais e de idéias defendidas nos últimos tempos. Do saboroso mundo da gastronomia aos enigmas da macropolítica, passando pela riqueza cultural e pelos desafios de uma economia que precisa crescer aceleradamente, a equipe de jornalistas de ISTOÉ selecionou uma centena de brasileiros que certamente irão influenciar o ano que agora começa. Uma tarefa que demandou semanas de pesquisas e discussões acaloradas nas reuniões de redação. Com certeza, os escolhidos são, cada um com seu estilo, pessoas que fazem e já fizeram a diferença em suas áreas de atuação. Alguns textos foram escritos por personalidades tão marcantes quanto os eleitos. Confira nas próximas 64 páginas desta edição quais são, o que fazem e o que planejam para 2007 esses notáveis 100 brasileiros.

Aécio Neves
Com berço político, sobrenome histórico e cargo de peso, o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, está em todas as bolsas de apostas para a sucessão do presidente Lula. Não é pouco, mas muitos outros fatores farão de Aécio um dos nomes mais influentes do País neste 2007. À frente de seu segundo mandato em Minas, ele sinalizou no discurso de posse que vai expor cada vez mais seus laços com o avô, o presidente Tancredo Neves, falecido em 1984. Com isso, pretende ter absoluto controle sobre o eleitorado mineiro, o segundo maior do País, e conservar abertas as portas de diferentes partidos políticos para seu projeto presidencial. Aécio tem na cautela e na segurança as suas principais características políticas. Sem pressa, evita gestos precipitados e não entra em bolas divididas. Foi assim que se tornou presidente da Câmara dos Deputados mesmo sem ser, à época, o nome preferido do então presidente Fernando Henrique Cardoso. É assim que planeja chegar à Presidência da República. Em 2010, de preferência, ou em 2014, dentro de um acordo político no PSDB com o governador de São Paulo, José Serra.