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Para um país que não tem tradição em formar atletas (a não ser em futebol), a realização de dois grandes eventos na área – a Copa do Mundo de 2014, em várias cidades brasileiras, e os Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro – dará ao esporte uma visibilidade sem precedentes e incentivará desde já a formação de profissionais na área. É isso que esperam especialistas do setor. Para eles, os megaeventos são, no mínimo, a oportunidade de provocar um movimento de difusão da prática do esporte educacional. Isto é, ter professores especializados atuando com o objetivo principal de formar bons cidadãos. Em segundo plano, vem a possibilidade de transformar talentos em grandes campeões e assim turbinar a participação nacional em competições de alto nível. A essência do trabalho de um professor de esporte educacional, no entender do Instituto Esporte & Educação (IEE), da ex-jogadora de vôlei e medalhista olímpica Ana Moser (bronze em Atlanta- 1996), é “alcançar o desenvolvimento integral do indivíduo”. Criado e desenvolvido em sistemas de educação formal e nãoformal e sem seguir os padrões das federações internacionais das modalidades esportivas – adaptando regras, estruturas, espaços, materiais e gestos motores de acordo com as condições sociais e pessoais –, o esporte educacional não é seletivo nem muito competitivo. A ideia é trabalhar habilidades e competências de crianças e jovens, para além do aprendizado das técnicas, e também ensinar sobre saúde, cidadania, cultura e comunidade.

Os professores da área planejam, ministram e avaliam aulas para crianças e jovens e organizam eventos esportivos junto com os alunos para a comunidade. Mas justamente esses profissionais andam em falta. A demanda é grande e a formação ainda é um desafio no Brasil. “A formação acadêmica em educação física ainda centra o foco no esporte de rendimento, que é divulgado pela mídia e conhecido pelo senso comum”, explica Isabel Cristina Moser, gerente do IEE. “A maioria dos professores universitários das modalidades esportivas são exatletas de alto rendimento, até porque servem como marketing das instituições de ensino superior”, completa. “Alguns cursos de pós-graduação conseguem sanar lacunas e desenvolver competências para as funções de professor de esporte educacional, como o criado por nós [IEE], de Esporte sócio-educativo, que visa formar este profissional”, diz Isabel. “Entendemos que a formação em serviço e continuada é o melhor formato e por isso desenvolvemos cursos assim em parceria com diversas cidades do país.” Em sua opinião, uma carreira que oferece salários entre R$ 2 mil e R$ 4 mil mensais tem tudo para deslanchar em um futuro breve. “O Brasil é um país em desenvolvimento e é inevitável que, com o crescimento econômico e democrático, os direitos dos cidadãos sejam respeitados – e o esporte é um direito de todos previstos na Constituição”, afirma. “A Copa do Mundo e as Olimpíadas colocarão o esporte no centro das discussões e debates.”

Para o esporte educacional, o primeiro objetivo é formar cidadãos; em seguida, vem a possibilidade de aperfeiçoar talentos para transformá-los em campeões

Em âmbito mundial, a Federação Internacional do Futebol (Fifa) já entendeu que formar profissionais para o esporte tem retorno certo. Desde 2001, a entidade promove um curso de pósgraduação em parceria com o International Center for Sport Studies. O programa é voltado para quem pretende se especializar nas áreas de marketing e gestão do esporte. Os 30 alunos selecionados mundialmente a cada ano também recebem formação em economia, direito esportivo e humanidades. Ministrado em três fases – nas universidades Demontfort, em Leicester, na Inglaterra, SDA Bocconi, em Milão, na Itália, e Neuchâtel, na Suíça – o curso é concorridíssimo (neste ano as inscrições terminam no final de janeiro, www.fifamaster.org). Os profissionais formados são rapidamente absorvidos por clubes e associações no mundo inteiro. Dos 15 brasileiros já formados até hoje pelo programa, apenas quatro voltaram para trabalhar no país.