O ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair será submetido nesta sexta-feira a um interrogatório público sobre sua decisão de envolver o Reino Unido na impopular guerra do Iraque, que empanou seus últimos tempos no poder e que ainda hoje continua dividindo os britânicos.

Blair falará ante a comissão que investiga a polêmica participação na guerra do Iraque.

Blair, muito criticado por ter mantido seu país nesse conflito, comparecerá durante um dia inteiro para justificar a decisão mais controversa de sua passagem por Downing Street (1997-2007) ante o painel presidido por John Chilcott.

A decisão de levar seu país à guerra fez Blair – aliado incondicional de George W. Bush – bater recordes de impopularidade e foi um dos principais fatores que o levaram a abandonar a chefia de governo em 2007.

Ainda hoje, apesar de terem se passado sete anos, Tony Blair ainda é muito criticado por ter comprometido 45.000 soldados no conflito, apesar da falta de uma resolução da ONU e da oposição da opinião pública. Esta decisão, denunciada por vários aliados europeus, entre eles a França, havia contribuído para sua impopularidade crescente no próprio país.

Blair relançou a polêmica mês passado, admitindo na BBC que ele acompanhou os Estados Unidos de George W. Bush na guerra no Iraque para derrubar Saddam Hussein, mesmo de posse do conhecimento de que Bagdá não dispunha de armas de destruição em massa (ADM).

Seu ex-chefe de gabinete, Jonathan Powell, confirmou que Blair havia prometido apoiar os Estados Unidos, durante um encontro com Bush em seu rancho de Crawford, em 2002. No entanto, Powell desmentiu que seu ex-patrão tivesse nesta ocasião assinado um "pacto de sangue" com o dirigente americano para uma invasão do Iraque.

Seu comparecimento despertou tanta expectativa que foi preciso sortear entre mais de 3.000 pessoas as 80 cadeiras disponíveis para o público, na sala de audiências, instalada no centro da capital.

Também assistirão 22 familiares dos 179 militares britânicos que perderam a vida no Iraque, desejosos de conhecer "a verdade" sobre o conflito.

No exterior, a coalizão pacifista Stop the War, que em 2003 levou um milhão de britânicos às ruas de Londres, convocou um protesto.

Sete anos depois da intervenção, 52% dos britânicos acham que Blair os "enganou" fazendo-os crer que o Iraque possuía ADM, as armas de destruição em massa que nunca foram encontradas.

As testemunhas, que se sucederam ante o painel desde novembro, admitiram que o informe – que a BBC acusou Blair de haver alterado – era impreciso. O ex-titular das Relações Exteriores, Jack Straw, chegou a chamá-lo de "erro" porque omitia o fato de que não se referia a mísseis.

Alguns altos funcionários e ex-ministros não ocultavam o desejo de ver Saddam Hussein afastado do poder.

A comissão prometeu interrogar Blair "detalhadamente sobre numerosos pontos", deixando claro, no entanto, que não julgaria ninguém.

A comissão Chilcot deve anunciar suas conclusões no final deste ano.