FRIDA KAHLO – CONEXÕES ENTRE MULHERES SURREALISTAS NO MÉXICO/CAIXA Cultural Brasília, DF/ até 5/6

Quando as amigas Frida Kahlo e María Izquierdo começaram a pintar, no começo do século 20, o México atravessava um período de convulsão social que rapidamente se converteu em uma Revolução liderada pelas classes camponesa e indígena, derrubando a ditadura que se mantinha há 34 anos no poder. No rastro das reformas idealizadas pela Revolução, surgiu o Movimento Muralista, estimulado pela concepção do Ministério da Educação de que a estética constitui o estágio mais avançado de uma sociedade. Os muralistas tiveram um papel fundamental na democratização da arte moderna, na valorização das tradições indígenas do país e na comunicação dos ideais revolucionários ao povo mexicano. Mas não haviam artistas mulheres entre seus integrantes. Tampouco havia naquele momento galerias para exibição comercial e os espaços oficiais eram majoritariamente reservados à pintura de “Los três grandes” Rivera, Orozco e Siqueiros. Frida Kahlo era então conhecida como esposa de Diego Rivera.

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ESPELHO POLÍTICO
Como em ”Autorretrato com Collar”, pintura de 1933, Frida Kahlo provocou com
seus retratos o debate sobre cultura e resgate da tradição popular, algo que
antes ficava restrito aos círculos masculinos da arte mexicana

Foi a galerista Inés Amor que começou a mudar a história da arte local quando abriu, em 1940, a Galeria de Arte Mexicana, com uma exposição coletiva reunindo a vanguarda surrealista internacional, que naquele momento incluía Frida, Alice Rahon e Remedios Varo, entre outros trabalhos de artistas mulheres, ao lado de suas contrapartes masculinas. Elas estão hoje entre as 15 artistas nascidas ou radicadas no México que integram “Frida Kahlo – Conexões entre Mulheres Surrealistas no México”, mostra idealizada pelo Instituto Tomie Ohtake, que passou por São Paulo, Rio e agora chega a Brasília. Com curadoria da historiadora da arte Teresa Arcq, a mostra ressalta a importância desse grupo para o resgate das tradições ancestrais mexicanas e da cultura indígena.

Frida está no centro desse debate. Toda sua obra, do autorretrato à representação da natureza fantástica, está dedicada à exposição da intimidade e à revelação de temas secretos e de tabus como sexualidade e morte. A artista usava a natureza-morta como narrativa erótica – como aparece na tela “La Novia que se Espanta al Ver la Vida Abierta” (1943) – e exibia o próprio corpo, seus desejos, dor e prazer, de maneira explícita ou simbólica – como em “Frida Y el Aborto” (1932).

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NATUREZA VIVA
Acima, ”Artes 110”, de Leonora Carrington. Abaixo, ”La Novia que se
Espanta al ver la Vida Abierta”, de Frida Kahlo. Para as artistas, a
cozinha era ”um lugar de reapropriação dos poderes femininos”

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A curadora descreve que as amigas e cúmplices Frida Kahlo e María Izquierdo subvertiam os gêneros artísticos, denominando as naturezas-mortas de “naturezas-vivas”. Elas tinham a cozinha da Casa Azul de Kahlo como ponto de encontro e “lugar mágico de reapropriação dos poderes femininos, onde os processos de preparo dos alimentos equiparavam-se aos da pintura”.

Com pinturas, fotografias e uma deslumbrante coleção de roupas, a exposição se organiza como uma celebração do consistente discurso que essas artistas articularam sobre a identidade da mulher moderna, exaltando a cumplicidade em torno de temas de natureza mágica, espiritual, mas também política. O povo mexicano, retratado pelo movimento muralista, aparece na pintura de Frida e das surrealistas de forma mais visceral e intimamente engajada. Talvez por isso a história esteja sendo reescrita. Hoje Diego é lembrado como marido de Frida.

Fotos: Gerardo Suter/Banco de México Diego Rivera & Frida Kahlo Museums Trust; Leonora Carrington 


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