Em desespero para impedir a oposição de alcançar os 342 votos necessários para apeá-la do poder, a presidente Dilma Rousseff transformou corredores e gabinetes da Câmara dos Deputados e do Palácio do Planalto em verdadeiros balcões de negócios. A exatos 6,5 quilômetros do Congresso, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também participa da articulação e seu quarto de hotel foi convertido em sala de negociações, por onde passam a toda momento ministros e lideranças partidárias. No vale-tudo para escapar do impeachment, a presidente e o antecessor sem qualquer pudor entregam tudo para quem se dispor a ajudá-los a permanecer no poder.

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O governo tem negociado até o que não tem. No contexto da crise econômica atravessada pelo País, o que Dilma e Lula promovem a céu aberto é, para dizer o mínimo, escandaloso: são mais de 600 cargos em jogo e R$ 50 bilhões em emendas parlamentares, valor correspondente a quase duas CPMFs. Nos últimos dias, emissários do Planalto buscaram uma abordagem individualizada junto aos deputados. Por cada voto favorável ao governo estariam sendo oferecidas emendas de até R$ 1 milhão para a construção de obras no reduto eleitoral de cada parlamentar. Já para quem simplesmente se prestar a faltar à votação, o valor seria de R$ 400 mil. Inclusive, como raros são os aliados que acreditam que o Planalto vá conseguir os 172 votos necessários para manter a chefe do Executivo no cargo, a aposta principal será justamente essa: jogar todas as fichas na tentativa de esvaziar o quórum pró-impeachment. Oposicionistas estimam que cerca de 40 votos estejam ameaçados com possíveis abstenções. Em tom irônico, o deputado Vítor Valim (PMDB-CE) chegou a discursar em plenário, alertando o Departamento Médico da Câmara para um possível surto de virose entre os deputados, no dia da votação, prevista para a segunda semana de abril, que causaria o “desaparecimento” de congressistas. “Parece que uma grande bactéria vem aí”, denunciou o cearense o que, de fato, seria mais um escárnio, como se a população não fosse entender a jogada. É o óbvio ululante. Os eventuais ausentes da votação do impeachment incluem-se no mesmo grupo dos que dizem “não” ao afastamento de Dilma, com uma diferença crucial: os que faltarem virarão as costas de maneira covarde à população.

Para sobrar dinheiro para o despudorado toma lá, da cá, que um dia em entrevista em rede nacional Dilma jurou ter abolido das práticas governamentais, o governo tampouco hesita em sacrificar suas principais bandeiras. Cortou R$ 4,27 bilhões da Educação e diminuiu em mais R$ 3,21 bilhões os recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), carro-chefe da campanha presidencial, segundo o decreto de programação orçamentária divulgado na última quarta-feira 30, no Diário Oficial da União. O ministério da Saúde também sofreu uma redução emblemática, de R$ 2,37 bilhões. Isso tudo para preservar bilhões previstos em emendas parlamentares para 2016.

Com o desembarque do PMDB do governo, o Planalto também se vale de sete novos ministérios e cerca de 600 cargos de segundo e terceiro escalão para negociar. Os mais beneficiados devem ser siglas como PP, PR, PSD, PDT, PTB, PRB, PROS e alguns nanicos que, juntos, podem garantir a Dilma até 200 votos. Já o PT, partido da presidente, e o PCdoB, seu aliado fiel, correm o risco de perder mais espaço no governo para fortalecer essas siglas. Mas isso não importa, nem mesmo para o PT, quando o objetivo principal é a de se manter a todo custo no comando do Planalto. No raciocínio petista, eles perdem agora, para ganhar mais à frente.

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Cada vez mais encrencado na Operação Lava Jato, da Polícia Federal, o PP pode acumular o Ministério da Saúde, oferecido ao senador Ciro Nogueira (PI), com o comando da Integração Nacional e ainda pleiteia a presidência da Caixa Econômica Federal e do Departamento Nacional de Obras contra a Seca (Dnocs). Já o PR, que hoje controla o Ministério dos Esportes, até o momento é o mais cotado para assumir também a pasta de Minas e Energia.

Filho do senador paraense Jader Barbalho, o ministro de Portos, Helder Barbalho (PMDB-PA), deve seguir no cargo. Ambos buscam manter o apoio do PT para vencer a disputa pelo governo do estado do Pará, em 2018. Aliado do líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (RJ), o ministro de Ciência e Tecnologia, Celso Pansera (PMDB-RJ), também tem chances de seguir no posto. O mesmo vale para a senadora Kátia Abreu (PMDB-TO), referência sobretudo na bancada ruralista e amiga pessoal de Dilma, que deve permanecer à frente da Agricultura. Ao todo, os três ministérios somam um orçamento de R$ 28,7 bilhões. O PRB já abandonou Dilma, mas o senador Marcelo Crivella entrou de cabeça nas negociatas para, talvez quem sabe, garantir uns votinhos para Dilma. Em contrapartida, acertou com o governo a redução de impostos para templos religiosos.

Um dos nós ainda não desatados é sobre como acomodar o PSD, que reivindica mais espaço para além do Ministério das Cidades, atualmente nas mãos de Gilberto Kassab (SP). O nome favorito do Planalto é o do ex-ministro Guilherme Afif Domingos, que poderia assumir a Secretaria da Aviação Civil. O baixo orçamento da pasta, com apenas R$ 600 milhões, somado à visão de que Afif seria uma indicação de Dilma e não da bancada, emperram as negociações. Não apenas isso. Nos bastidores, Kassab já avisou extraoficialmente que será o próximo a abandonar o barco.

Fotos: Marcos Oliveira/Ag. Senado; Adriano Machado/AG. ISTOÉ; Moreira Mariz/Ag. Senado 


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