Natureza Franciscana/ Museu de Arte Moderna de São Paulo, SP/ até 5/6

 
Natureza Franciscana dá sequência ao programa de exposições que o MAM SP realiza há vários anos sobre arte e ecologia. Reunindo 37 obras, entre peças da coleção do museu e empréstimos, a mostra parte do pressuposto que Francisco de Assis pode ser considerado fundador da ecologia. A afirmação é do curador e diretor do MAM, Felipe Chaimovich, estudioso da obra do religioso há 15 anos. Segundo o curador, depois da morte de Francisco de Assis, em 1226, os franciscanos participaram ativamente da invenção da perspectiva, a partir de seus estudos da geometria da luz. 
 
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Corpos celestes: Imagem de Wolfgang Tillmans (acima);
abaixo “Vénus Bleue”, de Yves Klein
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Eles seriam precursores dos estudos ecológicos na medida em que “incentivaram um novo olhar para o universo, enxergando nele traços de uma mesma geometria que uniria o pensamento humano aos elementos naturais”. Além de religioso, precursor do pensamento científico e ecologista, Francisco de Assis era um trovador. Assim, o eixo narrativo da exposição se organiza de maneira delicada e original ao longo da letra da canção de amor “Cântico das Criaturas”, que integra as fases da vida aos elementos da natureza. 
 
A mostra abre de maneira vigorosa relacionando o verso de louvor ao Irmão Sol com os 12 livros da série “I Got Up” (1968-1979), de On Kawara. Os livros foram doados ao MAM SP em 2015, pelo filho do importante artista japonês, um ano após sua morte. Segundo Chaimovich, o doador aprovou com interesse a inclusão da obra no contexto de uma exposição sobre ecologia. “Ele nos afirmou que On Kawara tinha forte relação com a ciência e que a ecologia está presente nos ciclos do sol, descritos em seus calendários”. 
 
A série I Got Up é composta por cartões postais enviados diariamente para amigos e familiares desde vários lugares do mundo. Além do nome e endereço do destinatário, o único texto é a frase I GOT UP AT (Eu despertei às…), em letras capitulares, com o devido horário em que o artista levantou da cama. No segmento dedicado às estrelas, a mostra apresenta uma impactante seleção da série de fotos realizadas pelo artista alemão Wolfgang Tillmans no maior observatório astronômico do mundo, no Chile. 
 
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Encubação: Obra de Shirley Paes Leme, de 1998

 
O recorte, realizado pelo curador juntamente com o artista, justapõe imagens do céu estrelado e dos aparelhos de observação e de interpretação de dados. O resultado tem o porte de uma exposição individual. Outro momento alto é Vénus Bleue (1960), de Yves Klein, obra emblemática do momento em que o artista francês salta da tela e da escultura como suportes para a performance “Antropometrias do azul”. O busto da Venus de Milo pintado de azul é efetivamente o momento de passagem de uma arte como representação do corpo para a arte corporal. Também estão muito bem colocadas obras já conhecidas do publico brasileiro frequentador de arte contemporânea. 
 
As fotos de coletas de maresia, orvalho e neblina, de Brígida Baltar, conversam bem com as louvações à irmã água; e os desenhos feitos com vestígios de fumaça sobre papel e acrílico, de Shirley Paes Leme, criam relações insuspeitas com o irmão fogo. Completa e arremata esta exposição-dedicatória aos Cânticos de São Francisco a audioinstalação “Tudo Aqui” (2015), de Chiara Banfi. A composição de 30 minutos, com vocais de Chiara Banfi e Gabriela Riley e música de Kassin, fala das plantas que florescem uma única vez e morrem num ciclo radical de vida. Funciona como um elo mágico entre todos os elementos representados.


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